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Animais espontaneamente hipertensos (ratos SHR) como modelo experimental de TDAH
Reinaldo N. Takahashi
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
 

Departamento de Farmacologia, CCB, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis SC

O TDAH é um dos transtornos psiquiátricos mais comuns em crianças e é caracterizado por sintomas como desatenção, impulsividade e hiperatividade, além de ser considerado um fator de risco para o consumo de drogas, incluindo o álcool. Uma parcela significativa dos pacientes com TDAH continua a sofrer com a doença na idade adulta. Um modelo animal ideal deve ser similar ao transtorno em termos de etiologia, bioquímica, sintomatologia e tratamento. Modelos animais apresentam várias vantagens em relação à pesquisa clínica: sistema nervoso mais simples, comportamentos interpretados com maior facilidade, homogeneidade genética, controle adequado do ambiente e grande variedade de intervenções. Os ratos espontaneamente hipertensos (SHR) têm sido considerados, até o momento, o modelo animal mais completo no estudo do TDAH por apresentarem características comportamentais que se assemelham aos aspectos fundamentais da doença. Na presente apresentação, serão comentados alguns resultados obtidos em nosso laboratório evidenciando que modelos animais contribuem para simplificar e promover a compreensão de distúrbios do sistema nervoso na clínica.

Basicamente o estudo pode ser compreendido como uma avaliação de manipulações farmacológicas e não-farmacológicas em uma variedade de testes comportamentais. Experimento 1: Ratos SHR e Lewis (ratos controle) receberam, durante a adolescência (dia 23-38 pós-natal), tratamento crônico (2 vezes por dia, durante 14 dias, i.p.) com solução controle ou metilfenidato (MFD; 2 mg/kg), a droga mais prescrita para tratamento do TDAH, e o comportamento dos ratos foi observado na vida adulta. Neste experimento, os ratos SHR apresentaram maior locomoção em ambientes novos e aversivos, maior consumo de sacarina e de álcool em comparação aos ratos Lewis. Entretanto, nenhum parâmetro comportamental foi alterado pelo tratamento com MFD. Experimento 2: Ratos SHR e Wistar (ratos controle) foram criados em ambiente enriquecido (contendo objetos plásticos, túneis, escadas, rodas, etc) ou em ambiente padrão do dia 21 pós-natal até os animais se tornarem adultos (3 meses). Ratos SHR exibiram déficit de aprendizado no teste de reconhecimento social e no labirinto aquático comparados a ratos Wistar. O desempenho dos animais melhorou significativamente pela exposição ao ambiente enriquecido. Em suma, nas nossas condições experimentais, o tratamento crônico com MFD durante a adolescência não alterou o comportamento dos ratos SHR na vida adulta, sugerindo que este tipo de tratamento pode ter eficácia limitada em prevenir algumas alterações comportamentais observadas na vida adulta. Por outro lado, uma abordagem não farmacológica, tal como o enriquecimento ambiental durante o desenvolvimento, produziu significante melhora cognitiva dos animais SHR sugerindo que a manipulação do ambiente pode constituir uma alternativa terapêutica na prevenção dos déficits cognitivos observados em TDAH. Apesar da aceitação dos animais SHR como modelo de TDAH os nossos resultados evidenciam algumas limitações, por exemplo a presença de hipertensão como fator de interferência.

Apoio: CNPq

Palavras-chave: TDAH; impulsividade; hiperatividade.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006