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C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 3. Ecologia Terrestre

AGREGAÇÃO DE NINHOS DE Epicharis (Epicharis) bicolor Smith, 1854 (APIDAE, CENTRIDINI) E SEUS INIMIGOS NATURAIS

Léo Correia da Rocha Filho 1
Cláudia Inês da Silva 2
Solange Cristina Augusto 2
Maria Cristina Gaglianone 3
(1. Departamento de Zoologia, Universidade Federal do Paraná - UFPR; 2. Instituto de Biologia, Universidade Federal de Uberlândia - UFU; 3. Laboratório de Ciências Ambientais, Universidade Estadual do Norte Fluminense )
INTRODUÇÃO:

           O gênero Epicharis está presente em diversos ecossistemas, sendo que no bioma Cerrado apresenta uma grande diversidade. Abelhas pertencentes a este gênero são solitárias, escavam seus ninhos no solo e constituem um grupo de espécies de diversidade não muito expressiva, que se distribui por quase toda a América do Sul, indo até o México. São conhecidos os hábitos de nidificação de Epicharis fasciata; Epicharis flava; Epicharis obscura; Epicharis zonata; Epicharis metatarsalis; Epicharis analis; Epicharis melanoxantha; Epicharis dejeanii e Epicharis nigrita.

           Epicharis bicolor ocorre em quase todo o Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, aparecendo também em alguns estados do Nordeste, em regiões ocupadas pelos biomas de Cerrado e Caatinga.

O presente trabalho teve como objetivo um estudo de alguns aspectos dos hábitos de nidificação de Epicharis bicolor e identificar seus inimigos naturais. 

METODOLOGIA:

O estudo foi desenvolvido durante os meses de setembro de 2003 a dezembro de 2004, na RPPN do Clube Caça & Pesca Itororó de Uberlândia, MG (18º55’ S e 48º17’ W), distante aproximadamente 10km oeste do centro da cidade. A Reserva possui uma área total de 127 hectares, com predomínio de áreas de cerrado sensu stricto. O clima da região caracteriza-se por duas estações bem definidas: uma seca e outra úmida, sendo comum a ocorrência de geadas durante o inverno. Os índices pluviométricos oscilam anualmente em torno de 1550mm. A temperatura média anual é de 22ºC.

A área de nidificação de Epicharis bicolor foi localizada na margem da estrada vicinal que corta a reserva, sendo caracterizada por uma grande escavação para a remoção de terra, com predomínio de vegetação herbáceo-arbustiva. A área foi delimitada com o auxílio de trenas e estacas de metal. Amostras do solo foram coletadas para identificação e análise no Laboratório de Análise de Solos da Universidade Federal de Uberlândia. A área total foi subdividida em quatro sub-áreas de 1m2 para se amostrar a densidade de ninhos. Além disso, sete sub-áreas de 1m2 foram delimitadas e a distância entre 11 ninhos de cada uma delas foi aferida.

No período de setembro/2003 a abril/2004 e de setembro a dezembro/2004 a área foi acompanhada semanalmente, preferencialmente no período da manhã, das 7:30h às 11:30h.

 

RESULTADOS:

A área de nidificação totalizou 224m2 e apresentava uma cobertura vegetal herbácea, predominando espécies de Poaceae.

Os ninhos estavam dispostos em agregado, com densidade que variou de 24 a 60 entradas/ m2 (x=40 entradas/m2±15,59cm). A entrada dos ninhos era envolta por terra removida da escavação e possuía um contorno aproximadamente arredondado. A distância média entre as entradas em cada subárea variou de 3 a 22,5cm (x=13,64±8,16cm; n=77).

As fêmeas estiveram ativas na área de nidificação durante o período de novembro a dezembro/2003 e iniciavam solitariamente a construção do ninho (n=14).

     As células apresentaram um comprimento variando de 1,47 a 2,82cm (x=2,11±0,32cm; n=28) e a largura de 0,96 a 1,88cm (x=1,46±0,21cm; n=28) e se encontravam a uma profundidade de 10 e 25cm (x =19,61±4,84; n=19).

Oito espécies de inimigos naturais foram coletadas na área de nidificação, dentre elas estão as espécies de abelhas cleptoparasitas das tribos Ericrocidini: Mesoplia rufipes e Mesonychium asteria e Rhathymini: Rhathymus bicolor e Rhathymus unicolor; as vespas ectoparasitóides da família Mutillidae: Hoplomutilla myops, Mickelia cressoni e Traumatomutilla juvenilis e o besouro parasitóide da família Meloidae: Tetraonyx sexguttata.

 

CONCLUSÕES:

Ninhos de Epicharis bicolor são construídos no solo e solitariamente, um hábito possivelmente plesiomófico nos Centridini.

A espécie Epicharis bicolor apresenta padrão de distribuição de seus ninhos do tipo agregado. De todas as espécies com hábito de nidificação agregado, Epicharis bicolor apresenta a maior densidade de ninhos. As maiores densidades de ninhos já registradas até o momento são fornecidas para a espécie Epicharis metatarsalis, com 25 ninhos/m2 e Epicharis dejeanii que apresentou uma densidade média de 1 a 25 ninhos/m2.

Com relação aos inimigos naturais, as espécies de abelhas do gênero Rhathymus foram observadas na área de nidificação de Epicharis bicolor, aonde sobrevoavam e invadiam os seus ninhos. Outras espécies de Epicharis, como Epicharis fasciata, Epicharis flava, Epicharis analis e Epicharis melanoxantha, Epicharis dejeanii e Epicharis nigrita também estão associadas a espécies de Rhathymus. Fêmeas de Epicharis bicolor investiam contra as fêmeas de Rhathymus unicolor, que tentavam invadir seus ninhos. Este comportamento de agressividade não foi observado contra as espécies da tribo Ericrocidini.

Fêmeas e machos de vespas de Mutillidae também foram observados na área de nidificação. Das três espécies coletadas na área, apenas Hoplomutilla myops foi observada invadindo os ninhos de Epicharis bicolor.

Além das espécies de Hymenoptera, o besouro Tetraonyx sexguttata também foi coletado na área de nidificação, bem como em células de Epicharis bicolor mantidas em laboratório.

Instituição de fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Abelhas; Cleptoparasitas; Nidificação.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006