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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social

O FENÔMENO DA INJUSTIÇA  SOB  A COMPREENSÃO  

DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Joseildes Farias Fonseca 1
Helder de Pádua Lima 1
Patrícia Alvarenga Lima 1
Josecléia Derze Nascimento 1
Geórgia Maria Feitosa Paiva 2
Eugenia Tereza Castelo Branco Krutzen 1
(1. Universidade Federal da Paríba UFPB; 2. Universidade Federal do Ceará UFC)
INTRODUÇÃO:

A teoria piagetiana supõe que a noção de injustiça esteja ligada a dois pensamentos: primeiro ocorre injustiça quando o culpado não é punido, um inocente é punido, ou quando não há um equilíbrio entre o ato e a retribuição e, segundo, ocorre injustiça quando uma distribuição favorece uma das partes envolvidas. Estas concepções foram elaboradas a partir de estudos realizados com crianças, em que Piaget (1932) contava estórias envolvendo questões de justiça e perguntava-lhes o que era justo fazer. A partir destes estudos, Piaget classificou a justiça em três tipos: justiça imanente, na qual prevalecia a crença de que a punição resulta espontaneamente da natureza, do universo, assim a toda má ação corresponde um castigo; justiça retributiva, definida pela crença de que a cada ato corresponde um tipo de punição e; justiça distributiva, que se relaciona à repartição de bens e recompensas entre as pessoas. A evolução nestes estágios representa, segundo Piaget, a passagem de uma concepção heterônoma da justiça para uma concepção autônoma da justiça. Dentro deste enfoque, o presente estudo teve como objetivo verificar o que crianças e adolescentes entendem por injustiça simplesmente pedindo-lhes que relatassem uma situação na qual foram vítimas de injustiça e apontando quem foram os ofensores. Buscou-se ainda observar se as variáveis como: idade/escolaridade, sexo e tipo de instituição (pública ou privada), exerciam algum tipo de influência sobre as respostas dos indivíduos.

METODOLOGIA:
Participaram deste estudo 159 estudantes da rede pública e privada de ensino a cidade de João Pessoa, de ambos os sexos, com idades variando entre 08 e 18 anos. Para fins de análise estatística, os estudantes foram agrupados da seguinte maneira: sujeitos entre 08 e 12 anos (2a a 6a séries) foram reunidos no Grupo I, sujeitos entre 14 e 18 anos foram reunidos no Grupo II (8a série ao 3o ano). Foi utilizado um questionário o qual continha, dentre outras, a seguinte pergunta: “Alguém já foi injusto com você? Conte-me como foi isso”. Os questionários foram aplicados em entrevistas individuais. Quanto à análise da pergunta referente a este trabalho, foram utilizados dois critérios: 1) em relação à pessoa que tinha sido injusta com o respondente e; 2) em relação ao tipo de injustiça cometida. Em ambos os casos, as respostas foram categorizadas, separadamente, por dois pares de juízes e a coordenadora do projeto. Em seguida, foi realizada uma análise conjunta, a partir da qual permaneceram as categorias que obtiveram, no mínimo, 85% de concordância entre os juízes. Os dados obtidos foram também analisados a partir de um Qui-quadrado. As respostas sobre quem foi injusto com o estudante foram classificadas nas seguintes categorias: “Ninguém”, “Pais”, “Irmãos”, “Parentes” (tios, avós, primos), “Amigo”, “Outras pessoas” (vizinhos, funcionários da escola, ou quando o respondente não citou quem cometeu a injustiça contra ele). “Não categorizável” (o estudante diz não ter lembrado se foi vitima de injustiça ou apenas respondeu sim). A respeito destas categorias, foi verificada através de um Qui-quadrado, uma diferença significativa (X2=224,2; gl=5; p<0,01) entre as categorias que apontavam as pessoas que haviam cometido injustiça contra o respondente: a categoria “Ninguém” foi a que obteve maior freqüência (49,70%), seguida por “Outras pessoas” (19,49%) e “Não categorizáveis” (17,61%). As respostas à segunda questão, permitiram a criação das seguintes categorias: “Mentira”, “Punição indevida”, “Desrespeito”, “Discriminação”, “Acusação indevida”, “Falta de reconhecimento”, e “Não categorizáveis”. A análise destas categorias a partir de um Qui-quadrado indicou diferenças significativas (X2=482,96; gl=8; p<0,001) entre as categorias acerca dos tipos de injustiça sofrida: a categoria mais citada foi “Não categorizáveis” (64,68%), seguida por “Acusação indevida” (14,68%). Quanto à influencia das variáveis anteriormente citadas, o Qui-quadrado demonstrou não haver influência de nenhuma delas.
RESULTADOS:

Os resultados demonstraram que, no caso deste trabalho, para ambas as questões, as variáveis sexo, idade/escolaridade e tipo de instituição não influenciaram nas respostas dos estudantes. No caso da variável idade/escolaridade, julga-se que os resultados podem estar relacionados ao fato de no questionário não ser proposto um dilema (foram dadas respostas espontâneas), o que exigiria uma justificativa mais complexa dos participantes, bem como ao fato de a idade dos respondentes permitir seu enquadramento na concepção de moral autônoma. A respeito da variável sexo, demais pesquisas na área também não têm apontado para diferenças significativas. Quanto ao tipo de instituição, não há justificativa para tais resultados.

 

CONCLUSÕES:

Dados os resultados, no presente trabalho, os estudantes pesquisados geralmente não se percebem como vítimas de injustiças, e quando esta percepção existe, é direcionada para pessoas com as quais o convívio não é tão intenso quanto com a família, o que remete à noção de que as condutas e atitudes dos membros desta instituição representam o que é certo, e, portanto justo. Ademais, estes dados corroboram a concepção de Piaget (1932), segundo a qual a injustiça é definida a partir da punição a um inocente (Acusação indevida, Mentira, Punição indevida).

Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Psicologia; Injustiça; Infância.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006