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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social

SUJEITOS, MÚSICA E NARRATIVA: ESTUDO DOS SIGNIFICADOS E SENTIDOS CONSTRUÍDOS NAS HISTÓRIAS DE RELAÇÃO COM A MÚSICA

Patrícia Wazlawick 1
(1. Programa de Pós-Graduação em Psicologia (Doutoranda) / UFSC)
INTRODUÇÃO:

Este estudo relata a pesquisa de Mestrado em Psicologia, intitulada “Quando a música entra em ressonância com as emoções: significados e sentidos na narrativa de jovens estudantes de Musicoterapia” (Linha de pesquisa “Processos Psicossociais”, UFPR), sob orientação da Profª. Drª. Denise de Camargo. Versa sobre uma possível inter-relação entre temáticas da Psicologia Histórico-Cultural, Música e Musicoterapia. A pesquisa teve como objetivo “estudar os significados e sentidos expressos nas narrativas que os jovens constroem sobre sua história de relação com a música”. Na fundamentação teórica discute-se a construção dos significados e sentidos da música sob a perspectiva da Psicologia Histórico-Cultural, principalmente com a contribuição de L. S. Vygotsky, tecendo uma interface com as idéias dos musicoterapeutas noruegueses Even Ruud e Brynjulf Stige, em base à filosofia de Ludwig Wittgenstein. O resultado da pesquisa apontou que quando se vivencia a música não se relaciona apenas com a matéria musical em si, mas com toda uma rede de significados construídos no mundo social, em contextos coletivos e singulares. Dessa forma, os significados e sentidos da música são construídos a partir de vivências concretas e da “utilização viva” da música por sujeitos em relação, onde articulam sua dimensão afetiva, desejos, vontades, interesses e motivações, enquanto estão implicados e constituem a atividade musical, que, em um movimento dialético, também se torna constituinte deles.  

METODOLOGIA:

Realizou-se uma Pesquisa Qualitativa Exploratória. Os sujeitos participantes foram três jovens, com idade entre 20 e 23 anos, solteiros, residentes na região sul do Brasil, pertencentes a famílias de classe média, estudantes do primeiro ano da graduação em Musicoterapia da Faculdade de Artes do Paraná, Curitiba (2004). A Técnica de Coleta de Informações foi composta pela “Entrevista Narrativa” (Schütze, 1977) focada na “Memória Musical” e “Autobiografia Musical” (Ruud, 1998), acompanhada da re-criação e escuta das músicas identificadas por eles como significativas. O “Tópico Inicial” da entrevista foi: “fale sobre experiências musicais que fizeram parte de sua vida que se lembre por alguma razão”. As entrevistas foram gravadas em mini-disc, e também se compôs um Diário de Campo. A Análise das Informações iniciou-se com a transcrição detalhada das entrevistas, seguida de várias leituras do material transcrito. Em um “duplo movimento” entre teoria e dados empíricos junto da interpretação das narrativas foram construídas treze categorias, que configuram os resultados da pesquisa a respeito dos significados e sentidos que os jovens constroem sobre sua história de relação com a música. A “tônica” que orientou a análise dos dados foi a leitura da música e da dimensão afetiva no contexto cultural onde ocorreram, onde o sujeito encontra-se situado historicamente.

RESULTADOS:

A partir da reconstrução das narrativas a respeito das histórias de relação com a música, e de acordo com a proposta dos procedimentos teórico-metodológicos, foram construídas treze categorias: 1) Cultura Musical no Contexto Familiar; 2) Infância “festiva e feliz” vivida com a música; 3) Emoção percebida no outro em meio à vivência com a música; 4) “Trazer a música para perto de si”: o aprender a tocar um instrumento musical e o cultivo da dança; 5) “Pegar influência” dos irmãos e amigos; 6) “Som pesado” e muito “barulho” (Heavy Metal); 7) Repertório de Canções: Trilha Sonora para suas vivências; 8) Momentos de “Metamorfose” na Identidade Musical; 9) Implicação com músicos e suas atividades musicais; 10) Vivência da dimensão afetiva da música; 11) Sensibilidade; 12) Dança e Canto; 13) Escolha da Atividade Musical e Opção pela Musicoterapia. As emoções e sentimentos, integrantes da atividade humana junto do agir e do pensar, configuram a construção dos significados singulares da música, de acordo com a reflexão do sujeito acerca de si e de suas vivências. A música despertando a afetividade permite que o sujeito signifique o mundo que o cerca, e que objetive sua subjetividade na atividade musical. Dessa forma, percebe-se que não existem significados naturais ou universais da música, mas que estes são envoltos às características culturais e espaços-temporais presentes nos diversos momentos da história humana, e à forma como são articulados na existência cotidiana de sujeitos.

CONCLUSÕES:

Deste estudo pôde-se destacar que: os jovens viveram situações concretas enquanto constituindo-se sujeitos, permeadas pela dimensão afetiva, onde se deu a utilização viva da música. Os significados e sentidos constroem-se em constante movimento dialético junto das histórias. A dimensão subjetiva pode estar objetivada na música, e revela o contexto histórico vivido de forma singular, do qual emergem os significados da música. Os significados são locais, de acordo com a utilização pessoal e social da música, conferidos pelo sujeito, a partir de seus sentidos, de sua vivência e principalmente da implicação com a música. Os significados são cambiáveis - se desconstroem, são re-criados - pois o sujeito está em constante movimento. Na relação com a música pôde-se “ver e ouvir” o que sentiam em meio aos acontecimentos concretos, onde os jovens construíram significados e buscavam compreender sua realidade. A música foi e é constitutiva dos jovens enquanto sujeitos históricos e singulares. Portanto, fazendo parte das histórias a música contribuiu para integrar os enredos, e os jovens, construindo narrativas para sua história de relação com a música, viram-na também contar sobre eles e suas relações, a partir dos elementos base destas histórias que foram os significados e sentidos emergidos da vivência dos acontecimentos objetivos, ligados ao uso da música de modo idiossincrático e coletivo.

Instituição de fomento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)
 
Palavras-chave: Significados e sentidos; Musicoterapia; Psicologia Social da Música.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006