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C. Ciências Biológicas - 11. Morfologia - 6. Morfologia

MORFOLOGIA DO APARATO ESTRIDULATÓRIO DE Scaptocoris castanea PERTY, 1833 E S. carvalhoi BECKER, 1967 (HEMIPTERA: CYDNIDAE)

Cristiane Nardi 1
Paulo Marçal Fernandes 2
José Maurício Simões Bento 3
(1. Doutoranda em Entomologia, Escola Sup. Agricultura Luiz de Queiroz/ESALQ-USP; 2. Prof. Dr., Universidade Federal de Goiás/UFG; 3. Prof. Dr. Orientador, Escola Sup. Agricultura Luiz de Queiroz/ESALQ-USP )
INTRODUÇÃO:

Os insetos conhecidos como percevejos castanhos são cidnídeos pertencentes a várias espécies e estão presentes em quase todos os estados brasileiros, sendo considerados importantes pragas de solo em diversas culturas agrícolas. Nos últimos anos, o interesse por informações sobre esses insetos tem sido crescente e, apesar da sua importância econômica e das dificuldades de controle, a literatura sobre dados biológicos e comportamentais é escassa. Dentre os aspectos a serem estudados, o comportamento sexual, incluindo a comunicação sonora e química, tem sido apontado como uma etapa importante no desenvolvimento de novas técnicas de controle e no aprimoramento daquelas já existentes. Sobre a comunicação sonora, sabe-se que muitos percevejos produzem sons a partir de vibrações, os quais são utilizados em curtas distâncias para a cópula. Em Scaptocoris, a produção de sons ocorre por meio da fricção da estrutura estridulatória das asas posteriores (estridulitro) e do plectro dorsal, situado na base do abdome. No entanto, não existem estudos sobre essas estruturas e os aspectos envolvidos na emissão e dispersão dos sons produzidos. O objetivo deste trabalho foi caracterizar a morfologia do aparato estridulatório de machos e fêmeas de S. castanea e S. carvalhoi, buscando uma provável diferenciação na produção e emissão dos sons em ambas as espécies e sexos.

METODOLOGIA:
A caracterização do aparato estridulatório de S. castanea e S. carvalhoi foi realizada no Núcleo de Apoio à Pesquisa em Microscopia Eletrônica Aplicada a Pesquisa Agropecuária, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP), Piracicaba, São Paulo. Os abdomes e as asas posteriores de ambos os sexos e espécies foram extraídos e limpos em solução de água e detergente, utilizando-se pincel de cerdas finas. Após secagem, as estruturas foram fixadas em suportes metálicos (stubs) e submetidas à vaporização com ouro em aparelho Sputtering Balzers Union Med SCD 010. O exame do material foi realizado em microscópio eletrônico de varredura (Zeiss DMS 9404), com voltagem de aceleração de 15 kV. Foram observados e mensurados o comprimento total (μm), o número de dentes e a distância (μm) entre os dentes presentes no estridulitro de machos e fêmeas de ambas as espécies (N=4). Uma análise preliminar demonstrou um aumento do espaçamento (μm) entre os dentes no sentido da porção anterior para a posterior do órgão estridulatório da asa. Para demonstrar este aumento, a estrutura foi dividida em três terços iguais (anterior, mediano e posterior), comparando-se a distância média entre os dentes de cada terço para ambos os sexos e espécies. No abdome contou-se o número de dentes presentes no plectro dorsal, comparando-o para ambos os sexos em S. castanea e S. carvalhoi. Os dados de comprimento do estridulitro, número de dentes e distância entre os dentes foram submetidos a análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey (p<0,05).
RESULTADOS:
A análise morfológica no aparato estridulatório de S. carvalhoi e S. castanea demonstrou que existem diferenças tanto entre espécies, quanto entre sexos. Para S. castanea, o comprimento médio do estridulitro foi de 743,87µm, enquanto que para S. carvalhoi foi de 564,12µm. O número médio de dentes presentes nessa estrutura foi 50,37 e 80,37 em S. castanea e S. carvalhoi, respectivamente. As diferenças entre os sexos de S. castanea, foram evidenciadas no comprimento do estridulitro, que foi maior nos machos (798,25µm) quando comparados às fêmeas (689,50µm). Em S. carvalhoi, houve diferenças significativas apenas no número de dentes do estridulitro, sendo superior nos machos (86,50) do que nas fêmeas (74,25). Quanto ao arranjo desses dentes, observou-se uma distribuição irregular ao longo da estrutura e a distância média entre eles foi significativamente diferente entre as espécies, sendo de 6,22µm para S. carvalhoi e de 15,11µm para S. castanea. Além disso, observou-se que ocorre um aumento da distância entre dentes no sentido anterior para o posterior em machos e fêmeas de S. castanea. Já em S. carvalhoi, essa distância foi superior somente no terço posterior em ambos os sexos. Quanto ao plectro dorsal, observou diferenças significativas no número de dentes entre os sexos para as duas espécies. Nas fêmeas, o número médio de dentes nessa estrutura foi de 13,25 e 13,00 para S. castanea e S. carvalhoi, respectivamente. Nos machos, um único dente foi constatado nas duas espécies.
CONCLUSÕES:

O aparato estridulatório de S. castanea e S. carvalhoi apresentou diferenças morfológicas entre as espécies e os sexos estudados. Essas diferenças sugerem que os sons emitidos pelos indivíduos de cada espécie possam estar envolvidos no isolamento reprodutivo. Por outro lado, a diferenciação observada entre os sexos de ambas as espécies, tanto no estridulitro quanto no plectro dorsal, indicam que a produção dos sons a partir dessas estruturas possa estar envolvida na comunicação intraespecífica e, possivelmente, com a atração sexual. As informações geradas nesse trabalho serão importantes para a compreensão do comportamento dos percevejos castanhos, principalmente quando associadas a resultados futuros de ensaios envolvendo a comunicação sonora nessas espécies.

Instituição de fomento: FAPESP
 
Palavras-chave: Heteroptera; sinais sonoros; comunicação sonora.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006