59ª Reunião Anual da SBPC




C. Ciências Biológicas - 8. Genética - 1. Genética Animal

EVIDÊNCIAS DE DUAS LINHAGENS MOLECULARES DE COI EM MYTELLA CHARRUANA DE ALAGOAS E COMPARAÇÕES COM AS POPULAÇÕES DO PARÁ



Ailton Nascimento da Luz1
Francisco Arimatéia dos Santos Alves1
Cláudia Helena Tagliaro1
Colin Robert Beasley2

1. Laboratório de Conservação e Biologia Evolutiva, UFPA - Campus de Bragança
2. Laboratório de Malacologia, UFPA - Campus de Bragança.


INTRODUÇÃO:

Mytella charruana (M. falcata) são moluscos bivalves que vivem associados a substratos duros, presos pelos filamentos de bisso (Boffi, 1979). Sua distribuição geográfica é cosmopolita e encontram-se com freqüência no litoral da América do Sul e Central (Narchi & Galvão-Bueno, 1983). Estes mexilhões têm sido objeto de muitas pesquisas no Brasil, refletindo sua importância econômica e ecológica (Perreira Barros, 1987; Oliveira, 1982). Alves (2005), realizou estudos moleculares e sexagem com esta espécie e encontrou a presença de linhagens mitocondriais maternas (mtDNAF) e paternas (mtDNAM). MtDNAM e F foram previamente descritos na literatura em outros gêneros da família Mytilidae (Hoeh et al., 1996, 1997; Skibinski et al.,1999). O presente estudo tem como objetivo caracterizar molecularmente uma população de Mytella charruana de Alagoas e estabelecer o relacionamento entre esta e uma população do Pará. Estas informações são de grande importâcia para futuros estudos de monitoramento de estoques na costa brasileira e tais resultados são importantes para estratégia de manejo e conservação de estoques de Mytella charruana.



METODOLOGIA:

As amostras foram coletadas em Bragança (N=36), São João de Pirabas (N=26) e Augusto Corrêa (Nova Olinda; N=26) no Pará e na Lagoa do Mundaú em Alagoas (N=31). O DNA total foi extraído do músculo adutor (Sambrook et al.,1989). E um fragmento do gene mitocondrial COI (Citocromo Oxidase C subunidade I) foi amplificado por PCR (reação em cadeia da polimerase) utilizando os primers de Folmer et al. (1994). O produto de PCR foi purificado e seqüenciado usando-se o método didesoxiterminal (Sanger et al., 1997). Mytella guyanensis foi usada como grupo externo. As seqüências foram realizadas em um seqüenciador automático MegaBace 1000 e foram editadas e alinhadas usando o programa Bioedit (Haal,1999) e o Clustal X (Thompsom, 1997). Foi construída uma matriz de distâncias através do método Kimura 2-parâmetros e uma árvore de agrupamento de vizinhos usando o programa Mega 3. Os haplótipos foram identificados no programa DnaSp versão 4.0 (Rosas, Sánchez-del Barrio, Messeguer & Rozzas, 2003) e o programa ARLEQUIM 3.1 (Schneider et al., 2000) foi utilizado para testar a homogeneidade genética entre as populações de Mytella charruana do Pará e de Alagoas através da análise de variância molecular (AMOVA).



RESULTADOS:

Foram amplificados e sequenciados 420 pb do gene COI de 31 indivíduos da população de Mytella charruana de Alagoas e 88 do Pará. A árvore de agrupamento de vizinhos (Kimura – 2 parâmetros) apresentou três grupos distintos: mtDNAF de amostras do Pará (PA-F) com 6 indivíduos de Alagoas (AL-1; bootstrap= 87%); mtDNAM do Pará (PA-M; bootstrap= 99%); e um terceiro grupo com 25 amostras de Alagoas (AL-2; bootstrap= 100%). A matriz de distâncias mostrou que foi encontrado que PA-F x PA-M divergiram de 0,219 a 0,228, entre AL-1 x AL-2 foi de 0,061 a 0,063, AL-2 x PA-M variaram de 0,208 a 0,217, entre  AL-1 x PA-F foi de 0,002 a 0,024, AL-1 x PA-M divergiram de 0,225 a 0,228 e entre AL-2 x PA-F a variação foi de 0,055 a 0,079. Os valores de Fst não mostraram-se  significativos entre as 3 sub-populações do Pará tanto para mtDNAF como para mtDNAM, as demais relações mostraram altos valores de Fst. As amostras AL-1 foram separadas de AL-2  e o valor do Fst foi 0,97. Baseado nos valores de Fst, as sequências das amostras mtDNAF das 3 populações do Pará foram agrupadas assim como as sequências das 3 populações mtDNAM. Portanto, foram formados os grupos AL-1, AL-2, PA-F e PA-M. Os resultados da AMOVA mostraram que houve diferenças significativas entre os grupos e dentro das populações.

 



CONCLUSÕES:

O presente estudo evidenciou a presença de duas linhagens mitocondriais na espécie Mytella charruana na população do Pará. Entretanto, a linhagem mtDNAM não foi comprovada na população de Alagoas. As divergências entre AL-1 e AL-2 de Alagoas tiveram valores  bem menores do que os verificados entre mtDNAM e mtDNAF do Pará, sugerindo que talvez estas duas linhagens não representem diferenças de herança duplo-uni-parental. Não foi possível sexar as amostras oriunda de Alagoas, portanto, estudos adicionais deverão ser realizados para esclarecer este tópico. Os resultados são compatíveis com a existência de duas linhagens estruturadas da espécie M. charruana nesta localidade. Considerando a presença das barreiras de recifes que existem nesta região de Alagoas, que restringem parcialmente o fluxo gênico, acreditamos que existe a possiblidade de que esta região facilite o surgimento de novas linhagens que eventualmente podem migrar para regiões vizinhas ou mesmo distantes.

 



Instituição de fomento: CNPq/PIBIC; CNPq/ Projeto Milênio

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Mytella charruana, Mytella falcata, COI

E-mail para contato: ailtonbrag@hotmail.com