59ª Reunião Anual da SBPC




C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 2. Ecologia Aquática

BIOMAGNIFICAÇÃO E BIOACUMULAÇÃO DE MERCÚRIO NA COMUNIDADE DE PEIXES DE UM LAGO DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA CENTRAL



Sandra Beltran-Pedreros1
Rosseval Galdino Leite1
José Reinaldo Pacheco Peleja2
Alessandra Barros Mendonça2

1. Coordenação de Biologia Aquática. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
2. Laboratório de Ciências Ambientais. Universidade Federal do Pará, Santarém


INTRODUÇÃO:
O aumento das concentrações de mercúrio no ambiente tem sido motivo de crescente preocupação por seu uso nos garimpos de ouro da Amazônia. O Hg existe no meio ambiente na forma metálica (Hg0), a divalente (Hg2+) a partir de reações de Hg0 com O3, energia solar e vapor de água; e a metilada a partir da transformação do Hg2+ para CH3Hg2+ (Metilação), a qual é conhecida como metilmercúrio; uma forma bioacumulativa e tóxica no meio aquático. O aumento do teor deste metal no ambiente aquático tem efeito direto sobre os organismos vivos através da bioacumulação e a biomagnificação na cadeia trófica. A contaminação por Hg em peixes na Amazônia aumenta ao longo da cadeia alimentar; os peixes carnívoros têm um nível médio de Hg maior que os peixes de outros hábitos alimentares. Altas concentrações de Hg também têm sido encontradas em regiões sem atividade garimpeira onde a química da água  parece ser o principal fator controlador dos níveis de Hg. Em ecossistemas aquáticos temperados há uma correlação positiva entre níveis de Hg e carbono orgânico dissolvido e inversa com o pH. Na Amazônia às áreas de inundação já foram apontados como potenciais áreas de metilação. Pesquisas indicam que o tamanho do peixe, pH e a percentagem da área de inundação são os fatores que mais explicam a variação nos níveis de mercúrio total, e que a área de inundação é um importante fator por se tratar de áreas de metilação, influenciando a bioacumulação de mercúrio

METODOLOGIA:
Amostras de peixes foram coletadas com malhadeiras de 30 a 110 mm de malha, rede de cerco de 3 mm e rapiche ou puça, em no meio do lago e entre as macrófitas do Lago de Manacapurú.  Os exemplares coletados foram identificados, pesados e medidos e, retirada uma porção de músculo de ± 2 cm3  e congelada. Para análises de mercúrio total foi retirado entre 5 e 15 mg de peso úmido de músculo de cada exemplar, para digestão com 1 ml de HNO3 concentrado e 100 µl de HCl 6N (proporção 10:1) agitando-os e aquecendo a 121ºC durante 6 horas. Após digestão, as amostras foram diluídas e alíquotas de 0,1 ml da solução foram injetadas em espectrômetro de fluorescência atômica a vapor frio para a leitura analítica. A reprodutibilidade do método foi determinada por leitura das amostras em duplicatas com um desvio aceitável de 10%. A confiabilidade do método analítico foi testada através da análise do padrão de referência do National Research Council of Canadá (TORT-2) durante as baterias de análises das amostras. Os fatores de biomagnificação (Mf), que relatam a amplificação dos níveis de Hg ao passar de um nível trófico inferior para um mais superior, foram obtidos pela fórmula Mf = log(Cn/Cn-1). Onde, Cn são as concentrações de Hg no nível trófico superior e Cn-1 são as concentrações no primeiro nível trófico inferior e, a bioacumulação foi identificada como a correlação entre as concentrações de Hg por comprimento padrão.

RESULTADOS:

Foram analisados 218 indivíduos de 75 espécies e 22 famílias, sendo que as famílias mais representativas foram: Serrasalmidae (11 sp), Characidae (9 sp), Curimatidae (8 sp), Cichlidae (6 sp) e Anastomidae, Himiodontidae, Loricariidae e Pimelodidae (com 5 sp cada). Foram identificados sete tipos de hábitos alimentares: iliófagos (1 sp), detritívoros (16 sp), herbívoros (5 sp), onívoros (23 sp), planctófagos (4 sp), carnívoros (20 sp), piscívoros (6 sp). 29 indivíduos de 16 espécies apresentaram níveis de Hg acima do limite permissível (500 ng/g). Espécies iliófagas e herbívoras não apresentaram indivíduos com concentrações acima do permissível. Por hábito alimentar os carnívoros e piscívoros apresentaram 5 espécies acima dos níveis permitidos, onívoros três espécies, detritívoros duas espécies e planctófagos uma espécie. 10 espécies com evidência de biacumulação, sendo três espécies carnívoras e detritívoras, duas espécies onívoras e uma espécie iliófaga e planctófaga.  Herbívoros e piscívoros não apresentaram bioacumulação. A ANOVA demonstrou a existência de biomagnificação em todos os hábitos alimentares: iliófagos com 39 ng/g de Hg médio, detritívoros 128 ng/g Hg médio, Herbívoros 137  ng/g Hg médio, onívoros 188  ng/g Hg médio, planctófagos 228  ng/g Hg médio, carnívoros 328  ng/g Hg médio e piscívoros 450  ng/g Hg médio.



CONCLUSÕES:

A comunidade de peixes do lago de várzea apresentou evidência de bioacumulação e biomagnificação, sendo que as espécies de carnívoros são mais afetadas.



Instituição de fomento: MCT/CNPq/PPG-7



Palavras-chave:  Bioacumulação de mercúrio, Biomagnificação de mercúrio, Mercúrio em peixes da Amazônia

E-mail para contato: beltranpedreros@hotmail.com