H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 1. Literatura Brasileira
A ANÁLISE DA OBRA FANTÁSTICA MISTÉRIOS À LUZ DA TEORIA DE TZVETAN TODOROV.
JOSÉ HUMBERTO TORRES FILHO1 MARIA SARA DE SOUZA LEÔNCIO1
1. Universidade Estadual do Ceará
INTRODUÇÃO:A literatura fantástica tornou-se, especialmente no final do século XX, um importante tópico da literatura contemporânea, sendo alvo de diversas análises literárias. A teoria de Todorov (1939) é a mais utilizada atualmente ao se criticar o fantástico. Segundo o autor, três condições devem ser satisfeitas para uma narrativa ser considerada pertencente ao gênero. Primeiro é preciso que o texto conduza o leitor "a hesitar entre uma explicação natural e uma explicação sobrenatural dos acontecimentos evocados" (TODOROV, T. 1939. p.39). A segunda condição abarcaria a possível representação da hesitação por uma personagem e a terceira exige que o leitor recuse a interpretação poética, assim como a alegórica do texto. Considerando que Lygia Fagundes Telles é uma das principais escritoras contemporâneas a produzir narrativas fantásticas no Brasil, esse trabalho objetiva analisar os contos compilados no livro Mistérios (1981), selecionando aqueles que preenchem as condições necessárias em uma história fantástica para Todorov (1939). Posteriormente, identificaremos em que momentos dessas narrativas aparecem as indeterminações que constituem uma zona de interrupção em alto grau, própria do enunciado fantástico (CAMPRA apud ROBRIGUES, 1988, p. 48).METODOLOGIA:Essa pesquisa contou com os seguintes procedimentos metodológicos: levantamento e discussão da bibliografia pertinente sobre a temática, selecionando a teoria de Todorov (1939); análise dos dezenove contos que compõem a obra Mistérios (1981) de Lygia Fagundes Telles; seleção dos contos que satisfazem as três condições propostas na teoria selecionada para uma narrativa fantástica; identificação das indeterminações nos contos selecionados. RESULTADOS:A análise dos dezenove contos da obra Mistérios (1981) de Lygia Fagundes Telles revelou que seis dessas narrativas preenchem as três condições necessárias em uma história fantástica. São eles: "Emanuel", "A Caçada", "As Formigas", "Lua Crescente em Amsterdã", "O Encontro" e "Noturno Amarelo". A indeterminação em todos os casos surge no final da narrativa. Em "Emanuel", o elemento de hesitação se dá através do surgimento do fictício amante da personagem Alice. Em "A Caçada", há a dúvida em aceitar ou não a experiência do personagem com o desenho da tapeçaria. No conto "As formigas", temos a montagem de uma ossada realizada por formigas que trabalham durante a madrugada. Aqui também não há uma explicação para o fenômeno, conduzindo o leitor à hesitação. Em "Lua Crescente em Amsterdã", a primeira condição do fantástico se dá na transformação de um casal de namorados em passarinho e borboleta. Já em "O Encontro", o elemento de hesitação se revela no tema do duplo, onde a narradora-personagem se encontra consigo em uma situação já vivida anteriormente. Finalmente no conto "Noturno Amarelo" a dúvida sobre a real visita da narradora-personagem à casa de sua família insere esta narrativa no gênero fantástico. CONCLUSÕES:Observando esses resultados é possível percebermos que seis contos da obra Mistérios (1981) pertencem ao gênero fantástico, segundo a teoria de Todorov (1939), estando os demais dentro de seus gêneros vizinhos como o estranho e o maravilhoso. Nesses contos de natureza fantástica identificamos que as indeterminações, isto é, o momento da obra em que o leitor hesita entre o real e o sobrenatural, estão presentes no fim da narrativa, sem apresentar uma explicação lógica para os fenômenos causadores do estranhamento.
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave: Fantástico, Hesitação, Indeterminações
E-mail para contato: zeh_humberto@yahoo.com.br
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