59ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 5. História - 2. História do Brasil

"GALEGOS", LOJISTAS E ÁRABES: SÍRIO-LIBANESES EM FORTALEZA



Ruben Maciel Franklin1

1. Universidade Federal do Ceará - PET- História


INTRODUÇÃO:

O interesse pelo estudo sobre presença dos imigrantes sírio-libaneses no Ceará, especificamente na cidade de Fortaleza, surgiu quando participei da finalização e um projeto junto ao Arquivo Público do ceará (APEC), cujo objetivo visava à catalogação de processos “criminais” de 1910 a 1950. Dessa forma, entrei em contato com documentos referentes às casas comerciais pertencentes aos sírio-libaneses, percebendo o quanto eram recorrentes. A partir daí, iniciei a pesquisa com vistas a analisar os fatores políticos, econômicos e sociais que proporcionaram a grande emigração árabe (Mahjar) para o Brasil e os processos que culminaram com a vinda de diversas famílias para a capital cearense, sobretudo, no início do século XX, estabelecendo a inserção desses imigrantes na sociedade receptora, no momento em que esta sofria várias modificações devidas ao decorrente processo de transformação urbana e econômica.



METODOLOGIA:

No intuito de estudar os aspectos de inserção e fixação dos imigrantes sírio-libaneses na cidade de Fortaleza tive que me ater a uma série de fontes ainda não trabalhadas, visto que, se trata de uma pesquisa de caráter inédito no contexto de Fortaleza. Os processos crimes me trouxeram uma série de questões acerca das firmas e lojas (compra e venda, concordatas, contratos com lojas interestaduais) de sírio-libaneses aqui estabelecidos, bem como sobre a concorrência comercial e as intrigas entre os patrícios, derivadas desta. A leitura dos almanaques do Estado contidos no Instituto do Ceará (IC), possibilitou-me uma visão panorâmica sobre a abertura e a localização das lojas. Os periódicos e a revista do Clube Líbano-brasileiro também foram objetos de investigação e análise, bem como a leitura bibliográfica sobre o tema. Todavia, o preenchimento de algumas lacunas só veio com o uso da história oral, através do contato direto com os descendentes dos primeiros imigrantes e a possibilidade de entrevistá-los.

 



RESULTADOS:

A princípio verifiquei que não houve uma entrada direta dos sírio-libaneses em Fortaleza, as principais famílias estabelecidas na cidade como os Jereissati, Otoch, Romcy, Ary, Kayatt entre outras, já haviam se estabelecido em outros estados (PI, MA e MG). Logo, diferentemente de outras regiões do país, os sírio-libaneses aqui chegados já possuíam em sua maioria algum capital para investimento proveniente da atividade comercial desenvolvida na cidade que se estabelecera anteriormente. Dessa forma, não iniciaram hegemonicamente como mascates, pois, algumas famílias já se estabeleceram na cidade com uma pequena loja de miudezas e tecidos. Porém, isso não significa que a mascateação tenha sido quase nula, pois, no limiar do século XX essa atividade possibilitava em Fortaleza uma considerável lucratividade. Sendo assim, inseridos no ramo de tecidos, ocupando vários estabelecimentos comercias nas principais ruas do centro (Major Facundo e Floriano Peixoto), os sírio-libaneses trataram de solidificar sua colônia, através da criação de um clube (União Síria - 1923), escolaridade dos filhos e a manutenção de parentescos pelo casamento com patrícios. Nesse sentido, buscavam romper com as barreiras discriminatórias, ligadas a sua atividade comercial (galegos).



CONCLUSÕES:

A peculiaridade marcante os imigrantes sírio-libaneses radicados no Brasil, diz respeito ao que Clarck Knolwton denominou de Mobilidade Social e Espacial, ou seja, ao contrário de outros grupos de imigrantes como os italianos, portugueses e alemães não se fixaram, sobretudo em uma determinada região. Os sírio-libaneses constituíram o grupo que se infiltrou no comércio urbano através da mascateação, uma atividade que continha muitas possibilidades e através dela penetraram em todas as regiões do país, na procura de fazer fortuna. Em Fortaleza, pesar do contingente de imigrantes não ter sido tão expressivo numericamente em relação a São Paulo ou Rio de Janeiro, os sírio-libaneses detiveram grande visibilidade, visto que, suas lojas de tecidos e armarinhos promoviam o contato amplo com a população local e favorecia de certa forma a assimilação. A máxima “todo libanês é brimo até a brimeira concorrência” também foi notória, uma vez que, as disputas em torno do comércio não foram raras e apesar da forte ligação que mantinham com os patrícios. A ascensão econômica de algumas famílias também foi verificada, bem como a acentuação de sua influência na sociedade fortalezense, contudo, o sucesso econômico não abrangeu a totalidade dos imigrantes fixados na cidade.



Instituição de fomento: PET (Programa de Educação Tutorial)



Palavras-chave:  Imigrantes, Sírio-libaneses, Fortaleza

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