H. Artes, Letras e Lingüística - 5. Semiótica - 1. Semiótica
AS IMAGENS DA LÍNGUA PORTUGUESA NO DISCURSO DO MANUAL ESCOLAR: OS PERCURSOS TEMÁTICOS E AS DETERMINAÇÕES SÓCIO-HISTÓRICAS
GILVAN MATEUS SOARES1 GLAUCIA MUNIZ PROENÇA LARA2
1. FACULDADE DE LETRAS / UFMG 2. Profª Drª / Orientadora / Faculdade de Letras / UFMG
INTRODUÇÃO:A comunicação apresenta resultados da terceira etapa do projeto “As imagens da língua portuguesa no discurso da escola”. À luz da semiótica greimasiana (com contribuições da AD – Análise do Discurso de Linha Francesa), analisam-se dois manuais escolares publicados, no Brasil, no final do século XX/início do século XXI – Gramática: teoria e exercícios, de Maria Aparecida Paschoalin e Neuza Terezinha Spadoto (edição de 1996), e Português: linguagens, de William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães (8a. série; edição de 2002) –, a fim de apreender as imagens da língua portuguesa que neles se constroem. Esses manuais são examinados como discurso, levando-se em conta as determinações sócio-históricas, que se manifestam tanto na análise dos percursos temáticos (e eventuais figuras) quanto na relação texto/contexto, este último entendido tanto em sentido amplo (os fatores sócio-políticos e ideológicos) quanto em sentido estrito (o diálogo dos manuais com outros textos: leis, parâmetros etc). Espera-se, assim, contribuir para o conhecimento sistemático da história da constituição de um saber escolar sobre a língua portuguesa no Brasil. METODOLOGIA:1) Aprofundamento teórico-metodológico através da leitura e do fichamento de obras/capítulos/artigos que tratam da Semiótica Greimasiana e da AD (Análise do Discurso de Linha Francesa).
2) Leitura de textos voltados para a caracterização do contexto brasileiro, com ênfase nos anos 1980 até 2000.
3) Produção do capítulo: “As imagens da língua portuguesa no discurso do manual didático – o período de 1960-2000”.
6) Análise do livro Português: linguagens, de William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães.
8) Comparação dos manuais.
9) Elaboração do relatório final. RESULTADOS:As obras empenham-se em construir o discurso da norma (prescritiva), que é o percurso temático (PT) dominante e que se ancora num conjunto de outros PTs que o reforçam e complementam. Assim, o discurso da língua (padrão) é atravessado pelos PTs do prestígio, da perfeição, da ordem, da inacessibilidade, da estaticidade, ao passo que, no discurso da(s) variedade(s) não padrão, temos os PTs do desprestígio, da imperfeição, do caos, da acessibilidade, da dinamicidade. Em suma: 1) a variedade padrão (associada à escrita) é vista positivamente, sendo tomada como a melhor, a certa, a única e verdadeira língua; 2) a(s) variedade(s) não padrão (identificadas à fala) é(são) vista(s) negativamente, sendo considerada(s) como o “desvio” de um modelo (= a norma culta). A esses PTs associam-se formações discursivas (FDs) que sustentam o discurso prescritivo e que materializam, através da linguagem, uma FI (formação ideológica) ligada aos valores e aos interesses da classe dominante. Algumas FDs são comuns aos dois manuais, como a FD estruturalista, a FD do senso comum, a FD moralizante e a FD enciclopédica. Outras aparecem em um, mas não em outro, como as FDs da teoria da comunicação e da identidade nacional (em Gramática) e as FD da comparação com o português de Portugal (em Português).CONCLUSÕES:Constatamos, nas obras, duas imagens da língua portuguesa que se imbricam: 1) a de um “objeto” heterogêneo, mas com usos hierarquizados e recomendados (uns – os referentes à variedade padrão – são melhores, mais corretos do que outros – os relacionados às variedades não padrão), no discurso da boa e da má norma; 2) a de um objeto “homogêneo”, no discurso da norma única, em que uma das variedades (a padrão) passa a valer pela língua inteira, cabendo ao usuário dela apropriar-se para fazer uso eficaz (correto) da língua. Dessa forma, ocorre um deslizamento do normativo (imagem 1) para o normal, o natural (imagem 2), o que leva a se privilegiar uma variedade – a padrão –, que, tornada objeto de ensino, sintoniza-se com os anseios da classe dominante. Os manuais, com isso, exercem um papel fundamental para a discriminação lingüística/social e para sua perpetuação, pois, na medida em que reconhecem apenas uma variedade como a melhor, a mais correta (variedade padrão identificada à própria língua), acabam por discriminar as demais variedades, bem como aqueles que as utilizam (discriminação lingüística e social). Instituição de fomento: PIBIC/CNPQTrabalho de Iniciação CientíficaPalavras-chave: discurso, língua portuguesa, imagensE-mail para contato: gilvanso@uol.com.br |
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