G. Ciências Humanas - 2. Arqueologia - 1. Arqueologia Histórica
ESTUDO ETNO-HISTÓRICO DAS POPULAÇÕES DO ENTORNO DA ÁREA ARQUEOLÓGICA DE SOBRADINHO/BA.
Ledja Suzane da Silva Leite1 Guilherme de Souza Medeiros1, 2
1. Universidade Federal do Vale do São Francisco 2. Prof. Dr. / Orientador
INTRODUÇÃO:Os povoados circundantes à Área Arqueológica de Sobradinho, principalmente aqueles localizados à margem direita do Rio São Francisco contam com um número significativos de famílias que apresentam feições e costumes indígenas. Segundo fontes históricas, nos século XVII e XVIII, foram contactadas por grupos missionários algumas tribos indígenas pertencentes aos grupos culturais Tupi (Amoipirá, Tupiná, Tupinambá) e Jê (Okren, Chicriabá, Massacará, entre outras). Os sistemas de aldeamento intensamente estabelecidos e desenvolvidos na região, onde destacam-se a Missão de São Gonçalo, localizada na foz do Rio Salitre, a Missão de Nossa Senhora das Grotas, na ilha do Pontal e a Missão de Pambu, localizada em Curaçá e principal responsável pela origem do município; constituem a principal estratégia responsável pelo processo de aculturação e aniquilação da cultura indígena. Nesse processo, visando a sobrevivência, o índio sertanejo fez-se mestiço e usou de estratégias adaptativas, principalmente a dissimulação ou mesmo negação de sua identidade. Atualmente, os habitantes de tal região ainda apresentam traços culturais típicos de alguns grupos indígenas, como é o caso do ritual do Toré, muito praticado em tais comunidades sob o nome de tradição popular. Segundo informações históricas, este é um ritual característico de tribos do interior do Nordeste.
Hoje em dia, apesar de muitos se recordarem de antepassados índios, as populações destas regiões ignoram qualquer remanescência ou mesmo semelhança a grupos indígenas. Esse é um fato observável em várias regiões do país, em função da conotação negativa comumente atribuída ao índio, onde este sempre era visto como selvagem, preguiçoso, violento.
A área estudada está localizada no sertão norte baiano e corresponde a uma caatinga aberta, provavelmente muito disputada em função de presença dos rios Salitre e São Francisco. Esta é inclusive uma região que vem se destacando em função de recentes pesquisas que permitem firmá-la como uma importante área arqueológica: evidências como urnas funerárias, materiais lítico e cerâmico (ambos com exemplares bastante elaborados), tembetás, cachimbos, pinturas e gravuras rupestres, vem sendo amplamente encontrados na região.
Assim, este estudo etnohistórico permitirá um maior entendimento de como se deu o contato com o europeu na região do interior da Bahia (fato até então pouco estudado), permitindo um maior aprofundamento de como se deu a formação do sertanejo.
METODOLOGIA:- Pesquisar na diocese da cidade de Juazeiro/BA documentações referentes às tribos da área estudada;
- Pesquisar em cartórios da referida cidade documentações referentes a matrimônios e batizados dos habitantes da área estudada, buscando identificar o início da presença de sobrenomes estrangeiros nos habitantes das comunidades;
- Realizar entrevistas com os moradores mais antigos das comunidades;
- Observar o Toré dançado nas comunidades da região, objetivando relacioná-lo ao ritual praticado por grupos indígenas de regiões próximas.
RESULTADOS:Até então foram feitas pesquisas de caráter bibliográfico e apenas uma pesquisa de campo, com visita a uma das comunidades. As pesquisas revelam que a região estudada foi amplamente disputada por grupos indígenas. Segundo informações históricas, muitas tribos foram contactadas nos séculos XVI e XVII, todas pertencentes aos grupos culturais Tupi e Jê, mas cada uma dotada de suas especificadades. Os estudos permitem afirmar ainda que o principal fator responsável pelo desparecimento de tais grupos seria o rígido sistema de aldeamento implantado na região. Nesse sistema, destacam-se a Missão de Nossa Senhora das Grotas, na ilha do Pontal (Rio São Francisco); a Missão do Pambú, localizada na ilha do Pambu (Rio São Francisco) e pertencente ao município de curaçá (ao que tudo indica este aldeamento foi o principal responsável pela origem do município do Curaçá, sendo atualmente reconhecida pela FUNAI como reserva indígena do povo Tumbalalá); e Missão de São Gonçalo, localizada na foz do Rio Salitre, responsável principalemente pelo aldeamento da tribo Okren, entre outras. Os Okren contactados em 1739 por grupos missionários ocuparam, segundo informações de cronistas, a mesma área geográfica onde está localizado o povoado de Ocrem, fato que pode indicar uma continuidade cultural, a ser futuramente estudada.
Os estudos realizados mostram ainda que as estratégias adotadas pelos índios da região de sobradinho não foram diferentes daquelas adotadas a um nível geral de Nordeste: a assimilação da cultura européia e negação da identidade indígena, visando evitar a perseguição, exploração e mesmo o extermínio a que os muitos grupos indígenas ficaram propensos.
Uma visita ao povoado de Ocrem confirmam o que já havia sido percebido na pesquisa bibliográfica: é comum a presença de pessoas com feições e costumes indígenas. Durante o ritual do Toré, comumente praticado na região sob o nome de tradição popular, são recebidas pelos participantes entidades espirituais, que segundo os moradores, seriam os espíritos dos antepassados que apareceriam visando auxiliar e aconselhar os seus descendentes. A pesquisa de campo revela ainda a forte presença de um sincretismo religioso, com a combinação de elementos característicos de várias crenças religiosas.
Esses são os principais resultados obervsados até então. Porém, como já foi dito, a pesquisa está apenas no início e muito há a ser estudado e trabalhado.
CONCLUSÕES:A referida pesquisa vem permitindo importantes informações sobre os grupos indígenas que habitavam o sertão baiano nas épocas da colonização, propiciando um melhor entendimento de como se deu a o processo de formação do homem sertanejo. Este estudo propiciará ainda um resgate da identidade cultural das comunidades remanescentes das antigas populações originárias do sertão baiano, contribuindo para a sociodiversidade presente historicamente no semi-árido brasileiro.
O processo de expropriação, escravização e extermínio a que foram submetdias as populações originárias brasileiras precisa ser revertido através de ações positivas de valorização de nossas heranças ancestrais. Dessa forma, o estudo poderá fornecer subsídios para o conhecimento da nossa história e valorização dos diversos agentes sociais e culturais que contribuíram ao longo do século para formação do povo brasileiro.
Trabalho de Iniciação CientíficaPalavras-chave: Etnohistória, Etnologia, Povos IndígenasE-mail para contato: ledjaleite@hotmail.com |
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