60ª Reunião Anual da SBPC

INTRODUÇÃO:

Os microrganismos presentes em preparações alimentares denominadas próbióticos, encontram-se viáveis e podem interferir diretamente na composição de microbiota intestinal humana. Esta interferência pode-se dar por competição de microrganismos como Lactobacillus lactis e Lactobacillus acidophilus, presentes nos probióticos, com outros microrganismos patógenos ou não, e esta contaminação está relacionada a nicho e nutrientes. Tais bactérias, ou metabólitos destas podem interagir diretamente com a mucosa intestinal, estimulando peristaltismo e/ou a produção de substâncias com atividades regulatórias sobre funçoes secretórias.. Os mecanismos exatos pelos quais os efeitos benéficos propiciados por espécies de Lactobacillus ocorrem não são conhecidos. Neste contexto, o presente trabalho avalia uma eventual interferência de metabólitos crus de L. lactis e de L. acidophilus, sobre o curso de infecção experimental, induzida em camundongos suíços com duas enterobactérias: E. coli e S. tiphymurium.

METODOLOGIA:

Lactobacillus lactis, Lactobacillus acidophilus, Escherichia coli e Salmonella tiphymurium, foram utilizados. As cepas de Lactobacillus foram cultivadas em caldo BHI, por 120 horas a 37ºC. Depois, foram filtradas em membranas Millipore de 0,45 µm de diâmetro de poro e os filtrados reservados. Enterobactérias foram cultivadas por 24 horas em Agar Nutriente. Destas culturas preparam-se suspensões microbianas em PBS, com 1,5x106 células/mL, que foram usadas em infecção experimental. Camundongos suíços machos, 30 dias de vida e 30 gramas, foram divididos em 4 grupos experimentais: o 1º recebeu 1 ml de metabólitos de Lactobacillus, 2 vezes por semana, durante 60 dias e no 30º dia foi infectado com E. coli ou S. tiphymurium; o 2º grupo foi apenas infectado no 30º dia com uma das duas cepas de enterobactérias; o 3º grupo, recebeu apenas os filtrados de L. lactis ou L. acidophilus; e o 4º grupo nada recebeu. Os animais foram acompanhados por 60 dias, e semanalmente três por grupo foram sacrificados para obtenção de tecido intestinal, que foi macerado e suspenso em solução salina tamponada. Este material foi plaqueadas por “pour-plate” em PCA, para contagem, e superfície em MacConkey Agar, para isolamento e identificação,sendo incubadas a 37ºC por 48 horas.

RESULTADOS:

Os metabólitos de L. lactis e L. acidophilus, foram hábeis em abortar infecção por E. coli, respectivamente em 35 e 60% dos animais infectados. Para os animais que receberam inóculo de S. tiphymurium, a infecção não ocorreu em 25% dos animais que tratados com metabólitos de L.. lactis, e 50% dos animais tratados com metabólitos de L. acidophilus. Os grupos controles apenas infectados apresentaram mortalidade entre 30% (recebendo E. coli) e 45% (recebendo S. tiphymurium). Para os animais infectados que permaneceram vivos até o final do experimento, foram observados sintomas que envolviam além dos sinais clássicos de gastroenterite, caquexia acentuada, perda de pelos, opacidade dos olhos, e feridas na pele e mucosas oral e intestinal. Comparando grupo 01 com grupo 02, percebeu-se melhor estado geral dos animais do grupo 01 (infectados e tratados com metabólitos de Lactobacillus) do que nos animais do grupos 02 (infectados mas não tratados). Além disso, o curso das infecções no primeiro grupo foi bem mais curto, com resolução e cura em 1 semana em média, enquanto no grupo 02 os animais permaneceram doentes por todo o período. A recuperação e identificação das bactérias inoculadas foi possível em todos os animais dos grupos 01 e 02, porém no caso do primeiro grupo apenas nos primeiros 10 a 12 dias.

CONCLUSÕES:

Os resultados obtidos no presente trabalho, sugerem que o os metabólitos de L. lactis e L. acidophilus, apresentaram um efeito protetor contra patógenos intestinais experimentalmente inoculados. Tal atividade é aventada por vários autores, mas refutada por outros tantos. Os primeiros sugerem que seriam metabólitos secundários de Lactobacillus lactis e Lactobacillus acidophilus, os responsáveis pela inibição direta de microrganismos patógenos competidores. Os segundos indicam competição direta por nutrientes e nicho, como o fator mais importante no efeito protetor. ou estimulação do peristaltismo intestinal. Levando-se em conta que muitas espécies de Enterobacteriaceae podem ser causa de infecções intestinais graves, e mesmo de infecções nosocomiais, o uso de metabólitos de L. lactis e L. acidophilus, ao invés de inóculos bacterianos poderiam favorecer a recomposição de microbiota intestinal em pacientes críticos, nos quais possa se considerar risco no aumento da densidade microbiana intestinal. Além disso, melhor caracterizados, estes metabólitos microbianos poderiam transformar-se em alternativas à antibioticoterapia convencional para o controle dos quadros intestinais mais brandos.

Instituição de fomento: Centro Universitário Barão de Mauá

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave: Lactobacillus, probióticos, microbiota normal

E-mail para contato: frrcnjr@hotmail.com