60ª Reunião Anual da SBPC




H. Artes, Letras e Lingüística - 1. Artes - 7. Música e Dança

A FLAUTA DOCE NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO MUSICAL DE JOVENS COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA

Arleth Gonçalves Macedo1
Francis Marques Otto de Camargo Santana1
Edna Aparecida Costa Vieira1
Nilma Abrantes Bittencourt1

1. CENTRO DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM ARTES BASILEU FRANÇA


INTRODUÇÃO:
É incontestável a presença da música na vida dos seres humanos. São inúmeras as pesquisas sobre seus efeitos na cognição, no processo de alfabetização formal, na sociabilidade e outros. Como arte ímpar, a música mobiliza o sujeito a uma experiência estética fazendo-o descobrir a possibilidade de criar, expressar sentimentos, emoções e reproduzir sons. A música como forma de comunicação e poder de atuar no mundo interno do sujeito (seja surdo ou ouvinte), propicia descontração, liberdade, criatividade, comunicação e afetividade. Nos sujeitos com deficiência auditiva (DA), seja qual for o grau de perda auditiva (leve, moderada, profunda), a música beneficia a inteligibilidade da fala, no que diz respeito à entonação e o ritmo. Estudos de Vieira, Borges e Leão (2003), sobre a influência da flauta doce no processo de alfabetização musical mostram dados significativos e a sua importância neste processo. Os estudos de Cervellini (2003) pressupõem a necessidade e a sua importância de expor o deficiente auditivo o mais cedo possível ao estudo da música. A música para o deficiente auditivo pode possibilitar a aproximação da realidade do ouvinte e a realização pessoal. Alguns estudos revelam o uso da música como complementação ao treinamento auditivo para desenvolver habilidades de altura, intensidade do som, discriminar timbres com o objetivo de melhorar a fala. A música como fonte de prazer e experiência estética raramente se faz presente. Vivenciá-la torna-se um obstáculo quase intransponível. A pesquisa fundamentou-se nos pressupostos de educadores musicais que utilizam o método Dalcroze e pesquisadores que evidenciam a relevância da música na vida do ser humano. Objetivou verificar a alfabetização musical de sujeitos com deficiência auditiva. Baseou-se na hipótese de que o DA mesmo com grau profundo de audição, possui algum resíduo auditivo, portanto, pode tocar um instrumento.

METODOLOGIA:
O estudo experimental foi durante o segundo semestre de 2006. Estudou-se seis sujeitos com faixa etária entre 16 e 23 anos, matriculados numa escola estadual de música na cidade de Goiânia-Go. Três sujeitos com deficiência auditiva (DA/sem o uso de aparelho) e três sujeitos ouvintes. Os sujeitos até então não haviam freqüentado aula de música. Os sujeitos tiveram aula uma vez por semana e duração de cinqüenta minutos. Os sujeitos DAS apresentam perda auditiva profunda. Evidencia-se que portadores de DA com grau profundo apresentam algum resíduo auditivo. Baseando nesta hipótese, estimulou-se a aprendizagem através de instrumentos de percussão, movimentos corporais, treinamentos respiratórios. A alfabetização musical e a performance foi com um instrumento facilitador desta aprendizagem, a flauta doce. Durante as sessões/aulas uma interprete da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) fazia-se presente. As pesquisadoras (educadora musical, educadora de apoio a pessoas com necessidades especiais e uma fonoaudióloga) tinham aulas de LIBRAS. Para não se perder nenhum dado, as sessões/aulas foram filmadas e fotografadas. As sessões/aulas seguiram os seguintes passos:1) atividades de respiração; 2) movimento corporal com respiração; 3) treinamento rítmico com mãos e pés; 4) exploração com instrumentos de percussão; 5) audição de melodias no piano sentindo a sua vibração; 6) leitura musical simultânea: lousa e flauta doce; 7) a escrita era vivenciada através de jogos pedagógicos musicais e praticada na flauta e em casa; 8) na sessão/aula seguinte as atividades eram corrigidas e eram introduzidos novos elementos.

RESULTADOS:
Os resultados foram das observações e da análise dos dados evidenciados pelos vídeos. As audições e as execuções individuais e em grupo foram significativas. Ficou evidente que os sujeitos aprimoraram a percepção rítmica e melódica. Os DAS se comparados com os ouvintes, apresentaram melhora na auto-imagem, na expressão da sensibilidade, na criatividade, na individualidade, na comunicação e na musicalização. A música despertou a alegria de tocar um instrumento, a vontade de vencer obstáculos até então pensados serem intransponíveis. Abandonaram a tensão, a tristeza e a agressividade segundo depoimento das mães. A percepção auditiva e a habilidade motora foram gradativas para ambos os sujeitos nos dois primeiros meses acelerando no final do estudo. Os sujeitos ouvintes demonstraram paciência, cooperativismo e afetividade para com os colegas DAS. A música estimulou a relação de inclusão e a vida social dos DAS. Considera-se que a produção musical dos sujeitos bem como a troca de experiência do grupo contribuiu para a persistência na elaboração e execução das atividades vivenciadas durante o estudo. Ambos os grupos apresentaram boa performance, perfeita afinação e aprendizagem significativa não havendo diferença dos grupos.

CONCLUSÕES:
A observação dos elementos determinantes do resultado do processo de alfabetização musical, evidenciados pelos vídeos, e pela performance final foi significativa. A musicalização dos sujeitos observados atingiu o grau de conhecimento além do preliminar. Apresentaram auto-controle na execução das peças e obtiveram melhora no desempenho criativo sonoro musical produzindo mais idéias sonoras. A habilidade motora, a compreensão e domínio da respiração, essenciais na execução de qualquer instrumento foram exatos. A percepção rítmica e auditiva através de instrumentos de percussão favoreceu a performance na execução de melodias na flauta doce. Considera-se que o estudo promoveu não só as mudanças importantes para a vida dos sujeitos bem como a possibilidade de inclusão.



Palavras-chave:  Música, Inclusão, Cognição e deficientes auditivos

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