60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 5. História - 8. História Regional do Brasil

OS IMPACTOS SÓCIO- AMBIENTAIS E ECONÔMICOS DO DESENVOLVIMENTO AGRÍCOLA DA REGIÃO CENTRO- OESTE (1970-1980)

RENATA CRISTINA DE SOUSA NASCIMENTO1, 2

1. Universidade Federal de Goiás
2. Faculdades Alves Faria- ALFA


INTRODUÇÃO:
A expansão da fronteira agrícola é um processo marcado pela alteração das bases produtivas no meio rural, as quais passam a se assentar sobre mudanças no padrão tecnológico. De maneira bem simplificada, é a difusão de tecnologia moderna no campo.“A fronteira agrícola e a alteração do padrão tecnológico no meio rural, que justamente a caracteriza, se expandiu para as áreas de cerrado a partir dos anos de 1970 e 1980. Constitui uma das fases do processo de expansão capitalista no país o qual encontra no campo um lócus de acumulação de capital.” (FERNANDES, Arissane D. 2007, 1) “Em comparação ao Sul/Sudeste do país em Goiás essas alterações correram somente cerca de 15 anos depois. Dentro do processo produtivo, fatores como a fertilidade natural dos solos e condições de escoamento da produção –proximidade com os centros consumidores – adquiriram importância fundamental para a expansão da fronteira agrícola. Por isso é que o Sul / Sudoeste de Goiás, agregando esses dois elementos, tornaram-se regiões pioneiras na produção agrícola dentro do estado.” (FERNANDES, 2007, 4) Assim, áreas antes consideradas improváveis para a agricultura - por sua baixa fertilidade, por exemplo – acabaram possibilitando a expansão da fronteira pela tecnologia. Nesse processo, a fertilidade natural dos solos não seria mais tão decisiva na produção quanto a tecnologia passou a ser, a qual juntamente com fatores geográficos (tais como a topografia e relevo) adquiriu importância essencial na prática agrícola. (MIZIARA , 2005). É o que Graziano da Silva (1981) chama de “fabricação de terras”, ou seja, um aumento da produção a partir da incorporação de tecnologia e não mais de novas áreas, as quais acabariam por se esgotar (seja um esgotamento natural dos solos ou a indisponibilidade de terras “livres” a serem ocupadas). Em linhas gerais, os estudos voltados a essa temática demonstram haver uma tendência de aumento na produção das denominadas culturas de exportação, estando dentre elas o milho e a soja, em detrimento de uma menor produção de culturas-base da dieta alimentar brasileira, tal como o são o arroz e o feijão, quando da tecnificação do meio rural no país. Ocorre portanto, uma ênfase nas culturas de exportação. A análise dos impactos sócio - ambientais e econômicos relacionados à ampliação da fronteira agrícola no Centro - Oeste reflete dois momentos históricos específicos: Se num primeiro momento o aumento da produção, e isso a nível nacional, se deu pela incorporação de novas áreas ao processo produtivo, a posteriori essa produção seria determinada pela utilização de tecnologia tanto na agricultura quanto na pecuária. Os cerrados entre as décadas de 1970 e 1980, foram alvo de uma grande mudança, a qual contribuiu para o crescimento da agricultura brasileira. É neste contexto histórico que se insere esta pesquisa. Nossa intenção é analisar os impactos sócio- ambientais da produção de grãos no Centro Oeste e, de modo especial, no estado de Goiás com a chegada da fronteira agrícola à região. Para tanto elegemos a cultura da soja. Este projeto se justifica a partir da necessidade de compreensão do universo regional e local do Centro- Oeste brasileiro, sobretudo seu desenvolvimento sustentável. O processo de reestruturação econômica no Brasil resultou na organização das economias agrárias regionais e em mudanças na divisão inter - regional do trabalho em nível nacional. Goiás tem tido um importante papel nessa distribuição espacial das atividades econômicas do país. Se por um lado houve após a modernização da agricultura um desenvolvimento real o reflexo deste desenvolvimento econômico foi muito grande e prejudicial ao meio ambiente. “ O advento da Revolução Verde, ocorrido principalmente na década de 1970, com a adoção das novas tecnologias utilizadas para elevação da produtividade agrícola, contribuiu substancialmente para a deterioração do meio- ambiente.” (MEDEIROS, 1998.127) As alterações à nível social também se fizeram presentes, sendo ainda mais intensas.

METODOLOGIA:
Nos fins do século XIX e início do século XX o Sudoeste Goiano esteve economicamente atrelado à criação de gado, em grandes propriedades. “Já à partir da década de 1970, com a incorporação dos cerrados goianos à fronteira agrícola, essa região tornou-se o berço agrícola exportador do estado, com a soja como principal cultura regional” (ARRAIS, 2006,38) Para a compreensão de todas estas mudanças oriundas da inserção da tecnologia no campo adotamos as cidades de Rio Verde, Jataí, Mineiros e Chapadão do Céu ( todas pertencentes à microrregião Sudoeste do Estado) como lócus principal da pesquisa. A metodologia adotada baseia -se em pesquisas de campo, englobando os sindicatos rurais e as secretarias de turismo e/ou meio ambiente das prefeituras destas cidades. Também é importante a análise dos dados do IBGE. Utilizaremos as estatísticas sobre a incorporação de áreas do cerrado para a intensificação da produção da soja . A análise dos impactos sócio- econômicos durante a década de 1970- 1980 sobre a zona rural serão mapeados através de um levantamento da estrutura fundiária e ocupação agrícola da região sudoeste antes e depois da soja. Todo o material de pesquisa existente na Embrapa que englobe o período pesquisado também será de grande valor para a pesquisa. Sobre Jataí e Rio Verde o material é bastante rico.

RESULTADOS:
Para a análise dos impactos sociais produzidos pelo aumento da tecnologia na zona rural é necessário que nossa pesquisa também se paute nos Censos Agropecuários do IBGE como fonte importante de conhecimento da realidade que se apresenta no campo e suas inter- relações com o meio ambiente. Sabe-se que a concepção dominante de desenvolvimento econômico em sua essência sufoca e homogeniza as possibilidades de construção de uma sociedade vinculada e inter-relacionada ao meio ambiente que a cerca. E o campo ressurge, representado por diversos movimentos sociais que demandam terra e trabalho, direitos e usos diferenciados do solo. É esse todo social que nos interessa enquanto objeto de pesquisa. A análise dos impactos sociais impulsionados pelo aumento da produção de grãos na região Sudoeste do estado de Goiás deverá, em nossa pesquisa destacar: Os fluxos migratórios, a formação da classe de empresários rurais da sojicultura, Intervencionismo estatal através da adoção de “políticas de desenvolvimento”, a importância do associativismo para o desenvolvimento da soja nos cerrados e o papel da pequena produção familiar neste contexto. O desmatamento do cerrado ocorrido desde a expansão da fronteira agrícola se reflete enormemente nos dias atuais. Em menos de trinta anos desmatou-se indiscriminadamente a cobertura vegetal original de cerrados especialmente para a monocultura da soja, este desmatamento produz efeitos sociais violentos, especialmente sobre o pequeno produtor. Das 18 microrregiões que segundo o IBGE representam as particularidades do Estado é a região Sudoeste que mais nos interessa, onde os impactos produzidos pela modernização da agricultura são bastante visíveis especialmente após a introdução da cultura da soja.

CONCLUSÕES:
A soja, nessa microrregião, é responsável por boa parte da renda gerada pela agricultura, seja por meio da exportação de grãos, do farelo, seja mediante o beneficiamento dessa para a produção de óleo e ração animal nas agroindústrias. Atualmente no município de Jataí também se dá a inserção do cultivo da cana de forma mais intensiva para suprir as usinas em fase de implantação. O grande problema são os impactos sobre a natureza e sobre as formas de viver do homem do campo. A produção da monocultura da soja reforça a concentração de terras excluindo não só as culturas tradicionais com as de arroz e feijão, base da dieta alimentar das camadas mais pobres, mas também o pequeno produtor.

Instituição de fomento: FUNADESP/ Faculdades Alfa



Palavras-chave:  Fronteira Agrícola, Meio-Ambiente

E-mail para contato: rntcrsss@terra.com.br