60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 5. História - 9. História Social

A MODERNIDADE DO ESPAÇO URBANO-CITADINO DO SUL DE MATO GROSSO NAS REPRESENTAÇÕES DE UM VIAJANTE DA NOB (DÉCADA DE 1930)

Nataniél Dal Moro1

1. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP)


INTRODUÇÃO:
Não foram poucos os viajantes que saíram do leste do Brasil em direção aos Estados do oeste brasileiro. Porém, são relativamente poucas as anotações feitas por estes viajantes. Alguns dos mais lembrados são, seguramente, Rugendas e, sobretudo, Taunay. Este último fez anotações sobre o sul da então Província de Mato Grosso, com destaque para a chamada Guerra contra o Paraguai (1864-1870). Até o início do século XX, o trajeto dos viajantes se dava obrigatoriamente por via fluvial e/ou terrestre. Uns saíam da Europa com destino ao Rio de Janeiro, dali tomavam um outro navio até Buenos Aires e, lá chegando, pegavam uma outra embarcação que os levava até Mato Grosso (MT). Corumbá e Cuiabá eram as cidades mais visadas. Outra parte ia para o oeste servindo-se das duas vias de comunicação: ora fluvial, ora terrestre. Com a construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (NOB), a situação foi alterada significativamente. Em 1914 já era possível ir de Campo Grande para São Paulo por via férrea. Esta realidade facilitou e intensificou a chegada de muitas pessoas no oeste. Alguns destes viajantes tiveram o cuidado de externar suas representações sobre a região. Rezende Rubim foi um deles. Portanto, o objetivo central é o de externar e, na medida do possível, analisar as representações elaboradas por Rubim sobre o espaço urbano-citadino de algumas cidades do sul de Mato Grosso, sobretudo das cidades que no início da década de 1930 tinham a linha férrea da NOB como principal meio de transporte e de comunicação com o leste do Brasil.

METODOLOGIA:
Uma significativa parte dos “poucos” relatos de viajantes sobre o então sul de Mato Grosso ainda não foi publicada. Outra parte carece de reedições. Além disso, alguns relatos sequer são conhecidos pela comunidade acadêmica e pela sociedade em geral. Ao consultar a Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e o Boletim Paulista de Geografia encontrei alguns textos sobre a referida questão. É bom que se diga que existem várias outras publicações, contudo, acho importante destacar algumas, tais como as de Armando de Arruda Pereira: “Heroes abandonados: peregrinação aos lugares historicos do sul de Matto Grosso” (1925) e “No sul de Matto Grosso” (1928). De Monteiro Lobato: “De São Paulo a Cuiabá” (1951). Já de Pierre Deffontaines e de Aroldo de Azevedo consta o artigo “Paisagens de Mato-Grosso” (1956). Embora estas publicações abordem, de uma forma ou de outra, o sul de Mato Grosso, é numa obra de Rezende Rubim, intitulada “Reservas de brasilidade”, publicada em São Paulo no ano de 1939 pela Companhia Editora Nacional, que se pode ter um entendimento mais amplo, e isso por meio das representações externadas por este viajante, do espaço urbano-citadino de algumas cidades do sul de Mato Grosso. Sendo assim, realizei leitura, destaquei as observações de Rubim sobre o espaço em questão, sempre com o objetivo de externar e analisar as representações elaboradas por Rubim sobre o respectivo espaço urbano-citadino das seguintes municipalidades: Três Lagoas, Campo Grande, Aquidauana, Miranda e Corumbá.

RESULTADOS:
Rezende Rubim auto-denominou-se como um sujeito que visava, por meio do seu livro “Reservas de brasilidade”, desmistificar a concepção que algumas pessoas do leste do Brasil, segundo ele mal-informadas, tinham sobre a região amazônica e o Estado de Mato Grosso. Dividido em duas partes, na primeira Rubim dissertou a respeito da Região Norte do Brasil, com particular destaque para o Estado do Pará. Na outra parte da obra o então segundo maior Estado do Brasil à época, Mato Grosso, recebeu os comentários do viajante em questão. Dos nove capítulos da segunda parte do livro, em apenas dois deles constam quase todas as representações emitidas por Rubim sobre a modernidade do espaço urbano-citadino de algumas municipalidades do sul de MT, em especial o espaço público das cidades, dando até a impressão de que a maior parte deste relato foi feito com base apenas no que o viajante via da janela do trem. De forma bem ampla, pode-se dizer que Rubim, por meio de suas representações, externou as cidades do sul de Mato Grosso como inseridas parcialmente na modernidade vinda do Estado de São Paulo (SP). Os trilhos da NOB, as mercadorias compradas e os viajantes vindos de outras plagas, por exemplo, eram indicativos seguros dessa modernidade paulista que se estendia além dos limites territoriais do Estado de SP.

CONCLUSÕES:
Embora Rubim tivesse como propósito desmistificar a concepção errônea que, segundo ele, pairava sobre parte dos sujeitos do leste do Brasil, qual seja, a de que o oeste era uma terra incivilizada, sem lei e sem progresso, o mesmo não ocorreu de todo. Rubim explicitou e enalteceu vários feitos do que se pode chamar de modernidade urbano-citadina existente no sul de MT. Elogiou a estruturação das vias públicas, o estilo moderno das construções, a existência de clubes de festa, a atuação do poder público, o dinamismo comercial e a quantidade de moradores em cidades como Campo Grande e Corumbá. Todavia, a maior parte das representações emitidas por Rubim foi seguida de comentários quase sempre contraditórios ao espaço urbano-citadino. Por exemplo, ao dizer que a cidade de Corumbá tinha “clubs modernos”, que nada ficavam devendo aos melhores clubes da Capital Federal da época, disse que a água do rio que enchia uma das piscinas tinha grande quantidade de peixes carnívoros. Sendo assim, se por um lado as representações do viajante Rubim contribuíram para desmistificar alguns pontos sobre a realidade urbano-citadina do sul de MT, acabaram por criar outros. De toda forma, os escritos de Rubim possuem elementos expressivos para que se possa pensar a história da região sul do Estado de MT, área que a partir do dia 11 de outubro de 1977 passou a compor o território do Estado de Mato Grosso do Sul. Por fim, penso que para uma compreensão mais detalhada desta questão é imprescindível que se faça uma leitura da obra “Reservas de brasilidade”.

Instituição de fomento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)



Palavras-chave:  História Social, Modernidade do espaço urbano-citadino, Representações

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