60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 3. Filosofia - 2. Filosofia

O PROBLEMA DA CONSCIÊNCIA SEGUNDO A FILOSOFIA SEARLEANA DA MENTE

Raimundo Nonato Araujo Portela Filho1
Carmem Maria Almeida Portela1

1. Departamento de Filosofia, Universidade Federal do Maranhão (UFMA), São Luís-MA


INTRODUÇÃO:
O filósofo estadunidense John Searle, nascido em 1932, procura criticar e superar duas tradições prevalecentes no estudo da mente: a materialista e a dualista. Ele concebe a consciência como o fenômeno mental mais relevante. Além disso, ele sustenta que podemos aceitar o fato patente da física, a saber, que o mundo consiste inteiramente de partículas físicas dentro de campos de força, sem negar que entre as características físicas do mundo há fenômenos biológicos, tais como os estados internos qualitativos de consciência. Conforme Searle, nossa imagem do mundo, apesar de bastante complicada em suas minúcias, proporciona uma explicação muito simples do modo de existência da consciência. Segundo a teoria atômica, o universo é constituído de partículas que estão organizadas em sistemas, alguns destes são vivos e tais tipos de sistemas vivos evoluíram por extensos períodos de tempo. Entre eles, alguns desenvolveram cérebros que são capazes de causar e sustentar consciência. Por conseguinte, de acordo com Searle, a consciência é um fenômeno biológico natural.

METODOLOGIA:
Efetiva-se uma pesquisa bibliográfica tendo-se com referencial teórico alguns textos de John Searle, a saber: Minds, Brains and Programs (1980), Minds , Brains and Science (1984), The Rediscovery of the Mind (1992) e The Mystery of Consciousness (1997), assim como textos de alguns outros autores que abordam o problema da consciência no contexto da filosofia da mente. Apresenta-se o que Searle quer significar por consciência, conquanto ele diga que como ocorre com a maioria das palavras, não é possível formular uma definição de “consciência” em termos de condições necessárias e suficientes, nem é possível defini-la à maneira aristotélica, via gênero e diferença. Explicita-se, outrossim, o que ele entende por problema da consciência. Em seguida, discorre-se sobre algumas dificuldades apontadas por Searle na questão da consciência e sua relação com o cérebro. Por último, tiram-se algumas conclusões.

RESULTADOS:
Searle entende a consciência como uma característica biológica de cérebros de seres humanos e determinados animais, sendo causada por processos neurobiológicos, além de ser uma parte da ordem biológica natural tanto como quaisquer outras características biológicas, tais como a fotossíntese, a digestão ou a mitose. O problema da consciência, por sua vez, consiste em explicar como os processos neurobiológicos no cérebro causam nossos estados subjetivos de ciência (awareness) ou sensibilidade (sentience), como esses estados são percebidos nas estruturas cerebrais, como a consciência funciona na economia global do cérebro e, portanto, como ela funciona em nossas vidas em geral. Conforme Searle, a relação consciência - cérebro prossegue de certo modo confusa desde os gregos antigos até os mais recentes modelos computacionais de cognição. Ele aponta e busca esclarecer algumas dificuldades bem como procura corrigir alguns dos erros que segundo ele são os piores na história, tais como: o dualismo cartesiano; a suposição de que processos cerebrais como causas e estados conscientes como efeitos sejam relações causais que devem ocorrer entre eventos distintos ordenados seqüencialmente no tempo; o problema dos qualia e a consideração bastante literal da metáfora da mente como computador.

CONCLUSÕES:
De acordo com Searle, aceitar o dualismo é negar a imagem científica de mundo atingida com muito esforço ao longo de vários séculos. Ele propõe um naturalismo biológico não redutivo. Para Searle, o cérebro é uma máquina biológica que pode pensar e é possível, em tese, construir cérebros artificiais que sejam capazes de pensar. Ademais, os cérebros humanos às vezes computam. Conseqüentemente, levando em conta uma certa definição de computador, os cérebros são computadores, pois computam. Assim, alguns computadores podem pensar. Sendo o cérebro uma máquina orgânica, os seus processos são processos orgânicos mecânicos, como as descargas neuronais. Todavia, a computação não é um processo automatizado como as descargas neuronais. Ela é um processo matemático abstrato, que existe somente em relação a observadores e intérpretes conscientes. A computação tem sido implementada em máquinas elétricas à base de silício, porém isto não a torna algo elétrico ou químico. Embora os computadores sejam ferramentas úteis para simular os processos cerebrais, não se pode defender a idéia de que eles nos forneceriam um modelo para solucionar nossas preocupações científicas e filosóficas mais profundas concernentes à consciência, à mente e ao eu.



Palavras-chave:  Filosofia da Mente, John Searle, Problema da Consciência

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