60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E VIOLÊNCIA ESCOLAR: ALUNOS, PAIS E PROFESSORES EM ESCOLAS DA PERIFERIA DO RECIFE – PE

VICENTE CELESTINO DE FRANÇA1, 2

1. ESCOLA MUNICIPAL VASCO DA GAMA
2. PROJETO CULTURA DE PAZ


INTRODUÇÃO:
A violência é uma das questões sociais mais relevantes dos nossos dias. Nas sociedades latino-americanas contemporâneas e, em especial no Brasil, tem sido colocada como uma questão pública de urgência, dada à extensão e a qualidade de sua manifestação. Estatísticas nacionais publicadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2004), indicam que no Brasil, nos últimos vinte anos, ocorreram 2,07 milhões de mortes por causas externas. Sendo 82% do total de mortes de homens e destes, 598.367 mortos por homicídio. Na mesma pesquisa, o Estado de Pernambuco lidera o ranking nacional de violência, pois no mesmo período analisado, ocorreram 61.241 mortes por assassinato, representando 54 mortes por cem mil habitantes. E cidade do Recife, tem uma taxa de 221,3% de homicídios de jovens entre quatorze e vinte e quatro anos. Assim sendo, pode-se afirmar que vivemos uma verdadeira guerra urbana com crescente nível de violência. Diante desta configuração escolhemos como objetivo neste trabalho conhecer as Representações Sociais, sobre a Violência Escolar dos Professores, Pais e Alunos em escolas da periferia da cidade do Recife. Por ser esta região do nordeste brasileiro, marcada por grande exclusão e detentora de um dos mais altos níveis de violência do Brasil.

METODOLOGIA:
Optamos por uma pesquisa qualitativa e exploratória do tipo Estudo de Caso e tem por objetivo conhecer as Representações Sociais sobre a Violência Escolar de Alunos, Pais e Professores em Escolas de Periferia da Cidade do Recife. Para tanto, decidimos utilizar os seguintes instrumentos: Observação, Entrevistas, Técnicas de Desenho e Técnica de Associação de Palavras. A utilização destes instrumentos possibilitou encontrar as fontes das representações sociais sobre a violência escolar dos sujeitos pesquisados no contexto social, familiar e escolar. Os dados foram analisados através da análise de conteúdo temático (Bardin apud Minayo, 1994). A pesquisa foi realizada em duas escolas municipais do Bairro de Água Fria, Recife-PE, com doze crianças (seis alunos e seis alunas) da quarta série das duas escolas. Destacamos a utilização dos desenhos e de sua interpretação como elemento revelador das representações sociais dos alunos. Entrevistamos doze pais ou responsáveis (seis de cada escola) como estratégia de verificação da interação entre violência familiar e escolar. E por fim, entrevistamos duas professoras das quartas séries pesquisadas para obter com suas opiniões e depoimentos as representações de suas experiências com a violência na escola, na família e na sociedade.

RESULTADOS:
Os instrumentos usados na pesquisa, como entrevistas, técnica de associação de palavras com desenho, possibilitaram a concretização de nossos objetivos, a análise e a comparação dos dados e a visualização das Representações Sociais da violência escolar. Detectamos nesta pesquisa as Representações Sociais da violência escolar vivida e pensada pelos pais, professores e alunos assim ordenados: Os pais representam à escola como um lugar de conflitos, visto que na pesquisa eles apresentam uma representação negativa da escola. Para eles a escola é um lugar muito violento, pela ação agressiva dos alunos, dos professores, dos próprios pais e dos agentes externos que atuam no entorno de cada escola. Verificamos que os professores, imprescindível elemento na condução do saber, representaram a escola como espaço de contradições e conflitos que abalam a prática docente. Dentre eles, a desvalorização profissional, os baixos salários, a queda na qualidade do ensino e o enfrentamento das agressividades e da violência. As crianças representam a escola não como um mundo de paz e harmonia, mas como um mundo fechado sobre si mesmo, aprisionando-os numa trama de lutas e agressões. A violência presente nos grafismos representa, a violência social e a falta de políticas públicas inclusivas.

CONCLUSÕES:
As Representações Sociais não estão como um elemento casual, elas estão impregnadas de força, de contrastes e poesias. Elas não são produzidas no isolamento, por isso compõem-se de tanta riqueza e desafia todas as dimensões a uma compreensão mais rígida. As crianças, pais e professores que integram o nosso estudo, fazem parte de uma sociedade relacional-dinâmica. E suas falas, comentários e desenhos revelam seu modo de vida, sua cultura, enfim, como cada indivíduo vivendo a dialética social, influencia e é influenciado pelo meio social. Este é o palco no qual as representações sociais são reveladas, isto é o palco da vida em sociedade. Finalizamos com a certeza de que aprendemos com a pesquisa, e que apesar das marcas e cicatrizes da violência é possível vislumbrar, mesmo na aparente escuridão de uma cultura de morte, a luz e um movimento, que na fragilidade de seus passos, apontam com a força de seu pequeno brilho, para uma nova cultura, a cultura de paz. E neste sentido, efetivação desta pesquisa nos levou a uma ação concreta junto às comunidades educativas da periferia da cidade do Recife com a fundação da ONG Cultura de Paz, trabalhando nas escolas de área de risco, oficinas de prevenção à violência escolar atualmente em excussão na Escola Municipal Vasco da Gama.

Trabalho de Professor do Ensino Básico ou Técnico

Palavras-chave:  Representações Sociais, Escola, Violência

E-mail para contato: vicentecfranca@gmail.com