60ª Reunião Anual da SBPC




H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 1. Literatura Brasileira

MONTEIRO LOBATO E SEU PROJETO NACIONAL NO SÍTIO DO PICAPAU AMARELO

Elisângela da Silva Santos1
Célia Aparecida Ferreira Tolentino1

1. Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais da Universidade Estadual Paulista


INTRODUÇÃO:
A presente pesquisa tem como objetivo analisar sociologicamente qual seria o “projeto” de nação – compreende-se nação como um projeto político social – na obra destinada ao público infantil de Monteiro Lobato (1882-1948), conhecida também como uma literatura pedagógica. Neste sentido, acreditamos na possibilidade de o autor ser visto como integrante da galeria dos nossos pensadores sociais, pois nossa hipótese é que em seu gênero literário infantil ressoa uma visão de país, um diagnóstico e um projeto de futuro para o Brasil. Desta forma, colocaremos na ordem do dia a possibilidade de tomar esta literatura como um elemento de compreensão da realidade social brasileira a partir da qual foi composta (nos anos 20 e 30 do século passado). Assim, pretendemos ver em Lobato uma crítica da sociedade em que vivia, pois é um escritor que além de estar preocupado com as questões estéticas e lingüísticas do seu tempo sempre esteve atento também em formular críticas à nossa “parasitia intelectual”, aos intelectuais e a elite que, segundo ele, assistia de braços cruzados aos diversos problemas de ordem social política e econômica, sem propor alternativas de mudanças.

METODOLOGIA:
Por meio dos quatro livros de Monteiro Lobato priorizados para a análise, Serões de Dona Benta (1937), Reinações de Narizinho (1932), Histórias de Tia Nastácia (1937) e O Poço do Visconde (1936), pretendemos investigar o projeto de nação presente no Sítio do Picapau Amarelo. Conforme afirmou Antonio Candido (1967) em Literatura e sociedade, a compreensão do fenômeno literário deve considerar a conjunção do conteúdo e forma na obra de arte, para desse modo compreender a representação social no texto literário e seu condicionamento narrativo feito de fatores internos e externos. Nesta conjunção definida pelo crítico, entendemos que é possível encontrar o através da narrativa e o pensador social, ou seja, Monteiro Lobato colocando as questões do seu tempo a partir dos personagens e temas de suas histórias.

RESULTADOS:
Lobato como homem atento às mudanças, acontecimentos do mundo, e à herança do pensamento iluminista, vislumbrou em seus textos industrialização, progresso, educação, ciência e igualdade. Observamos que a figura do Visconde de Sabugosa denota o intelectual não existente na realidade: personificado em uma espiga de milho, temos um sábio voltado para a ação que segue uma conduta pragmática, ao contrário dos reais intelectuais brasileiros, sempre criticados por Lobato, por serem desprovidos, conforme o autor, de um pensamento progressista e subversivo em relação à economia atravancada e atrasada do país. Daí a necessidade de alguém que informasse e formasse os agentes transformadores da nação, as crianças. Esta formação teria como base uma crítica à nossa falta de exploração dos recursos naturais e falta de industrialização, aspectos vistos pela narrativa como responsáveis pela permanência do país no seu profundo estado de paralisia em relação à modernização.

CONCLUSÕES:
Narizinho, Pedrinho e a boneca Emília, as “crianças-modelos”, além da formação educacional uniforme que elas recebem, sempre com vistas ao futuro da nação consolidado sobre bases racionais, também apontamos para o fato de como cada personagem reage frente a aspectos ligados às suas personalidades, uma vez que cada uma representa algum ponto positivo que auxilia no desenvolvimento nacional. Quanto ao povo que faria parte desta nação, observamos que Tia Nastácia e Tio Barnabé são os representantes desta parcela neste espaço do sítio, por meio destas personagens tentamos observar – comparando com outros trabalhos do autor – como as personagens negras aparecem também em suas obras “para adultos”, o que nos fez notar que sua criação aparece desenhada de acordo com um processo, resultando em uma forma não unívoca, tal como o lugar destinado ao povo no Sítio/Nação.

Instituição de fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo



Palavras-chave:  Literatura infantil, Sociedade Brasileira, Pensamento Social

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