60ª Reunião Anual da SBPC




H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 6. Literatura

KAFKA: ALEGORIA DO ESQUECIMENTO

Patrícia da Silva Santos1
Leopoldo Waizbort1

1. Programa de Pós Graduação em Sociologia da Universidade de São Paulo


INTRODUÇÃO:
A pesquisa tem como objeto algumas narrativas curtas do escritor tcheco Franz Kafka (1883-1924), um dos mais aclamados escritores da literatura moderna. Têm-se como objetivo a verificação de como a realidade é exposta nessa literatura, partindo-se da concepção da necessidade de se investigar a história e a sociedade não apenas através da narrativa enquanto ciência, mas também enquanto literatura. Sobretudo, a pesquisa procura demonstrar que mesmo num escritor que transfigura a realidade com imagens simbólicas como é o caso de Kafka, é possível verificar o desdobramento histórico social na obra literária. A investigação baseia-se principalmente na perspectiva do esquecimento que cruza a obra de Kafka a partir de múltiplos âmbitos e que aponta para o contexto geral da “doença da tradição”, conforme apontado por Walter Benjamin em sua leitura do escritor tcheco.

METODOLOGIA:
O trabalho baseia-se fundamentalmente na análise filológica das narrativas selecionadas. Entende-se por filologia o sentido amplo dado por Auerbach que compreende a “totalidade da vida social”. Assim, baseando-se em teóricos como Walter Benjamin, Erich Auerbach, Georg Lukács, Theodor Adorno e Antonio Candido, procura-se analisar a forma literária e, nesse sentido, a maneira como o social se sedimenta nela. Para tanto, faz-se também uma investigação ampla da fortuna crítica de Franz Kafka.

RESULTADOS:
Kafka é um dos escritores modernos que melhor expressam a consciência aguda da temporalidade e, nesse sentido, sedimentou em sua literatura a exposição da realidade de maneira totalmente inovadora. À sobriedade da língua junta-se a hesitação do conteúdo e, nesse contexto, é possível reconhecer uma espécie de aporia lingüística que aponta para a desconfiança frente à linguagem que, por sua vez, é uma desconfiança frente à própria realidade. A inclusão de períodos de tempo grandiosos (referências à cultura grega clássica ou à chinesa, por exemplo) prende-se também a essa consciência temporal e faz com que o tempo presente (tempo da ação) esvazie-se de sentido.

CONCLUSÕES:
Até o presente momento, as conclusões apontam para a verificação de que de fato os elementos da literatura kafkiana conduzem a novas funções para a linguagem literária e, conseqüentemente, novas formas de exposição da realidade. A análise filológica dos textos demonstra que a fragmentação, a posição do narrador, os temas insólitos que se juntam a perspectivas cotidianas, a utilização de inúmeras conjunções adversativas, entre outros elementos, estão aliados a uma nova forma de conceber o par memória – esquecimento, na qual o tempo da ação é cada vez mais deslocado para uma paralisia, que expressa a desorientação dos sujeito individuais na modernidade.

Instituição de fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp)



Palavras-chave:  Literatura, Linguagem, Realidade

E-mail para contato: patricia215@gmail.com