60ª Reunião Anual da SBPC




H. Artes, Letras e Lingüística - 1. Artes - 8. Teatro e Ópera

GRUPO TEATRAL DIRETO DO RIO: RESISTÊNCIA E REPRESENTAÇÃO EM RIO BRANCO/AC (1988)

Elderson Melo de Melo1
Cláudia Mariza Braga1, 2

1. Instituto de Artes / UNICAMP
2. Prof. Dr. / Orientador


INTRODUÇÃO:
Na década de 1980, o Acre resistia a um forte processo de desestruturação sócio-econômica, resultado do fim dos seringais e da imigração maciça dos seringueiros para cidade, além da mudança do governo, com o fim da Ditadura Militar. Nesse processo, o teatro foi utilizado por grupos sociais como forma de militância política, permitindo a fixação dessa linguagem artística no estado e possibilitando a organização dos primeiros grupos de teatros amadores do Acre. O Grupo Direto do Rio, formado nesse período, era composto pelos artistas Dinho Gonçalves, Ivan di Castella, Rogério Curtura, Antônio de Alcântara e Alexandre Nunes. Esses são importantes artistas da história teatral acreana, pois sempre produziram cenas teatrais de relevância cultural e política, dirigindo, posteriormente, importantes grupos de teatro locais. As apresentações do Grupo ocorreram no bar e restaurante “O Casarão”. Esse local teve um importante papel enquanto espaço de articulação e manifestação econômico-social-cultural, na década de 1980, pois era ponto referencial para o encontro de militantes políticos, artistas e para presença de diversos e importantes expoentes sociais dos movimentos articulados locais e nacionais. Esse trabalho é parte de um estudo sobre grupos de teatro e música que se apresentaram no Acre, na década de 1980, no bar e restaurante “O Casarão”. Aqui, apresentaremos o Grupo Direto do Rio, refletindo um pouco sobre a importância desse movimento teatral como parte do processo de repensar a cidade de Rio Branco de sua época.

METODOLOGIA:
Durante a pesquisa foram realizados diálogos com autores que ajudaram a pensar o contexto histórico da época e auxiliaram na construção de um método próprio de trabalho. Utilizamos autores como Marilena Chauí com o livro “Cultura e Democracia”, Milton Santos com “A Natureza do Espaço”, Maria José Bezerra com “Cidade de Rio Branco - a marca de um tempo: história, povo e cultura”, Socorro Calixto com “A Cidade Encena a Floresta”. Além disso, foram feitas entrevistas com todos integrantes do Grupo Direto do Rio através de depoimentos orais possibilitando o diálogo direto com os sujeitos envolvidos no movimento histórico. Em nosso processo investigativo utilizamos a entrevista de forma semi-estruturada e individual, combinando perguntas fechadas e abertas, o que permitiu ao sujeito a oportunidade de se manifestar sobre o assunto em questão. Dessa forma, o conteúdo dos depoimentos foi concedido tanto de forma objetiva quanto de forma subjetiva. Realizamos também uma detalhada pesquisa nos jornais oficiais da época, além de acervos fotográficos e audiovisuais de centros de documentações históricas.

RESULTADOS:
O Grupo Direto do Rio foi formado em 1988 do encontro de antigos amigos que realizaram o interesse comum de realizar trabalhos de ruas que misturassem elementos teatrais e algumas performances circenses. O nome do Grupo era uma provocação às concepções de cultura que colocava a arte carioca, televisiva e cinematográfica, como a representação da cultura brasileira. Os artistas utilizavam o gênero teatral agit trop ou happening, que ficou famoso no século XX com a Revolução Russa. Essa forma teatral caracteriza-se por um teatro engajado, que, seguindo as concepções de revolução e mobilização política da Revolução de 1917, pressionara o teatro russo a uma ruptura significativa com sua tradição teatral. O Grupo fazia cenas com apenas roteiro e sem textos pré-elaborados, utilizando sempre a improvisação como elemento central. Com falta de espaço físico para as apresentações, eles envolviam todos os cantos do bar em um amplo processo de interação com o público, sempre aproveitando ao máximo a grande variedade de fregueses. Os esquetes procuravam causar estranhamento do público desde o contato inicial com a peça. Foram eles: Lolita e Teobaldo, A escrita neo-Pós Erótica de Chapeuzinho Vermelho, Brika Brake do Miristrov, Era uma vez, Dois Coelhos com uma cajadada, RatracatrabulquesBum, Verruckt e Arranjos de Última Hora.

CONCLUSÕES:
As apresentações do Grupo Direto do Rio eram bem rápidas, alegres e irônicas, pois buscavam através das performances chocar, inovar e denunciar. Brincavam com as personagens que geralmente eram prostitutas, homossexuais, sargentos arrogantes, estrangeiros excêntricos, fazendeiros autoritários. Misturavam contos infantis e histórias reais. Denunciavam a expulsão dos seringueiros da sua terra e as diversas explorações vividas em seu convívio. Falavam sobre a condição desumana em que se encontravam as pessoas nos hospícios. Brincavam com dialetos e nomes. Conflitos pessoais e familiares. Denunciavam o descaso do governo com a população. Ao fazer uso do elemento cômico e irônico como uma forma de abordagens dos esquetes, os artistas traziam também o teatro para mais perto do povo, dialogando com a platéia e fazendo delas co-produtores da obra de arte, tal qual sugeria Meierhold para o teatro russo. Sua inscrita estava inserida em um contexto de lutas sociais e políticas no Acre, influenciados pelos movimentos culturais do século XX, nas tendências adotadas pelo teatro brasileiro, nos anos anteriores à década de 1980, e nos movimentos agit trop de influência fortemente russa. A estética do teatro se fundamentava na busca pela pluralidade teatral, o que resultou em uma nova perspectiva de linguagem cênica nas produções teatrais acreanas. Ao colocar em destaque os excluídos, contribuíram também no processo de repensar a cidade de Rio Branco e o grande problema de sua reestruturação social e econômica.



Palavras-chave:  HISTÓRIA DO TEATRO, CULTURA, AGIT TROP

E-mail para contato: elmelomelo@hotmail.com