60ª Reunião Anual da SBPC




F. Ciências Sociais Aplicadas - 2. Gestão e Administração - 7. Economia Regional e Urbana

GERAÇÃO DE RENDA E A ATIVIDADE ARTESANAL EM FIBRA DE BANANEIRA NO MUNICÍPIO DE MIRACATU, VALE DO RIBEIRA, SP

Milton Carlucci1
Sandra Farto Botelho Trufem2

1. 1 Universidade Nove de Julho – UNINOVE, SP, Departamento de Ciências Gerenciais
2. 2 Universidade São Marcos, São Paulo, SP, Mestrado em Educ., Admin. e Comum.


INTRODUÇÃO:
O município de Miracatu insere-se na região do vale do Ribeira, SP, em uma das áreas com os menores IDH do Estado. O fato de estar em área de preservação ambiental (Mata Atlântica), impede a implantação de indústrias, pecuária e novas culturas agrícolas, o que acaba por direcionar as populações locais na busca de formas alternativas de geração de renda. Dentre as possibilidades aventadas para a geração de rendas, tem-se o desenvolvimento das atividades de pesca, o ecoturismo e o artesanato. Esta última atividade vem sendo valorizada em vários lugares do mundo, pois resgata os conhecimentos, os fazeres e a cultura locais, valorizando o homem e promovendo a sua auto-estima, além de possibilitar forma alternativa e prazerosa de geração de renda. A região do Vale do Ribeira e em especial o município de Miracatu têm como uma das atividades agrícolas de relevo, o cultivo de bananeiras, implantado há décadas na região e que se caracteriza por gerar grande volume de resíduos, representados pelas folhas, suas bainhas e pseudo-caule. Constituem objetivos deste trabalho a verificação de como as políticas públicas municipais e estaduais, assim como a população local se mobilizam no sentido de promover geração de rendas por meio do artesanato realizado com as fibras da bananeira.

METODOLOGIA:
Efetuou-se pesquisa bibliográfica para caracterização da região estudada quanto aos seus aspectos históricos, sociais, geográficos e econômicos. Durante o período de agosto a outubro de 2006, realizou-se o trabalho de campo, que consistiu em visitas e entrevistas a membros da associação “Banarte - a arte em fibra de bananeira”; entrevistas com profissionais da SUTACO (Superintendência dos Trabalhos com Artesanato no Estado de São Paulo); visitas e entrevistas a membros do SEBRAE do município de Registro; informações das iniciativas dos pesquisadores da Faculdade Luiz de Queiroz sobre pesquisas e desenvolvimento das técnicas de manuseio das fibras do pseudo caule da bananeira. Em relação aos artesãos, foram aplicados 28 questionários a munícipes associados à Banarte. Salienta-se que o contato direto com esses artesãos foi fator relevante para esta pesquisa, pois através das conversas percebeu-se os anseios, as dificuldades, as limitações, aspectos que apenas os questionários não permitiriam vislumbrar. Os dados das entrevistas foram consolidados em categorias de respostas, que permitiram visualizar as iniciativas dos órgãos públicos na promoção do artesanato, e as percepções dos artesãos quanto a essas iniciativas e a efetividade das ações.

RESULTADOS:
Os resultados obtidos com os promotores do desenvolvimento do artesanato na região permitiram perceber que existe algum esforço no sentido de organizar as ações dos artesãos, promovendo a criação de cooperativas e com o ensino de técnicas adequadas para a extração, lavagem, secagem e tintura das fibras da bananeira. A Prefeitura de Miracatu cedeu galpão para que os artesãos desenvolvessem seus trabalhos e vendas. No entanto, os entrevistados foram concordantes de que essas ações devem ser permanentes, pois as tentativas que os artesãos dirijam essa administração implicam em desorganização total dos trabalhos até então realizados. Por outro lado, os artesãos manifestam seus sentimentos de abandono por parte dos órgãos públicos, queixando-se de que é dada pouca atenção ao seu empenho e à sua arte. Sugerem a realização de eventos, como a “Semana do Artesanato”, com amplo apelo e divulgação na mídia, com o intuito de atrair turistas, assim como a destinação de locais de exposição, com acesso e estética adequados aos visitantes. Ao lado desse desencanto, alguns artesãos conseguiram colocar seus produtos em casas de decoração de renome em São Paulo, mas esse feito foi iniciativa e empenho dos próprios artesãos, e não da mediação dos órgãos cooperativos ou dos órgãos governamentais.

CONCLUSÕES:
O trabalho em pauta permitiu perceber que o artesanato em palha de bananeira desenvolvido pelos artesãos de Miracatu é atividade válida e passível de geração de renda para a população local, uma vez que é feito com critério, originalidade e estética. Existem mesmo alguns artesãos que, por iniciativa própria, conseguem colocar seus produtos para venda em lojas de decoração de renome em São Paulo. Por outro lado, sentiu-se um descompasso entre as aspirações dos artesãos e a assistência oferecida pelos órgãos de fomento à essa atividade, que oferece apoio quase paternalista, ao invés de trabalhar com a emancipação dos artífices, faltando a todos ações mais ousadas e de maior amplitude.Os artesãos devem se empenhar mais para atingir a sua maioridade profissional, e os órgãos associativos devem monitorar essas ações, oferecendo mesmo formação profissional em cooperativismo. De qualquer forma, esses mesmos artesãos estão conscientes de que seus produtos espelham aspectos culturais da região e promovem o resgate da arte dos trabalhos em fibras de bananeiras.



Palavras-chave:  políticas públicas, artesanato, fibra de bananeira

E-mail para contato: milton.carlucci@uol.com.br