60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação

EXCLUSÃO COMO CATEGORIA DE ANÁLISE: UM ESTUDO ETNOGRÁFICO SOBRE O FRACASSO ESCOLAR

Luís Paulo Cruz Borges1
Paula Almeida de Castro1, 3
Carmen Lúcia Guimarães de Mattos1, 2

1. Universidade do Estado do Rio de Janeiro
2. Orientadora
3. Co-orientadora


INTRODUÇÃO:
O processo de exclusão educacional de adolescentes, com idade entre 12 e 17 anos, de ambos os sexos de uma escola da rede pública de ensino na cidade do Rio de Janeiro é objeto de estudo deste trabalho. Objetivamos compreender através da perspectiva dos próprios alunos e alunas como é construído o artifício da exclusão levando ao fracasso escolar. Elegemos o espaço da sala de aula para a realização das observações participantes por concordarmos com a afirmação de Castro (2006) onde “a sala de aula é o local destinado ao aprendizado e onde, a partir da relação professor e aluno, mediado pelo processo de ensino e aprendizagem, é definido o sucesso e o fracasso desse aluno” (p.46). Os dados foram coletados no período de agosto de 2006 a julho de 2007, no âmbito da pesquisa Imagens Etnográficas da Inclusão Escolar: o fracasso escolar na perspectiva do aluno (2005-2008) coordenada pela profª Carmen de Mattos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Os dados analisados possibilitou-nos entender como se dá o processo de exclusão no interior da sala de aula por práticas pedagógicas distanciadas da realidade de alunos e alunas.

METODOLOGIA:
Utilizamos como metodologia a abordagem etnográfica de pesquisa, através de observação participante (DELAMONT, 1992; AGAR, 1983), de entrevistas etnográficas, da descrição densa do campo pesquisado (GEERTZ, 1989) e da microetnografia de sala de aula (ERICKSON, 1971). Os dados foram analisados através do eixo indutivo do bottom-up (MATTOS, 1996), onde construímos representações teóricas do problema investigado. No processo de análise, também utilizamos a técnica de “scaffolding” – andaime (BORTONI-RICARDO, 1985), um termo metafórico para significar a ajuda que uma dupla ou um parceiro de alunos dá um ao outro em sala de aula, provocando uma forma criativa de amostragem das falas dos participantes. Esta abordagem metodológica permite que os alunos e alunas tornem-se sujeitos contribuintes para a construção do conhecimento em pesquisas, e principalmente as que tenham como saber de estudo a educação (MATTOS, 2002; MEHAN, 1992).

RESULTADOS:
Notamos que os alunos e alunas culpabilizam a professora, as tarefas de classe e a si mesmos pelo próprio fracasso escolar. De acordo com os dados analisados, o processo de exclusão educacional desses ocorre de forma gradual, primeiro com a exclusão intra-escolar, segundo com a exclusão dentro da sociedade. Dentro da escola, esse processo se dá quando os alunos/as multirepetentes são encaminhados para a chamada “Classe de progressão”. De acordo com a Portaria nº 21 (E-DGED/ 2003) as classes de progressão são constituídas por alunos e alunas formados com idade igual ao superior aos 9 anos. Estas classes foram criadas em 2001 e teve sua finalização no ano de 2006 com implementação de uma nova política - Classes de projetos para adolescentes. Neste espaço, os alunos ficam no prenúncio de serem expulsos da escola (MATTOS, 2007), haja vista que, após uma longa permanência destes nestas classes, tornam-se passivos frente às possibilidades de escolarização formal, e por isso, acabam fracassando e sendo excluídos das instituições de ensino. Ao final entendemos que a proposta dos Ciclos e da Classe de Progressão que visava integrar e valorizar o processo de aprendizagem dos alunos acabou por excluir e esses alunos do processo de escolarização

CONCLUSÕES:
Constatamos que a escola é um campo de tensões entre as desigualdades sociais e as desigualdades educacionais. Neste contexto o aluno é visto como um indivíduo a-histórico e despossuído de qualquer identidade cultural. Nossas análises e resultados apontaram que a exclusão educacional destes adolescentes ocorre, portanto, inicialmente no espaço intra-escolar, com a ida destes para a Classe de Progressão. Em conseqüência da exclusão educacional, de acordo com (MATTOS, 2004) ao saírem da escola, grande parte destes adolescentes acabam se engajando em atividades ilícitas de sobrevivência ocasionando também sua exclusão social. Os alunos e alunas que fracassam na escola são contingenciados em uma realidade social de exclusão, tornando-se passivos frente às possibilidades de aprendizagem. Deste modo, o processo de exclusão educacional destes e destas se completa, acentuando por outro lado, o aspecto de fracasso existencial deste grupo.

Instituição de fomento: CNPq

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  EXCLUSÃO, SALA DE AULA, FRACASSO ESCOLAR

E-mail para contato: borgesluispaulo@yahoo.com.br