60ª Reunião Anual da SBPC




H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 6. Lingüística

INTERAÇÕES FACE A FACE: O PROCESSO DE COMPREENSÃO EM TEXTOS ORAIS

Thaís Ludmila da Silva Ranieri1, 2
Judith Chambliss Hoffnagell1, 2

1. Programa de Pós-graduação em Letras e Lingüística (PPGL)
2. Universidade Federal de Pernambuco - UFPE


INTRODUÇÃO:
Embora fala e escrita sejam modalidades de uso do mesmo sistema lingüístico, não implica dizer que o processo de compreensão aconteça da mesma maneira. Tanto na modalidade falada quanto na escrita há um conjunto de atividades básicas e necessárias que devem ser realizadas para que aconteça uma compreensão mínima e satisfatória do texto. No que tange a modalidade falada, há alguns recursos que são próprios (a paralinguagem, a proxêmica, a cinésica e o silêncio) e que atuam juntos no processo de compreensão (Marcuschi, 1998; Dionísio, 2001). Para tanto, o presente trabalho tem por objetivo apresentar os resultados obtidos através de uma investigação que buscou analisar os recursos característicos da modalidade falada e de que modo atuam no processo de compreensão do texto oral. O trabalho fundamenta-se em Marcuschi (2004) e em sugestões de análises propostas pelo autor para o trabalho em interações ocorridas face a face, entre elas destacam-se a demonstração de (des)interesse e (não)partilhamento e as marcas de atenção.

METODOLOGIA:
O Projeto NURC (Projeto de Estudo da Norma Lingüística Urbana Culta) teve por objetivo documentar e descrever o uso urbano do português falado no Brasil. O Projeto se desenvolveu em cinco capitais brasileiras e visou ao estudo da fala culta. O material coletado representa o desempenho lingüístico de falantes de ambos os sexos, nascidos nas cidades desenvolvidas, com escolaridade universitária, distribuídos por três faixas etárias. O objeto de análise foi o inquérito de número 360 do Projeto NURC/SP. O inquérito é do tipo diálogo e conta com a participação de informantes do sexo feminino ambas casadas e com filhos, idade entre 36 e 37 anos e apresentam como nível de escolaridade o Ensino Superior. Vale salientar que a escolha do inquérito deve-se a professora-orientadora que tinha em mente a seleção de um texto oral já transcrito e de origem inquestionável, já que o trabalho objetivava a obtenção parcial de nota da disciplina por ela ministrada.

RESULTADOS:
Em uma conversação, os participantes da atividade realizam um esforço para que haja a construção de sentido e o resultado dessa construção deve ser imediato, ou seja, on line. Assim, na fala não cabe a nenhum dos falantes deixar para depois a produção do sentido como pode acontecer no texto escrito. Dessa forma, é imprescindível que durante uma conversa, os falantes deixem explícitas algumas marcas para assegurar a sua participação e garantir o processo de interação. No inquérito analisado, podemos observar que durante toda a ação há entre os interlocutores interesse no mesmo tópico discursivo, fazendo com que haja progressão. Uma justificativa para que haja não só compartilhamento do tópico como demonstração de interesse seria a proximidade de idade e de funções sociais das interlocutoras, ambas são casadas e com filhos. No inquérito, além da complementação e da antecipação da fala, as interlocutoras apresentam outras marcas de atenção que mostram envolvimento em relação ao tópico (marcadores conversacionais como né e ahn ahn) bem como marcas que vão reforçando e demonstrando o interesse das duas ao longo do inquérito (como a repetição dos finais de frases e perguntas que são feitas só para dar continuidade a conversa, as chamadas perguntas retóricas).

CONCLUSÕES:
Através dos exemplos acima podemos observar que em uma interação face a face verificamos que as ações interacionais presentes no processo de compreensão acontecem de maneira articulada e integrada. Também é interessante ressaltar que embora o inquérito analisado possa ser considerado um modelo prototípico das ações destacadas (as marcas de atenção e a demonstração de (des)interesse e (não)partilhamento), o não acontecimento deles não é evidencia de que não houve compreensão. Como bem enfatiza Marcuschi (1998), não há ainda uma clareza quanto ao peso de cada ação dentro do processo.



Palavras-chave:  compreensão, fala/escrita, análise da conversação

E-mail para contato: thaisranieri@yahoo.com.br