60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação

O ESTUDO DA ETNOMATEMÁTICA A PARTIR DA INTERAÇÃO ENTRE EDUCAÇÃO E LAZER NOS MOVIMENTOS SOCIAIS

Maria Emilia Barrios Rodriguês1
Elisa Guaraná de Castro1

1. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro


INTRODUÇÃO:
Este trabalho é um estudo que visa a análise da interação entre o lazer e a educação, com ênfase para as aulas de matemática, através da observação e análise da percepção da educação como forma de lazer por parte da juventude dos movimentos sociais rurais no Brasil, trata-se de uma investigação da apreciação de resultados parciais obtidos através da pesquisa, em andamento, intitulada pesquisa “Estudo sobre o perfil e a composição da juventude junto aos movimentos sociais rurais no Brasil”, coordenado pela prof. Elisa Guaraná de Castro (DLCS/NEAD/FAPUR). Nos movimentos sociais percebe-se que a educação e o lazer são possíveis canais de atuação e construção de identidade social e cultura política. E por meio desta percepção a etnomatemática proporciona uma investigação entre essa relação. Pois a etnomatemática é a arte ou técnica de explicar, de entender, de se desempenhar na realidade dentro de um contexto cultural próprio (DAmbrosio, 1993). Os objetivos para esta investigação é: saber como a educação está inserida como forma de lazer para os jovens que militam em movimentos sociais; entender que diálogos são construídos entre educação e lazer nos movimentos sociais; analisar as experiências de formação e aprendizado do jovem rural que ocorrem em espaços formais e em espaços não formais de educação, o que contribuirá para entendermos os pressupostos que fundamentam as práticas educacionais promovidas pelos movimentos; e, a inclusão de jogos confeccionados com materiais lúdicos de baixo.

METODOLOGIA:
A primeira parte do trabalho consistiu na pesquisa realizada através de entrevista individual no entorno de um evento nacional realizado em Brasília, em junho de 2007, nos horários de saída e entrada das plenárias, intervalos e espaços culturais, com aplicação de questionário, com todo aquele que se considerava parte da juventude atuante no movimento social. Participou da pesquisa um total de 439 pessoas. Os dados obtidos concernem à escolaridade, à percepção dos jovens rurais sobre a educação e o lazer, e o papel dos movimentos sociais no acesso à educação. A segunda etapa adotada pelo projeto de pesquisa será a observação participante em um assentamento rural do estado do Rio de Janeiro. O objetivo será: analisar os conteúdos formais das disciplinas, em especial da matemática, e como esses conteúdos aparecem em outros momentos da vida cotidiana dos alunos; como os conteúdos se relacionam com construções simbólicas que constroem ou reforçam identidades sociais;e, em que medida o conteúdo da matemática é apropriado para o assentamento. A terceira fase da pesquisa tem caráter exploratório com foco nas situações construídas por meio duma ação pedagógica que estabelece alguns critérios para a análise e será realizada no mesmo assentamento. A meta dessa etapa será: averiguar o desempenho matemático de acordo com o tema proposto, avaliar a atitude dos alunos no início das atividades e se estes possuem alguma melhora em relação ao tema e analisar como reagiram às intervenções nos jogos para compreensão dos conceitos.

RESULTADOS:
O trabalho que ora apresentamos é uma primeira análise do material levantado sobre o perfil da juventude rural nos movimentos sociais e a relação entre educação e lazer, educação e movimentos sociais. O instrumento metodológico quantitativo é o levantamento estatístico dos itens das questões: 24, “Você acha que atuar no movimento social contribui para que continue estudando?” e 37, “Quando você não está trabalhando, o que você mais gosta de fazer ou freqüentar como lazer?”, esta última admite até três respostas, do questionário. A observação, que nos chamou a tenção para este estudo, parte do item “outros” da questão 37. Os resultados obtidos evidenciaram que a atuação no movimento social contribui para que continuem estudando ou reiniciem os estudos; que quando não estão trabalhando, ler ou estudar são reconhecidos como formas de lazer; ler/estudar e participar dos espaços de ensino-aprendizado são reconhecidos como alternativa de lazer no campo. A possibilidade de dar continuidade aos estudos através da prática militante pode indicar que o movimento possui uma proposta pedagógica que aproxima a educação ao lazer, como elemento fundamental de uma formação crítica e incisiva no contexto social e político. Uma reflexão sobre as informações obtidas pelo estudo propiciou um diálogo sobre a criação de um ambiente favorável onde aprendizagem tem lugar nas horas de lazer, e que os jogos possam ser parte integrante do ensino. E através da interação entre lazer, educação e jogos seja um estimulo na busca do conhecimento.

CONCLUSÕES:
A partir da análise dos dados, podemos afirmar que os jovens consideram que a sua atuação no movimento social contribui como forma de incentivo à continuação do estudo. Pode-se supor que este incentivo se insira numa proposta pedagógica que aproxima a educação ao lazer - alvo da investigação em curso. Assim, com base destes resultados verifica-se um duplo processo educativo - o lazer como veículo e como objeto da educação. Dessa maneira, torna-se visível que há inclusão da educação nos horários de lazer e que a atuação do movimento social é um agente contribuinte para a construção da juventude rural, fornecendo subsídios para uma postura crítica através da inserção nas relações sociais e culturais na sociedade. A partir da aproximação entre educação e lazer é aceitável se falar em aspectos educativos do lazer, se esse for considerado como um dos possíveis canais de atuação na cultura do movimento, tendo em vista a construção de mudanças no plano social. É através da dinâmica dessa cultura que o conhecimento é produzido. E neste contexto cultural o conhecimento matemático também se produz como parte do processo sobre a realidade. Desta forma, a etnomatemática atenta em não só estudar os modelos ligados a essas tradições, mas sim de considerar como válidos todas as maneiras de explicação dos conhecimentos construídos. Salientando que estas formas de construção de conhecimentos não são estáticas ou mortas, pois estão em constante transformações em virtude do dinamismo cultural.

Instituição de fomento: (UFRuralRJ/NEAD/FAPUR)

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Etnomatemática, Educação Matemática, Educação de jovens no campo

E-mail para contato: mariaemilia@ufrrj.br