60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 7. Psicologia do Ensino e da Aprendizagem

O BULLYING NO AMBIENTE ESCOLAR

Herculano Ricardo Campos1, 3
Samia Dayana Cardoso Jorge1
Jorge Lacerda2

1. UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte
2. UnP - Universidade Potiguar
3. Prof. Dr. Orientador


INTRODUÇÃO:
A escola, enquanto instituição, está ligada à sociedade na qual se insere, influenciando e sendo por ela influenciada. Assim, o estudo do bullying enquanto expressão do fenômeno da violência na escola é, certamente, também o estudo de certos padrões de sociabilidade presentes nas comunidades dos alunos, marcados pela violência. O fenômeno aqui estudado é caracterizado por um conjunto de atitudes e relações desiguais de poder, no qual uma pessoa ou um grupo persegue, humilha e maltrata voluntária e sistematicamente outra pessoa ou grupo de pessoas. O autor de bullying geralmente escolhe um ou mais pontos fracos da(s) vítima(s) e sistematicamente a ataca e agride, sendo que tal agressão pode se manifestar na forma de violência física e psicológica, exclusão, discriminação, ofensas. Tudo isso gera nas vítimas um sentimento de baixa auto-estima, timidez, pouca habilidade de auto afirmação e dificuldade de se relacionar com os demais. Não obstante tantos efeitos nefastos dessa prática no interior do estabelecimento escolar, a postura dos educadores tem sido de negar a existência do bullying, tanto por desinformação a respeito das suas características e efeitos quanto pelo despreparo para criar estratégias de enfrentamento, ou em face de ambos os motivos. Neste estudo se buscou identificar a manifestação do fenômeno no ambiente escolar e suas características, além da postura dos educadores em relação a ele.

METODOLOGIA:
Entrevistas semi-estruturadas realizadas com três jovens na faixa etária de 11 a 13 anos, todos alunos do ensino fundamental de um colégio estadual da cidade de Natal, estado Rio Grande do Norte, além de uma orientadora pedagógica da mesma escola. Os alunos entrevistados foram escolhidos por indicação da orientadora da escola, que afirmou que eles eram os jovens que mais estavam retraídos e com dificuldades escolares. As entrevistas foram realizadas objetivando investigar a ocorrência do bullying nos alunos, que forma de violência estes haviam sofrido e quais as conseqüências que tais violências traziam para suas vidas. Visando a privacidade dos entrevistados, neste trabalho os alunos serão chamados de X, Y e Z.

RESULTADOS:
Os três alunos, em seu discurso, afirmaram ter sido vítimas de pequenas violências no espaço escolar, tais como xingamentos e apelidos que os magoavam, além disso, relataram terem sofrido violências físicas. O aluno X relatou que quando outros alunos os xingam ele não reage, pois tem medo da reação dos agressores e quando reclamou à diretora, esta pediu para que ele se acalmasse, mas nada foi feito. O aluno Y afirmou em sua entrevista que não gosta da escola e nem dos colegas, que já nem o chamam pelo nome, apenas por um apelido, além disso, refere que vive envergonhado e se isolou do grupo, chegando a não querer ir á escola algumas vezes. O aluno Z disse que não gosta de sua sala de aula, e que já sofreu agressões, mas fica calado, não consegue contar nada aos professores nem a seus pais, pois diz que não adianta e os agressores não irão parar. Na entrevista com a orientadora pedagógica, esta afirmou que já havia presenciado xingamentos e insultos entre alunos, mas que na maioria das vezes considerava como “coisa da idade” e no máximo mandava fazer silêncio. Quando percebia a possibilidade de violência física, parava a brincadeira ou mandava para a diretoria.

CONCLUSÕES:
Neste trabalho foi possível verificar a incidência de bullying em forma de agressões verbais e físicas em três alunos do ensino fundamental e o sofrimento que estas violências acarretam a eles. Em função da repetição dos atos violentos em forma de xingamentos, gozações, humilhações e discriminações, sem que alguma medida preventiva ou mesmo remediativa seja tomada, os alunos vítimas tendem a se retrair, isolar-se do grupo escolar, ter a auto-estima abalada e seu desempenho escolar é prejudicado. Infelizmente, a prática do bullying entre alunos é uma prática comum, muitas vezes disfarçada de mera brincadeira infantil, como a própria orientadora pedagógica afirmou em sua entrevista, dizendo que considerava os apelidos como “coisa da idade”. No entanto, os profissionais da educação devem atentar para o fato de que a brincadeira é ato constituinte da infância saudável, que traz benefícios e aprendizado, além de ser prazerosa para crianças e jovens, o que é muito diferente dos comportamentos cruéis, intimidadores e repetitivos causados pelo bullying. Deixa-se como sugestão a criação e implementação de programas de prevenção e acompanhamento do bullying nas escolas, além de maior atenção de estudos da área da psicologia escolar para investigação de tal fenômeno.

Instituição de fomento: CNPQ



Palavras-chave:  Psicologia da educação, Violência nas escolas, Bullying

E-mail para contato: samiapsi@yahoo.com.br