60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 7. Sociologia

IDENTIDADE ÉTNICA/RACIAL E AÇÃO AFIRMATIVA: PERCORRENDO O CAMPUS

Ludmila Gonçalves da Matta1

1. Faculdade de Minas


INTRODUÇÃO:
Este trabalho tem por objetivo oferecer uma reflexão teórica e empírica em torno da questão da construção da identidade étnica/racial entre os alunos da Universidade Estadual do Norte Fluminense que foram beneficiados pela reserva de vagas (cotas) para alunos autodeclarados negros ou pardos no processo vestibular. O nosso trabalho parte, então, de um estudo de caso no qual analisamos a construção da identidade no campus, a questão do preconceito e da inserção das cotas como elemento suscitador de uma construção identitária .

METODOLOGIA:
O trabalho teve como referência os alunos que entraram no primeiro ano de instituição das cotas, neste ano entraram na universidade 109 alunos autodeclarados negros ou pardos contra 306 autodeclarados brancos. Utilizamos como instrumento metodológico a aplicação de 142 questionários e a realização de 26 entrevistas.

RESULTADOS:
Quando falamos de identidade baseamos-nos na concepção teórica de Hall (2002) de que a identidade é um processo em formação que não parte apenas do indivíduo, mas de suas relações sociais, desta forma a construção da identidade étnica-racial negra no Brasil está se constituindo. A implementação de uma política focalizada para população negra, como é o caso da reserva de vagas na UENF faz oportuno o debate sobre a construção desta identidade, uma vez que esta tem por exigência a identificação, ou auto-identificação do indivíduo que será beneficiado pela política. Observamos que apesar da necessidade de uma auto-identificação da cor/raça no processo seletivo, esta identidade ainda não é bem percebida pelos estudantes, muitos deles mesmo tendo afirmado sua condição relativa a cor/raça ainda têm dúvidas sobre esta identidade. Segundo pesquisadores este fato se dá pelo imperativo do “mito da democracia racial” que predomina em nossa cultura e que impede uma identificação racial, pois, “somos um país de mestiços”.

CONCLUSÕES:
O debate que permeia a questão racial brasileira é bastante amplo e polêmico. Portanto, discutir a temática racial e a construção da identidade num país marcado pelo "mito da democracia racial" se faz necessário e oportuno como foi demonstrado no corpo do trabalho. O que podemos observar principalmente, é que a identificação de cor/raça no Brasil ainda está permeada por um discurso homogeneizador de que o povo brasileiro é um povo mestiço, ou seja, não há distinção de cor/raça, o que talvez seja a principal barreira da não aceitação de uma política de ação afirmativa por parte da sociedade brasileira. Dentro da possibilidade de múltiplas identidades (GIDDENS, 2002) observamos que se auto-identificar através da cor/raça ainda não é um fator positivo para grande parte da população brasileira, principalmente para a população negra, que mesmo diante da possibilidade de se beneficiar com esta identidade, possui dificuldade de aceitar tal condição. Tal fato, poderia ser explicado pelo estigma que esta população sofre, fazendo com que a negação da raça seja mais vantajoso que o benefício das cotas como ficou evidente na análise das entrevistas.

Instituição de fomento: Faculdade de Minas



Palavras-chave:  Cotas, Identidade, Políticas públicas

E-mail para contato: ludmilagm@faminas.edu.br