60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 7. Educação - 12. Ensino de Ciências

O RACIOCÍNIO HIPOTÉTICO-DEDUTIVO NAS AULAS DE CIÊNCIAS: UMA ANÁLISE DO DISCURSO DOCENTE SOBRE O SISTEMA NERVOSO DE UM ARTRÓPODE.

João Manoel da Silva Malheiro1
Odete Pacubi Baierl Teixeira2

1. Doutorando Educação para a Ciência FC/UNESP/Bauru.
2. Unesp/Guaratinguetá. Orientadora.


INTRODUÇÃO:
De acordo com Kapras (2002) levantamentos sobre o estado de desenvolvimento mental, com base nos trabalhos da escola de Genebra, apontam para a dificuldade que os sujeitos adultos apresentam quanto necessitam utilizar o raciocínio hipotético-dedutivo, característico do pensamento formal. Neste trabalho, particularmente, analisaremos a forma como os professores participantes da pesquisa utilizam e desenvolvem esse raciocínio e de que maneira os discursos argumentativos, com base nos trabalhos sobre o raciocínio hipotético-dedutivo de Lawson (2002, 2004), produzidos pelos docentes por ocasião da socialização dos procedimentos experimentais investigativos (GIL PÉREZ; CASTRO, 1996) podem contribuir para a resolução de um problema (LOPES, 1994) sobre o sistema locomotor de um artrópode. Os dados desta pesquisa foram coletados durante um curso de férias voltado para a formação de professores, que aconteceu no município de Oriximiná (PA). A pesquisa pôde comprovar que os professores ao fazerem o uso do raciocínio hipotético-dedutivo (Se… E… Então… E/Mas… Portanto…) para apresentar aos alunos os procedimentos realizados durante a resolução de um problema, o fazem utilizando o mesmo raciocínio postulado pelos cientistas.

METODOLOGIA:
O Curso de Férias Desvendando o Corpo dos Animais foi destinado a vinte professores de biologia, química, física e matemática do ensino médio e teve como metodologia a resolução de problemas com base no trabalho experimental investigativo. A metodologia utilizada é qualitativa (BOGDAN; BIKLEN, 1994), pois não foi utilizado tratamento estatístico na análise. Através de videogravações capturamos som/imagem e transcrevemos para a análise as socializações sobre os problemas investigados. O problema selecionado para a análise foi: Por que o embuá se enrola? Proposto aleatoriamente por um dos participantes do grupo ao observar o animal enrolado na bancada. Ao analisarmos as transcrições, procuramos percebemos se o raciocínio utilizado por eles se enquadrava no raciocínio hipotético-dedutivo proposto por Lawson (op.cit.) ao utilizarem em suas falas o padrão “se…”, “e…”, “então…”, “mas/e…”, “portanto…”, nos momentos em que estavam expondo os processos utilizados para a solução do problema. Neste caso específico, através da análise das falas, buscamos ainda perceber se a argumentação dos professores se aproximava dos procedimentos realizados pelos cientistas por ocasião da proposição de suas descobertas.

RESULTADOS:
Os argumentos docentes acerca dos procedimentos feitos para responder a pergunta problema, apontam o raciocínio hipotético-dedutivo, quando o professor (P1) explicita: “Se… um embuá que ninguém tinha tocado (proposição), E… recebe um estímulo ao toque da caneta (teste), Então... ele se enrola (resultado esperado), Mas… volta a se desenrolar e não mais responde a estímulos (desequilíbrio no resultado), Portanto… o animal depois certo tempo “se acostuma” ao estímulo (conclusão). Mas adiante, em outro recorte de sua fala, P1 volta e complementa a sua linha de pensamento ao utilizar o “E” (no lugar do Mas) do raciocínio de Lawson para corroborar sua hipótese: “Se… o animal volta a andar… E… modifico o estímulo do toque para o sopro… Então… ele se enrola rapidamente, E… fica enrolado por pouco tempo (resultado combina com o esperado)… Portanto… O animal se “acostuma” com o estímulo. Observamos que, quando o trabalho experimental ocorre de acordo com o ciclo proposto por Lawson as hipóteses são aceitas ou refutadas de acordo com as relações dos dados empíricos diretamente observados na experimentação e obedecendo a uma lógica interna que ajudava os professores a compreenderem o trabalho do cientista e suas possibilidades de contextualização em sala de aula, na resolução de problemas.

CONCLUSÕES:
Pela análise dos discursos, podemos constatar que, neste estudo, inconscientemente, os professores durante a resolução do problema, com base no trabalho experimental, aproximam-se do raciocínio hipotético-dedutivo de Lawson, no qual caracteriza dentro de um “molde” o trabalho do cientista, fato confirmado durante a experimentação realizada pelos docentes. Além disso, este estudo também evidenciou que a maneira que os professores utilizam para confirmar ou refutar hipóteses, tem origem dentro deste mesmo ciclo: “Se… E... Então… E/Mas… Portanto…”, o que mostrou de certa forma alguns avanços na maneira como os professores podem construir determinadas estratégias para trabalhar com seus alunos as práticas epistêmicas de justificação do conhecimento, considerando-as como uma das dimensões da apropriação da linguagem/trabalho científica(o) (ALEIXANDRE: AGRASO, 2006). Reafirmamos, portanto, que, nesta perspectiva, os professores precisam estar comprometidos com a inovação, responsabilizando-se, inclusive, pela avaliação contínua da sua própria prática, o que só será possível se houver uma interrelação entre o trabalho docente, a escola e o currículo desenvolvido (COSTA, 1999). Ao final do experimento os participantes do curso constataram que o embuá se enrola como forma de defesa.

Instituição de fomento: Secretaria Executiva de Educação do Pará.



Palavras-chave:  Resolução de problemas, Raciocínio Hipotético-Dedutivo, Ensino de Ciências

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