60ª Reunião Anual da SBPC

INTRODUÇÃO:

A presente pesquisa visa fornecer um panorama sobre as questões políticas que envolvem as comunidades remanescentes de quilombos hoje no Brasil e sua ligação com a estrutura fundiária do país. Para isso realizamos uma pesquisa de campo em uma Associação Remanescente de Quilombo do estado de São Paulo onde ocorre uma disputa não apenas em termos territoriais, mas também em termos de poder político. As Comunidades Remanescentes de Quilombos são apresentadas atualmente como um novo sujeito político, esta é uma denominação nova, data como sujeito de direitos a partir da Constituição Federal de 1988, mas compreendemos também que mesmo a denominação sendo nova, os grupos aos quais ela se refere são anteriores à existência do termo. As especificidades contidas nas relações entre a Comunidade Remanescente de Quilombo estudada e o restante da população da cidade, são tratadas em nosso trabalho através das versões da história, este caminho nos ilumina questões atreladas às relações de disputa políticas entre grupos, que neste caso envolvem a escrita como legitimadora das respectivas versões históricas. Este contexto nos possibilita uma reflexão acerca da categoria de verdade segundo suas implicações em momentos de disputas.

METODOLOGIA:

Efetuamos um amplo levantamento bibliográfico sobre os temas referentes à comunidades remanescentes de quilombos, à questão fundiária no Brasil, à importância da escrita e do livro na sociedade ocidental e à “idéia de verdade” em meio a disputas políticas. Com a observação de campo e elaboração de relatórios de campo, que nos serviram de subsídios para a composição da pesquisa, acabamos por compreender que esta parte da pesquisa não está dissociada da pesquisa teórica. Tentamos trabalhar com os dados do campo e as reflexões teóricas que eles nos incitam simultaneamente. Analisamos os livros e documentos que tratam da história local, a pesquisa desse material nos revelou as versões de história existentes no local e a utilização que é feita dos livros para legitimá-las. Comparamos com a história considerada oficial através de documentos oficiais e livros utilizados nas escolas para o ensino da história da região com a finalidade de pensar se existe verdade em história e a que interesses o “discurso de verdade” serve em um contexto de disputa. Todo este material coletado está sendo amplamente discutido com o orientador e trabalhados como produtos culturais inseridos em um contexto específico que não pode ser pensado isoladamente.

RESULTADOS:

Buscamos inicialmente produzir um panorama acerca de dois elementos que consideramos em grande medida inseparáveis: a estrutura fundiária do Brasil e a emergência dos sujeitos políticos ‘remanescentes de comunidades de quilombos’. Entendemos as atuais questões agrárias no Brasil como produto de uma História que se inicia com a colonização portuguesa no país. Sendo que o surgimento no cenário político dos chamados “quilombolas” aparece como mais um capítulo dessa História de conflitos. Elaboramos, por fim, considerações sobre o trabalho de campo em Antropologia. Entendemos como uma discussão ‘teórico-prática’ na medida em que dialogamos com teorias etnográficas sempre relacionando-as com as experiências vivenciadas em campo pelo pesquisador. Dentro desta discussão refletimos sobre o papel do antropólogo e as possíveis finalidades de sua ciência. Discutimos também as formas de relação possíveis a partir da pesquisa de campo entre os sujeitos da pesquisa e o pesquisador.

CONCLUSÕES:

Nossas conclusões parciais apontam para um questionamento do conceito de verdade em relação aos usos a ele atribuídos tanto em fases da História da política Ocidental quanto no campo específico com o qual desenvolvemos nossa pesquisa. Trabalhamos também as implicações da “idéia de verdade” em contextos de disputas pelo poder político, como o existente em nosso campo de pesquisa. Consideramos ainda que a relação entre verdade e mentira na política é muito complexa, pois, usualmente envolve interesses de grupos inteiros. Nossa pesquisa sobre a importância da escrita para a sociedade ocidental e as implicações dessa importância para a legitimação de discursos ainda não foi completada, assim como a relação entre os elementos ‘escrita’ e ‘verdade’. Analisamos o livro como artefato cultural, ou seja, como um material produzido por uma cultura e que algo diz sobre ela. Concluímos uma estreita relação entre a produção de livros e uma demanda de reforçar o “estabelecido” de uma sociedade, revelando muito sobre a mesma. Enfim, trabalhamos as diversas possibilidades que o livro traz para refletir acerca da sociedade cuja qual ele é produto e sua importância dentro deste contexto específico de disputa.

Instituição de fomento: Programa de Educação Tutorial – PET - MEC/SESu

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave: Comunidades Quilombolas, Questão fundiária, Verdade

E-mail para contato: angela_sociais@yahoo.com.br