60ª Reunião Anual da SBPC

INTRODUÇÃO:

A evolução da Fotografia teve no final dos anos 90, um divisor de águas: a popularização da fotografia digital. Nesse contexto, uma forma de representação fotográfica tornou-se cada vez mais comum, o auto-retrato. Neste estudo, busca-se a análise da proliferação desse tipo de retrato digital, especialmente na Internet, comparando-o com o Espelho, ao passo que delineia questões sobre a Linguagem Fotográfica (especialmente a digital) e a Identidade Cultural na Sociedade Pós-moderna. Devido ao recente advento da Fotografia Digital, ainda são poucos os trabalhos que discorrem sobre o tema. Pretende-se aqui, contribuir na pesquisa sobre esse tipo de Fotografia e entender a relação dessa nova técnica com as características específicas da nossa sociedade, refletidas nas expressões das identidades múltiplas dos indivíduos.

METODOLOGIA:

A primeira parte dessa pesquisa partiu da análise sobre a funcionalidade do Espelho na sociedade e da observação das diversas formas em que o auto-retrato é empregado a partir do advento da Fotografia Digital. O espaço principal desta busca foi a Internet, principalmente em sites pessoais a exemplo dos blogs, flogs ou fotologs, além de perfis em sites de relacionamento. Concomitantemente, foi levantado um trabalho de Pesquisa Bibliográfica sobre a Fotografia, Identidade e Pós Modernidade. Autores como Phillipe Dubois, Guy Debord, Roland Barthes, Susan Sontag, Vilém Flusser, Jean Baudrillard, Michel Mafesolli, Stuart Hall, entre outros, serviram como base nesta pesquisa.

RESULTADOS:

Analisando a funcionalidade do Espelho na vida social ao longo da História, pode-se facilmente perceber a necessidade humana de visualização do seu eu. O retrato nas Artes Plásticas existia com esse mesmo objetivo, contudo estava limitado apenas a uma camada social (nobreza) e era carregado de subjetivismo, por mais realista que fosse. O surgimento da Fotografia no século XIX permitiu a popularização do Retrato, já que ele foi gradativamente absorvido pela Burguesia, que encontrou nele uma nova forma de representação conforme as suas condições econômicas e sociais. Outro fato importante é que, pela primeira vez na História foi possível uma visualização de uma imagem “fiel” ao referente que não fosse aquela do reflexo do espelho. Por isso, sempre houve a comparação da Fotografia com o Espelho. A Fotografia Digital mudou de diversas maneiras o ato de fotografar, a funcionalidade das fotos e a relação dos indivíduos com as imagens fotográficas. Neste contexto, auto-retrato passa a ser cada vez mais empregado, e com funcionalidade semelhante ao espelho, ele permite a visualização do eu para si e para os outros, em diversos espaços públicos e privados.

CONCLUSÕES:

Conclui-se que o auto-retrato passou a ser uma forma de representação comumente utilizada na nossa sociedade, principalmente nos grandes centros urbanos após a popularização da Fotografia Digital, por intermédios de espaços virtuais na Internet que funcionam, entre outras coisas, como espaços de construção e exposição de Identidades. Estas, por sua vez, são cada vez mais múltiplas: um mesmo indivíduo pode assumir várias “máscaras”. No mais, notou-se a necessidade de exposição das vivências, em um processo de estetização constante da vida cotidiana e de espetacularização da mesma. O Auto-retrato na fotografia digital funciona, então, como o Espelho de quem se é, tanto para si, quanto para os outros: assim como na visualização do Espelho, o indivíduo estabelece um momento de cumplicidade consigo mesmo na formação de sua imagem desejada, podendo também pensar, neste instante, no encontro futuro com o outro. A montagem do Eu esteticamente mais apropriado é passada, neste contexto, pelo auto-retrato, que serve como forma de exposição de suas diversas identidades e efetiva um possível encontro virtual com o outro.

Palavras-chave: Espelho, Fotografia Digital, Identidade

E-mail para contato: janmaciel@hotmail.com