60ª Reunião Anual da SBPC




H. Artes, Letras e Lingüística - 2. Letras - 5. Letras

A FUNÇÃO COMUNICATIVA DA LITERATURA E AS ARTES: BRANCO NO PRETO

Graciela de Siqueira Lima1
Juan Droguett2

1. Graciela de Siqueira Lima - ICSC - UNIP
2. Prof. Doutor Juan Droguett - ICSC - UNIP - USP - Orientador


INTRODUÇÃO:
As linguagens decorrentes ora do fazer literário, ora do cinematográfico, transcendem o caráter de “fruto da inspiração”. São, antes, resultadas do jogo de estratégias que todo ato comunicativo requer de seu emissor: são originadas da mescla entre o trabalho criativo e estético do artista e a intenção comunicativa que deverá permear todo o processo da recepção. Logo, este estudo preocupa-se em observar e analisar, ao viés do cinema, as teorias comunicativas da literatura enquanto expressão de arte. Buscamos também entrelaçar os estudos da comunicação e do fazer artístico a fim de demonstrar as estratégias comunicativas que se postam diante dos receptores, guiando estes a configurar obra, seja ela literária – texto construído através da linguagem verbal escrita – ou cinematográfica – texto construído de imagens em movimento narrativo – como arte à recepção. Acreditamos que estudar a comunicabilidade estética que arremata o intercâmbio artista-obra-receptor trata-se de uma oportunidade para melhor compreendermos, de maneira geral, a dialogicidade que tanto delineia os contornos do humano, bem como para apurarmos, em específico, nossa sensibilidade, conhecimento e prazer provindos da experiência que a arte suscita.

METODOLOGIA:
Para tanto, este estudo sustenta-se sobre os pilares que as teorias das funções comunicativas, de Roman Jakobson; da estética da recepção de Wolfgang Iser e Hans Robert Jauss bem como do dialogismo de Mikhail Bakhtin nos oferece. Também conta com o filme A Vida em Preto e Branco (1998), de Gary Ross, como objeto de análise necessário à investigação das teorias correntes no campo da comunicação literária em correlação à cinematografia. Tal filme não se trata de uma adaptação ou tradução de uma obra literária e, exatamente tal condição garante um estudo cuidadoso do trânsito entre literatura e cinema, sem que se transgrida as fronteiras distintivas pertinentes à comunicabilidade de cada um dos códigos de arte. Ainda em razão de elegermos o cinema como um suporte metodológico, é possível encontrar em Ricciotto Canudo a definição da cinematografia como a Sétima Arte, como a arte sintetizadora e abarcadora de outras seis linguagens estéticas em sua película – a linguagem da pintura, arquitetura, escultura, dança, música e poesia – fato que a caracteriza como elo para o diálogo do registro literário com outros diversos registros artísticos em meio os territórios do interdisciplinar.

RESULTADOS:
A análise teórica realizada com base na obra A Vida em Preto e Branco (1998) comprovam a obra de arte edificando-se sobre o pressuposto comunicativo. Cabe ao receptor interpretá-la e (re)significá-la. Assim, a recepção configura-se como o processo incisivo para a realização da arte. No entanto, isto também implica tarefas ao artista, que deverá utilizar estratégias lingüísticas – as funções comunicativas – a fim que o receptor encontre instruções de como a obra suscita ser lida. Quando em pertinência à comunicação da arte, a função poética e a metalingüística destacam-se, uma vez que a primeira é responsável pela decorrência dos efeitos gerados à construção de identidades estéticas em uma mensagem e a segunda, de evidenciar o discurso através de processos de identificação da linguagem que subsidiam a compreensão de todo o trabalho artístico que na obra se promoveu. Já o dialogismo atesta que a literatura pode doar sua estrutura narrativa para que o cinema construa suas imagens em movimento de forma linear e ficcional, enquanto a cinematografia transmite sua propriedade cinética à estática da escrita, configurando a percepção da obra no imaginário do atual leitor – habituado às tecnologias áudio-visuais que o condicionam a um novo esquema da construção ficcional em sua imaginação.

CONCLUSÕES:
Podemos concluir que a literatura e a cinematografia são duas realizações de arte que beiram a ficção e a comunicação, o que demanda todo um cuidado com a linguagem na busca pela experiência estética. Assim, uma vez que a obra literária e a cinematográfica sejam vistas pela lente do ato comunicativo, observamos que estas sempre se projetam, desde a sua idealização, a um possível receptor. Em conseqüência, a arte torna-se um produto resultante do labor que se envolve com as estratégias comunicativas em vista dos diálogos entre artista, obra e receptor, bem como com as trocas dialógicas que nascem das confluências interdisciplinares das linguagens de arte, em nosso, foco em especial, da literatura e cinema – dois registros que se convergem principalmente pelo quesito da narração, sendo que a literatura, do latim, littera – letra, possui seu significado exatamente centralizado no princípio do movimento que impulsiona à narratividade das formas e, o cinema, termo originário da palavra grega kinema, traduz-se como a escrita em movimento. Com isso, obtemos o enlace à investigação das linguagens de arte junto às teorias da comunicação – mote que impulsionou o desenvolvimento deste estudo.



Palavras-chave:  literatura, cinema, comunicação

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