60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social

PRECONCEITO, AUTO-IMAGEM E DIFERENÇAS SÓCIO-ECONÔMICAS

Ana Luiza Sá1
João Henrique Dias1
Laisa Conceição1
Lucas Daniel1
Thiago Félix1

1. Universidade de Brasília


INTRODUÇÃO:
A pesquisa foi realizada objetivando analisar o preconceito racial com crianças brancas e negras em idade escolar e a auto-imagem de crianças negras em duas escolas públicas do Distrito Federal localizadas em regiões de baixa e alta renda. A partir desta problemática entendemos a relevância da pesquisa no sentido de fomentar maior visibilidade sobre a questão social do racismo na escola comparando as diferentes visões acerca do racismo em cada classe social. Segundo Aronson, preconceito é uma atitude negativa ou hostil contra pessoas de um grupo identificável, baseada exclusivamente na sua condição de membro de um grupo (ARONSON, 1999). Auto-imagem é a maneira como os outros nos vêem e como nos vemos perante os outros. No trabalho apresentado, procurou-se correlacionar o conceito de auto-imagem com o de auto-estima que é como nos comportamos nas relações interpessoais, devido à predisposição ao racismo em que as crianças negras se encontram no ambiente escolar. A variável classe social foi adotada para confrontar estes conceitos em realidades distintas. Classe social é definida aqui como sendo a divisão estabelecida a partir do trabalho, atividade que move a sociedade capitalista em que se encontra atualmente o país.

METODOLOGIA:
Para compor a pesquisa foi utilizado o experimento adaptado de Reginald Jones e Yvone Smith, “Black chlidren’s associations of class-descriptions labels” (JONES, 1980). O trabalho pôs em foco as perguntas da pesquisa citada acima adaptadas à realidade brasileira por diferir bastante da realidade norte-americana no que tange as diferenças sócio-econômicas. O procedimento consistiu em entrevistas individuais com 20 crianças em cada escola de aproximadamente 7 anos, nas quais era simulado um exame de criatividade para que não houvesse respostas tendenciosas. Observando duas bonecas de mesma forma e tamanho, uma branca e outra negra, deveria ser criada uma história direcionada pelas perguntas do entrevistador. O questionário era composto por 7 questões com intuito de identificar possíveis estereótipos com as duas bonecas. Foi adotado um sistema de pontos onde cada boneca poderia receber um máximo de 5 pontos e um mínimo de 0 de acordo com as respostas positivas e negativas. A cada resposta positiva atribuía-se 1 ponto. A contagem dos pontos foi utilizada para calcular o nível de empatia das crianças com ambas as bonecas, ressaltando que as respostas destinadas à análise da auto-imagem foram analisadas apenas com crianças negras das duas escolas.

RESULTADOS:
As crianças foram classificadas como negras e brancas a partir de traços físicos característicos de cada grupo étnico como cor e tipo de cabelo (claro ou escuro, liso ou crespo), nariz (largo ou fino) e lábios (grossos ou finos). As crianças negras foram encontradas, em sua maioria, na escola de baixa renda enquanto que a maior parte das crianças brancas se concentrava na escola de alta renda, o que comprova dados estatísticos que revelam que a maior parte da população que se encontra no nível de pobreza é negra. Os resultados obtidos demonstraram que a imagem do branco é mais positiva quando as crianças eram questionadas sobre a inteligência e o tipo de trabalho realizado por cada boneca. A maior parte das respostas positivas com relação a essas perguntas foi direcionada para a boneca branca. A dificuldade de aceitação da identidade racial por parte das crianças negras foi vista em perguntas que questionavam a identificação das crianças com cada boneca. A maior parte das crianças negras se identificou com a boneca branca.

CONCLUSÕES:
Foi possível notar que há racismo em diferentes graus, em ambos os níveis sócio-econômicos e até mesmo entre as próprias vítimas, principalmente nas crianças da escola de baixa renda onde a concentração de crianças negras era maior. A auto-imagem de crianças negras era relacionada com a boneca branca e não com a negra. O trabalho corroborou sua hipótese por ter sido verificado que as relações raciais e sociais estão extremamente ligadas quando analisada a quantidade de negros e brancos nas escolas, além do nível de empatia com as bonecas verificando-se, também, a manutenção de estereótipos negativos com relação à boneca negra. Como alternativa, sugere-se que o aumento de ações afirmativas no que tange ao contato entre os dois grupos étnicos por meio da democratização do acesso ao ensino de qualidade nas escolas públicas, se faz urgente para que haja uma real igualdade de oportunidades entre os cidadãos, conforme a Constituição Federal do Brasil.



Palavras-chave:  racismo, classes sociais, ambiente escolar

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