60ª Reunião Anual da SBPC

INTRODUÇÃO:

O complexo estuário-manguezal serve como berçário, meio nutritivo, centro de multiplicação de numerosas espécies animais e fonte de recursos naturais para as comunidades costeiras que deles utilizam produtos vitais para a sua subsistência ou para a economia local. Neste contexto, os pescadores artesanais vivendo no interstício do estuário e do mangue, usando seus recursos naturais para a reprodução de seu modo de vida construíram um território rico em diversidade biológica e cultural. Neste sentido, uma pesquisa com enfoque teórico-metodológico na etnoecologia é de grande importância para compreender melhor como esses povos comportam-se frente aos recursos biológicos extraídos, consumidos e comercializados. Diante dessas constatações, o estudo em questão visa contribuir para o manejo participativo, verificando o uso e manejo dos principais peixes de importância econômica e cultural das comunidades ribeirinhas do Estuário do Rio Mamanguape, identificando se há técnicas de manejo nos recursos mais explorados nos ecossistemas de mangue por parte dos pescadores do ERM e também sobre o conhecimento ecológico das espécies de importância econômica e cultural.

METODOLOGIA:

O universo da pesquisa concentrou-se em três comunidades: Barra de Mamanguape, Tramataia e Três Rios no Estuário do Rio Mamanguape (ERM), sendo o estudo realizado junto aos pescadores. O Estuário do Rio Mamanguape localiza-se no litoral norte do estado da Paraíba, o qual pertence à Área de Proteção Ambiental (APA) da Barra do Rio Mamanguape cuja categoria permite a intervenção antrópica, de forma sustentável, pelas comunidades ribeirinhas. A proposta metodológica que foi utilizada neste trabalho envolve uma combinação de métodos qualitativos e quantitativos, os métodos qualitativos englobam as seguintes técnicas: Bola de Neve; observação direta; turnês guiadas e aplicação de entrevistas semi-estruturadas as quais estão sendo registradas eletromagneticamente com auxílio de um MP3 ou MP4. A análise das informações foi obtida de forma estritamente qualitativa, efetuada por meio da interpretação do discurso dos entrevistados, buscando, sempre que possível, justapor o modelo percebido (conhecimento etnoecológico) ao modelo operacional (conhecimento científico). Utilizou-se uma régua metálica para as medições das malhas das redes, com o propósito de verificar a correspondência entre o tipo de técnica e a sua seletividade.

RESULTADOS:

Entre os recursos faunísticos explorados pelos pescadores do ERM, destaca-se uma grande variedade de peixes. Os pescadores conhecem locais do rio onde as espécies são encontradas e, em função dos aspectos seletivos da pesca, diferentes técnicas são utilizadas para a captura das espécies. Foram identificadas nove técnicas de pesca. Os pescadores do ERM detêm um conhecimento bem elaborado a cerca das interações tróficas dos peixes da região, eles identificam a dieta alimentar e os predadores dos recursos pesqueiros que exploram. Segundo os informantes tem peixes que se alimentam de outros peixes que na classificação científica corresponde aos piscívoros; peixes que se alimentam de crustáceos e moluscos são ditos carnívoros; e peixes cuja dieta alimentar é a “espuma” ou a “nata” são classificados como planctófagos. O conhecimento que os pescadores detêm sobre a dieta alimentar dos peixes é herdado por outras gerações, mas também é produto da observação de comportamentos característicos de cada espécie, como por exemplo, o que é encontrado nos “estômagos” das espécies que capturam, ou ainda no caso de ataque a peixes que estão emalhados nas redes. Com relação a predação natural, identificaram-se predadores pertencentes ao grupo das aves e dos mamíferos, com predominância do primeiro.

CONCLUSÕES:

Os pescadores mantêm uma associação íntima com os sistemas aquáticos e com os recursos faunísticos, desenvolvendo conhecimentos e compreensões imprescindíveis para sua sobrevivência. Os pescadores do Estuário do Rio Mamanguape utilizam variadas técnicas para a captura dos peixes; entre estas existem as de maior e as de menor seletividade. A percepção deles em relação à ecologia trófica dos recursos pesqueiros é bem elaborada e semelhante à encontrada na literatura científica. O manejo de recursos naturais é, antes de tudo, uma questão social sendo crucial agregar conhecimento ictiológico acadêmico ao conhecimento tradicional, como forma de permitir um manejo participativo com o intuito de manter a qualidade de vida para a população que os usufrui, a qualidade do meio ambiente e a conservação dos recursos faunísticos para usufruto tanto das gerações presentes quanto das gerações futuras.

Instituição de fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave: Pescadores, Peixes, Etnoictiologia

E-mail para contato: dand_mm@yahoo.com.br