60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 6. Ciência Política - 1. Comportamento Político

COMUNICAÇÃO E PARTICIPAÇÃO POLÍTICA NAS ELEIÇÕES BRASILEIRAS NO EXTERIOR: LIMITES DA PERSPECTIVA TRANSNACIONAL

Elson Menegazzo1, 2

1. Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
2. Grupo de Estudos e Pesquisa de Migrações (UNESP/CNPq)


INTRODUÇÃO:
Nas Eleições de 2006, a participação dos eleitores brasileiros que vivem no exterior apresentou algumas questões pertinentes para se pensar elementos como a indefinição das fronteiras do Estado-Nação e sua implicação nas dificuldades para se definir a cidadania e, o uso que as tecnologias de informação e comunicação (TICs) possibilitam na prática de uma nova forma de política, a política informacional. A pesquisa teve o objetivo de analisar como as TICs foram utilizadas durante o período eleitoral, na relação de proximidade e distância vivida pelos emigrantes, que na condição de cidadãos brasileiros estão próximos do Brasil, conservando os direitos e deveres do cidadão, como o voto obrigatório, mas distantes política e socialmente, por se encontrarem além das fronteiras do território nacional. Buscou-se ainda, identificar alguns limites da comunicação e da participação política na perspectiva transnacional, em que os migrantes internacionais continuam mantendo conexões sociais, econômicas e políticas com os seus países de origem.

METODOLOGIA:
Foram analisadas duas formas de comunicação no período eleitoral: a campanha política, apresentada pelos candidatos e sítios de partidos políticos; e a campanha da cidadania, através do papel da mídia imigrante na cobertura das eleições, informando os eleitores que vivem no exterior sobre as eleições e a importância do voto. Na análise qualitativa dessas duas formas de comunicação foi utilizada a técnica de análise de conteúdo com sistemas CAQDAS (Computer Assisted Qualitative Data Analysis Software). Os dados dessas análises qualitativas foram comparados com os dados oficiais do Tribunal Superior Eleitoral sobre o quantitativo do eleitorado, filiação partidária, e afluência às urnas durante a votação no exterior.

RESULTADOS:
Para os eleitores que se encontram fora do país, a comunicação com os partidos e com o contexto da política nacional através dos sítios é a forma mais eficaz para se obter informações, considerando que a propaganda eleitoral e algumas outras formas de comunicação não chegam além das fronteiras nacionais. Porém, o acesso ao conteúdo de sítios de partidos políticos brasileiros feito no exterior não foi positivo quanto a encontrar informações e propostas para os eleitores brasileiros que emigraram. Essa falta de interesse dos partidos brasileiros pelos emigrantes, tende a reforçar a desilusão e a apatia que muitos brasileiros sentem com a política no exterior e, ainda, somada à dificuldade de acesso ao voto, com o deslocamento até embaixadas e consulados no dia de votação, reflete na participação nas eleições: dos 86.360 eleitores aptos a votar em 2006, 51,92% deixaram de votar no primeiro turno e 52,51% no segundo. Esses dados contrastam com os analisados na mídia imigrante e sua cobertura das eleições, que apresentou uma interessante discussão política no período eleitoral, como também, uma divulgação das eleições, convocando os brasileiros a votarem, divulgando informações sobre locais de seções eleitorais e a organização de transporte para os dias de votação.

CONCLUSÕES:
A participação dos emigrantes brasileiros em atividades políticas voltadas para o Brasil demonstra, através do envolvimento desses nas Eleições de 2006, encontrar-se num contexto de limites da prática política “transnacional” verificado em recentes pesquisas com populações imigrantes nos Estados Unidos e na Europa, sendo que o caso brasileiro se caracteriza pelo: 1) reduzido número de eleitores aptos a votar em relação ao universo da população de emigrantes; 2) uma alta taxa de abstenção registrada nos dias de votação; 3) pouquíssimas filiações partidárias entre emigrantes; 4) desinteresse dos partidos políticos pela população emigrante e 5) ausência de comunicação política para além das fronteiras nacionais.



Palavras-chave:  Transnacionalismo, Comunicação política, Prática política

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