60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social

DISSONÂNCIA E TABAGISMO: QUANDO FUMAR SE TORNA UM DILEMA DENTRO DE SI

Karina Marques Ferreira Queiroz1
Camila Quinteiro Kushnir1
Cláudio São Thiago Cavas2

1. UFRJ
2. Prof- Departamento de Psicometria- UFRJ-Orientador


INTRODUÇÃO:
Segundo a Organização Mundial de Saúde, o tabagismo é considerado a principal causa de morte evitável no mundo, com mais de um bilhão de fumantes. Mesmo o número de fumantes permanecendo elevado, vê-se que há uma mudança social de atitude frente ao cigarro. As pessoas tendem a não mais vincular o cigarro ao glamour, passando a, muitas vezes, tentar influenciar os fumantes a abandonarem o que consideram ser um vício. Com a progressiva mudança desses valores, os fumantes passaram a ter que lidar com uma maior incoerência: possuir um hábito não mais aceito de modo amplo (e até contestado) socialmente. Além disso, com um maior acesso às informações sobre os malefícios do fumo, muitos fumantes passam a internalizar que o cigarro é nocivo à saúde, porém continuam a aderir ao vício. O desconforto advindo desse conflito entre uma atitude cognitiva (o que se sabe sobre os danos que o cigarro pode causar) e seu comportamento (fumar), caracterizam no indivíduo um estado de dissonância cognitiva. O presente estudo teve por finalidade entender como os fumantes pensam, sentem e agem frente a tais mudanças sociais, analisando a relação entre o tabagismo e a dissonância cognitiva proporcionada por ele.

METODOLOGIA:
Sujeitos: Para a construção da amostra se utilizou uma amostragem não-probabilística, em que os componentes foram selecionados intencionalmente de acordo com uma característica específica: ter o hábito de fumar. A amostra foi composta por três grupos, contendo jovens de 18 a 25 anos, e adultos de 26 a 39 anos e de 40 a 60 anos, constituindo um total de 150 participantes, sendo 50 de cada grupo etário. Em cada conjunto se equilibrou o número de sujeitos do sexo feminino e masculino. Os instrumentos de coleta de dados foram aplicados em indivíduos residentes em diferentes cidades brasileiras. Instrumento: Construiu-se um questionário com 27 questões fechadas e abertas com base na literatura de modo a permitir a abrangência do conteúdo. Procedimento: Com o instrumento elaborado, foi realizado um pré-teste, com seis sujeitos, com o objetivo de validar o seu conteúdo. Os contatos para aplicação do questionário foram estabelecidos diretamente ou pela internet com fumantes voluntários, que foram informados do anonimato em suas participações. Após a coleta de dados, estes foram submetidos a um tratamento estatístico inferencial, onde o teste de hipótese utilizado foi o Teste do Qui-Quadrado, ao nível de significância de 0.05 para cada questão. O tratamento estatístico foi realizado através do pacote BioEstat 4.0.

RESULTADOS:
A análise dos resultados demonstrou que na faixa de 40 a 60 anos houve uma tendência a apresentar uma maior dissonância cognitiva relacionada ao hábito de fumar, se comparado aos outros grupos etários. Esses dados estão de acordo com a literatura, que demonstra ser nessa faixa que se encontram os indivíduos que fumam há mais tempo, sendo estes os que mais procuraram auxílio em clínicas especializadas para se absterem do fumo. Esse estado de mudança de atitude frente ao tabaco caracteriza um desconforto emocional (dissonância cognitiva) que advém de um hábito que consideram errado. Já o grupo etário de 18 a 25 anos, de acordo com os resultados, mostrou ter uma menor dissonância cognitiva frente ao cigarro, pois além de tender a fumar a menos tempo que as outras faixas etárias, essa faixa é composta por jovens cuja característica mais marcante é a dificuldade de antecipar conseqüências, ou seja, mesmo sabendo que o cigarro é prejudicial à saúde, tal grupo etário ainda não consegue antever tantos pontos negativos relacionados ao fumo a ponto de proporcionar uma dissonância cognitiva elevada.

CONCLUSÕES:
Os resultados demonstraram haver uma diferença significativa entre as faixas etárias analisadas na forma como lidam com a dissonância cognitiva e no grau de dissonância experimentada, e que de forma geral seus comportamentos, cognições e afetos são influenciados pelas pessoas do seu entorno. Essa pressão social somada ao maior acesso às informações faz com que o fumante permaneça em constante contato com o conflito “se adequar (ou não) ao socialmente aceito, deixando (ou não) de fumar”. Estes resultados poderão servir de base para estudos posteriores, utilizando amostras maiores, além de apresentar, como possíveis variáveis a mais, o nível de escolaridade, a renda familiar e o grupo etário de fumantes menores de 18 anos.



Palavras-chave:  Tabagismo, Dissonância Cognitiva, Atitude

E-mail para contato: karinamfq@yahoo.com.br