60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 4. Sociologia do Trabalho

AÇÃO SINDICAL NO SÉCULO XXI: RELAÇÃO ENTRE ESTRUTURA E CONTEXTO

Fagner Sutel de Moura1
Daniel Gustavo Mocelim1
Régis Leonardo Gusmão Barcelos1
Maria Yoshara Catacora Salas1
Simone Adriana Silva dos Santos1
Sônia Maria Karan Guimarães1

1. UFRGS


INTRODUÇÃO:
Segundo a literatura especializada, o sindicalismo encontra-se em crise. Fatores de ordem estrutural, como os processos de globalização e liberalização da economia acompanhados de processos de reestruturação das empresas e introdução de novas tecnologias, são apontados como responsáveis por limitar as possibilidades de ação dos atores sociais implicados no processo. Esta tese sugere que as práticas sindicais seriam conhecidas e previsíveis na medida em que se constituiriam em reações aos processos estruturais. O presente trabalho pretende analizar a ação sindical no setor de telecomunicações brasileiro fundamentando-se na perspectiva de que os fenômenos sociais não são apenas resultados passivos de fatores de ordem estrutural, mas são produzidos por ações, reações e estratégias dos agentes sociais envolvidos. Este enfoque supõe que os atores sociais, ainda que condicionados pela posição que ocupam nos cenários sociais mais amplos, têm possibilidades de realizar escolhas baseadas em trajetórias, construídas em contextos específicos. E que há, portanto, necessidade de maior vigilância nas generalizações sobre fenômenos sociais.

METODOLOGIA:
Foram analisados quatro sindicatos de trabalhadores ligados ao setor de telecomunicações, sendo dois sindicatos filiados a uma central sindical (grupo1) e outros dois a uma segunda central sindical (grupo 2). Os dados foram coletados nos boletins sindicais de acordo com o conteúdo dos temas emitidos no ano de 2007, e analisados através da distribuição de freqüências dos referidos boletins por conteúdos selecionados, segundo os diferentes segmentos de empresas: 1) core, 2) sub-contratadas e 3) call-centers. Buscou-se compreender em que segmento de empresas os sindicatos de diferentes centrais sindicais concentravam suas atividades e quais os conteúdos abordados em seus boletins, pois estes expressariam a forma de ação elaborada por estes atores. Essa classificação das empresas permite verificar segundo a distribuição dos boletins e conteúdos analisados, o tipo de relação que cada sindicato desenvolve nos diferentes segmentos de empresas, e verificar a existência ou não de uma postura institucionalizada das práticas sindicais segundo cada um dos dois grupos selecionados ou de forma global. O projeto contou com a participação de 3 bolsistas de IC, 1 bolsista de apoio técnico, um doutorando e a professora orientadora do grupo.

RESULTADOS:
Os achados da análise comparada permitiram perceber significativas diferenças entre os diferentes sindicatos dentro de um mesmo grupo e entre sindicatos dos dois diferentes grupos. Ao menos duas posturas sindicais foram verificadas na análise, uma burocratizada e outra mobilizadora. Entre os sindicatos burocratizados encontram-se sindicatos pertencentes às distintas centrais sindicais, fenômeno que se repete entre os sindicatos mobilizadores. Condicionantes macro; como globalização, liberalização, reestruturação das empresas, introdução de novas tecnologias e filiação a centrais sindicais; parecem não determinarem as posturas de cada sindicato, antes as diferenças constatadas entre os sindicatos analisados não parecem reproduzirem ações condicionadas por estas estruturas. O primeiro sindicato 1A apresentou relativa burocratização associada a uma postura negociadora no que diz respeito à remuneração variável e forte atuação entre empresas core, já o sindicato 1B apresentou menor burocratização e uma elevação de suas práticas mobilizadoras assim como a concentração de suas atividades em empresas core, o sindicato 2A apresenta uma postura mobilizadora concentrada em call-centers e o ultimo sindicato 2B apresenta uma postura altamente burocratizada em empresas terceirizadas.

CONCLUSÕES:
Os achados empíricos contrastam com algumas perspectivas teóricas predominantes na medida em que, diferentemente da literatura corrente, os dados demonstram que diferentes posturas podem co-existir em iguais segmentos de empresas, assim como iguais posturas podem ser verificadas em diferentes segmentos de empresas. Isso leva a conclusão que não há a predominância de uma cultura/postura sindical homogênea como pressupõem algumas abordagens que apontam para a institucionalização das práticas sindicais. O conhecimento das regras implícitas à globalização não implica na subordinação e conformação às mesmas de forma passiva, antes permite certa margem de ação aos atores implicados no processo. Estes podem até certo ponto produzir suas próprias estratégias. Ainda que os atores sociais analisados passem por crises ao longo de suas trajetórias, estas podem ser resultado não apenas de fatores extrínsecos aos mesmos, como também intrínsecos. O repertório de combinações possíveis no que diz respeito à ação sindical exige uma maior vigilância na construção de generalizações sobre o tema, assim como uma avaliação mais pormenorizada das questões contextuais em que estão inseridos os atores, no que pese a consideração de questões culturais, históricas e políticas específicas a cada ator.

Instituição de fomento: CNPq

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Sindicalismo, Estrutura, Contexto

E-mail para contato: fagnersutel@hotmail.com