60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 7. Educação - 13. Ensino Profissionalizante

EDUCAÇÃO PROFISSIONAL: ANÁLISE CRÍTICA DO CURSO TÉCNICO EM MEIO AMBIENTE DA SEEDUC/RJ

Sara Rozinda Martins Moura Sá dos Passos1, 2
Neise Deluiz1
Victor Novicki1

1. PPG/UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
2. Fundação de Apoio à Escola Técnica - FAETEC


INTRODUÇÃO:
Vive-se em uma sociedade que ao sofrer transformações nas formas de produção e de organização do trabalho, intensifica a degradação ambiental, a desigualdade e a exclusão social. Fatos que se revelam como desafios ao Ensino Profissionalizante, pois exigem, além dos novos parâmetros de formação e qualificação profissional frente ao mercado de trabalho, a construção de uma proposta educacional comprometida com uma educação ambiental crítica e transformadora. Esta pesquisa objetiva analisar o Curso Técnico em Meio Ambiente do Colégio Estadual Presidente Kennedy (CTMA), em Belford Roxo/RJ, com foco na organização curricular pautada no modelo de competências; de modo a responder às seguintes questões de estudo: Quais são as características socioeconômicas de alunos e professores? Que percepção esses atores têm do CTMA pautado no modelo de competências? Que competências socioambientais têm sido construídas na formação do técnico em meio ambiente? A pesquisa justifica-se por ter como objeto o primeiro colégio estadual a oferecer este curso técnico no Estado do Rio de Janeiro, com organização curricular feita pelos próprios professores, e que está localizado em um contexto marcado pela permanente degradação socioambiental.

METODOLOGIA:
Esta pesquisa trata-se de um estudo de caso fundamentado no paradigma da Teoria Crítica, desenvolvendo-se em quatro etapas: 1. Revisão de literatura, para o levantamento do quadro teórico adequado ao estudo proposto; 2. Levantamento e análise de fontes documentárias, a partir da legislação em vigor, do projeto pedagógico da escola; do plano de curso aprovado e dos indicadores do número de alunos concluintes, desistentes, não promovidos e evadidos, para se obter informações sobre o funcionamento e organização do colégio, os pontos positivos e negativos na implementação e desenvolvimento do curso e, principalmente, as práticas pedagógicas e as matrizes teóricas que orientam o referido curso; 3. Pesquisa de campo através do Diagnóstico Socioambiental do entorno da escola para ser utilizado como parâmetro de análise do curso; um questionário com 35 perguntas abertas e fechadas para 78 alunos do CTMA e outro com 21 questões para 8 professores com regência de turma no curso e, entrevistas semi-estuturadas com as gestoras, a coordenadora pedagógica e professores; 4. Análise e interpretação dos dados coletados, buscando-se responder às questões postas pela pesquisa, estabelecendo relações e oposições entre as categorias baseadas na freqüência, presença ou ausência delas no texto.

RESULTADOS:
A percepção dos atores sobre o CTMA é que os objetivos do curso não foram atingidos. Segundo os alunos, o curso reproduziu os erros do ensino médio, sobretudo no que tange a muita teoria e pouca prática. Segundo os professores, a carência de professores específicos foi o principal problema do curso, devido a um mau gerenciamento por parte da direção. A abordagem da educação ambiental multi, inter e transdisciplinar com desenvolvimento de projetos integrados, dentro dos padrões de Tbilisi (1997), está pouco contemplada nas práticas educacionais. Após 18 meses de curso com efetiva carência de professores e um período de greve, que levou ao não cumprimento da carga horária prevista na matriz curricular, observou-se que apenas uma competência socioambiental foi construída e, mesmo assim, de forma parcial. Professores e alunos apontaram como contribuição positiva a conscientização ambiental oportunizada pelo curso. Entretanto, observou-se certo ativismo ambiental, isto é, uma conscientização que fica apenas no discurso, pois que não foi praticada. A grande maioria dos alunos reconhece a realidade de miséria, exclusão social, desigualdade social e degradação ambiental existente em Belford Roxo, mas não relaciona conscientização ambiental com justiça social.

CONCLUSÕES:
O Estado do Rio homologou o CTMA, mas não contratou profissionais específicos para aturem no curso. Sendo assim, de forma enganosa, acena para os jovens e adultos uma possibilidade de atuação em um exigente e competitivo mercado de trabalho. Por mais comprometida que seja a gestão do colégio, por mais competente e inovadora, existe uma crise educacional que está muito além do muro da escola. A falta de professores, greves e paralisações, baixos salários – são reflexos da ausência de políticas públicas de Estado. Com relação as matrizes teóricas que possam orientar o CTMA, considera-se que as competências socioambientais devam estar direcionadas para a matriz crítico-transformadora do currículo, visando: 1) reflexão e ação acerca da definição socioambiental; 2) entendimento que desenvolvimento sustentável é uma decorrência das relações sociais – sociedades sustentáveis; 3) conscientização sobre a educação ambiental possível, a partir da consciência ambiental e participação, individual e coletiva, como dimensão da práxis. Recomenda-se a ressignificação das competências descritas no Plano de Curso, buscando-se o desenvolvimento profissional dos professores e direcionando o Ensino Profissionalizante para os princípios da educação omnilateral, politécnica e integral.

Trabalho de Professor do Ensino Básico ou Técnico

Palavras-chave:  Educação Ambiental., Ensino Profissionalizante., Competências Socioambientais.

E-mail para contato: sararozinda@hotmail.com