60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana

ESPAÇOS DA CIDADE: REPRESENTAÇÕES DA PAISAGEM URBANA NA FOTOGRAFIA

Jeyson Ferreira Silva de Lima1
Denize Santos de Medeiros1
Eugênia Maria Dantas1, 2

1. Universidade Federal do Rio Grande do Norte
2. Profa. Dra.


INTRODUÇÃO:
“Toda fotografia é um resíduo do passado”, afirma Boris Kossoy (1989). Partindo desta premissa dá-se relevância ao estudo da fotografia como meio que permite a interpretação da paisagem, sendo esta considerada uma forma que agrega representações do passado. Dessa feita, a imagem que impregna a fotografia registra fatos, acontecimentos e mudanças espaciais que podem ser estudados como vestígios da ação humana que alimenta a memória. Na cidade de Caicó-RN, no período que compreende a primeira metade do séc. XX, as fotografias de José Ezelino da Costa podem ser consideradas guardiãs de práticas sócio-culturais que se realizam no espaço geográfico. Este trabalho aborda a paisagem a partir dos registros fotográficos, com o intuito de analisar as transformações espaciais que se processaram e que foram responsáveis por colocar novas formas capazes de interferir na organização da urbe.

METODOLOGIA:
Para o desenvolvimento do trabalho selecionamos 34 fotografias do referido fotógrafo, dentre estas foram filtradas cinco imagens que trazem informações a respeito de momentos marcantes de alterações paisagísticas da referida cidade. Estas imagens fazem parte do banco de dados do projeto Fotografia e Complexidade: itinerários norte-rio-grandenses que, durante seu período de execução, congregou um acervo da ordem de mais de duas mil fotografias de 11 fotógrafos seridoenses, e que tem alimentado atividades de pesquisa, dentre as quais destaca-se Espaço e memória: o Seridó Potiguar na fotografias dos séculos XIX e XX, do qual este trabalho é um dos produtos. Para trabalhar as imagens foram realizados procedimentos de leituras bibliográficas sobre fotografia, imagem, paisagem urbana em autores como KOSSOY (1989), SANTOS (1988) CERTEAU (2001) e MORAIS (1999) tanto em uma perspectiva geral como local. Em sintonia com estas realizou-se levantamento em fontes como jornais, revistas e periódicos da época para dar suporte à análise fotográfica como um recurso que permite compreender a paisagem como uma forma espacial que agrega o movimento no tempo, das práticas e transformações sócio-espaciais.

RESULTADOS:
A partir da análise das fotografias percebe-se que a paisagem contida nesta, evidencia um momento do passado, possuindo uma outra fisionomia, resultante de um processo de transformação continuo do espaço, principalmente no que se refere à organização da cidade. Foi percebido que neste período a cidade de Caicó estava passando por um intenso processo de modificação do seu espaço urbano e que essas transformações eram bastante perceptíveis em certos lugares como no entorno do grupo escolar Senador Guerra, no largo da catedral, na praça senador Dinarte Mariz e na Avenida Seridó. Sendo assim, as práticas espaciais resultantes do movimento da sociedade dão direcionamento na composição da configuração da paisagem. Nas fotografias pode-se vislumbrar o espaço enquanto receptáculo das ações humanas, na mesma medida que instiga a ver os empecilho que dificultam as transformações, revelando a paisagem como uma forma em processos de alterações. Desta feita, a organização espacial da urbe pode ser compreendia a partir do movimento que se estabelece partindo do que Milton Santos denominou de inércia dinâmica.

CONCLUSÕES:
Caminhando na direção das interpretações das fotografias feitas por José Ezelino, substancialmente na análise paisagísticas destas, e levando em consideração o tempo em que foram realizadas, constata-se que a fotografia pode ser usada como meio possibilitador da compreensão e da evolução fisionômica da paisagem. Nesse sentido, a fotografia pode contribuir para o desvelamento dos sucessivos processos históricos da sociedade alterando o espaço. Por meio das imagens percebem-se como as formas espaciais reveladas se incrustam na paisagem e passam a interferir na dinâmica urbana, alimentando o imaginário, a cultura e a memória. É possível dizer que as formas nem sempre existiram, elas têm uma data que marcam o seu início na paisagem, porém a maneira como interferem na dinâmica urbana ultrapassam a cronologia e passam a enredar o pertencimento dos sujeitos com o lugar. Assim, de forma conclusiva, pode-se argumentar que há uma relação do homem com a paisagem tornando-a um mosaico de permanências e alterações, guiadas por idéias, valores e interesses que estão na esfera de uma Geografia que é simultaneamente real e imaginária. A inércia dinâmica que toca a paisagem e que pode ser revelada na fotografia revela essa condição.

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Fotografia, Paisagem, Práticas Espaciais

E-mail para contato: jeysonfslima@yahoo.com.br