60ª Reunião Anual da SBPC




C. Ciências Biológicas - 6. Farmacologia - 3. Toxicologia

ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DAS INTOXICAÇÕES POR PSICOFÁRMACOS EM CAMPINA GRANDE.

Monalisa Taveira Brito1, 2
Isabel Cristina Oliveira de Morais1, 2
Fagner Neves de Oliveira1, 2
Sayonara Maria Lia Fook1, 2, 3
Denise Nóbrega Pires1, 2
Ingrid Christie Alexandrino Ribeiro de Melo1, 2

1. 1- Universidade Estadual da Paraíba- UEPB
2. 2- Centro de Assistência e informação Toxicológica de Campina Grande( Ceatox-CG)
3. 3-Coordenadora e pesquisadora do Ceatox-CG/Professor.Dr/Orientadora


INTRODUÇÃO:
Para os profissionais de saúde, os avanços da psicofarmacologia reaproximaram a especialidade da prática clínica geral trazendo novas perspectivas terapêuticas. Esta inovação promoveu uma mudança no perfil de utilização dessas drogas pela população, de tal forma que, em 1985, os medicamentos desta classe ocupavam o 9º lugar entre os mais vendidos mundialmente. Só em 1986, no Brasil, foram consumidos 500 milhões de doses diárias de tranqüilizantes, o que, segundo a Organização Mundial da Saúde, representava uma quantidade três vezes superior às suas necessidades. Este excesso de consumo no país remete a problemas de utilização, seja pelo surgimento de reações adversas, ou pelo uso com fins de violência (homicídio, suicídio). Desta forma, deslinda-se uma nova realidade a ser estudada, reforçada pelo fato de que os estudos populacionais sobre o consumo de psicofármacos são relativamente escassos em nosso país, o que nos obriga, muitas vezes, a lançar mão de estatísticas internacionais para o planejamento de ações de saúde em nossa área de atuação. Dentro desta perspectiva, o presente estudo tem por objetivo avaliar o perfil das intoxicações por psicofármacos atendidos no Centro de Assistência e Informação Toxicológica de Campina Grande (Ceatox – CG), no período de 2005 a 2006.

METODOLOGIA:
Este trabalho, realizado no Ceatox-CG, constituiu-se de um estudo transversal, retrospectivo e com abordagem quantitativa de todos os casos de intoxicação por psicofármacos atendidos e notificados nos anos de 2005 e 2006. Para coleta dos dados foi utilizada a ficha do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX). Foram atendidos 445 pacientes com diagnóstico de intoxicação por medicamentos, sendo a amostra constituída de 195 fichas, nas quais os medicamentos psicotrópicos representaram os agentes tóxicos, de maneira isolada ou em conjunto com outras substâncias. As variáveis estudadas foram divididas em quatro grupos: sociodemográficas (sexo, idade, circunstância); relativas ao agente tóxico (grupo de medicamentos); relativas à intoxicação: classificação da gravidade (leve, moderada e grave); e a evolução clínica (cura, óbito e ignorado). O grupo de medicamentos foi classificado em categorias terapêuticas, segundo o Anatomical-Therapeutical-Chemical Classification System (ATC), e a partir dos nomes comerciais definidos pelo Dicionário Terapêutico Guanabara Koogan 2006/2007. Os dados foram analisados através de estatística descritiva com base no programa Epiinfo versão 3.32.

RESULTADOS:
Dos 445 casos atendidos, 195 (43,8%) tiveram como agente pelo menos um medicamento psicotrópico. As intoxicações foram mais prevalecentes no sexo feminino, com 133 casos (68,2%), na zona urbana, com 164 casos (84,1%), na faixa etária entre 20 -29 anos, com 70 casos (36,1%), por tentativa de suicídio, com 142 casos (72,8%) e em estudantes, com 54 casos (28%). Na literatura, a prevalência do sexo feminino é unânime, bem como da faixa etária citada. De acordo com a classificação da ATC, os grupos de medicamentos de maior freqüência foram N05-Psicolépticos, com 64 casos (32,8%) e N03-Antiepilépticos, com 40 casos (20,5%). As associações (psicofármacos ou psicofármacos + outros agentes) aconteceram em 81 casos (41,5%); os Ansiolíticos (N05B) em 59,2% das associações e em 45,1% do total de intoxicações. O Diazepam foi o mais prevalecente quando a intoxicação era causada por um único agente, registrando 31 ocorrências (27,2%). Os benzodiazepínicos são os preferidos dos usuários e/ou prescritores, sendo o Diazepam o principal agente, citado por ser considerado um medicamento relativamente mais seguro do que os Barbitúricos. Quanto à gravidade dos casos, 123(63%) foram classificados como leves. Em 129 ocorrências (66,2%) houve cura e apenas 1 óbito (0,5%) foi registrado.

CONCLUSÕES:
Ficou demonstrado, nesta pesquisa, que o sexo feminino continua utilizando mais medicamentos do que o sexo masculino e que o grupo de medicamento mais utilizado, os psicolépticos, como, por exemplo, os antipsicóticos, representam um perigo à população quando usados de forma inadequada. O número elevado de intoxicações por associação de medicamentos por tentativa de suicídio, pode demonstrar que muitos dos indivíduos, vítimas de intoxicações, talvez não sejam usuários destes medicamentos, procurando-os apenas com esta finalidade. Deve ser ressaltado que, com a inovação das práticas terapêuticas, advém à responsabilidade de se aprimorar os diagnósticos e as ações psicofarmacológicas dos medicamentos e reduzir os riscos envolvidos na sua utilização, ações que, se efetuadas, poderiam reduzir a ocorrência de intoxicações. Assim, os resultados desta pesquisa podem ser utilizados como alerta quanto à necessidade de maior vigilância no consumo dos medicamentos. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) já exerce o papel de fiscalização sobre o uso de medicamentos através dos programas de Farmacovigilância e Toxicovigilância. Junto a estes programas, deve ser realizado um trabalho enfocando a prevenção de intoxicações por medicamentos.

Instituição de fomento: Programa de Iniciação Científica da Universidade Estadual da Paraíba-UEPB/PROINCI

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  intoxicação, epidemiologia, psicofármacos

E-mail para contato: monalisa.brito@gmail.com