60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação

O ENSINO DA HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E AFRICANA NAS ESCOLAS DO MUNICÍPIO DE HORIZONTE/CE.

Maria Francineila Pinheiro dos Santos1

1. Professora da Rede Pública Oficial do Município de Horizonte/CE


INTRODUÇÃO:
A atual implementação da Lei Federal n.10639/03 nas unidades escolares oficiais e particulares nos níveis de ensino fundamental e médio, instituindo a obrigatoriedade do ensino da temática História e Cultura Afro-Brasileira bem como, o estudo do processo de efetiva participação e contribuição do povo negro brasileiro no contexto da história do Brasil tem provocado inquietações no sistema escolar. Muitos professores utilizam-se do argumento da não preparação e da não formação em questões referentes à diversidade étnico racial, embora seja real em parte, para não trabalhar a História e Cultura Afro-Brasileira nas escolas, preferindo o silenciamento e o não questionamento desta temática. Neste sentido, o presente estudo tem como objetivo evidenciar e discutir a inserção da disciplina História e Cultura Afro-Brasileira e Africana nas escolas de ensino fundamental no município de Horizonte/Ceará, regulamentada em 25 de Fevereiro de 2008. A inserção da disciplina História e Cultura Afro-Brasileira nas escolas retrata uma conquista histórica das organizações civis do Movimento Negro e o reconhecimento por parte do Estado Brasileiro do dever de promover políticas públicas efetivas para reparar as seqüelas políticas, econômicas, sociais e culturais produzidas pelo escravismo criminoso.

METODOLOGIA:
O nosso trabalho utilizou-se de diversos recursos metodológicos: primeiramente participamos da formação continuada intitulada de História e Cultura Afro-Brasileira promovida pela Secretaria de Educação, Cultura e Desporto da Prefeitura Municipal de Horizonte, a qual tinha como finalidade preparar e subsidiar os professores de materiais e conhecimentos necessários para atuarem nas salas de aula. Em seguida preparamos projetos pedagógicos na escola com o intuito de iniciarmos a discussão desta temática. Realizamos ainda o trabalho de campo com os alunos em uma comunidade remanescente de quilombola localizada em Horizonte/CE visando aproximar os alunos com a realidade vivida pelos mesmos e com a sua história. Organizamos peças teatrais, dança e produção de cordéis com os alunos do ensino fundamental, as quais foram apresentadas na Semana Municipal da Consciência Negra ocorrida nos anos de 2006 e 2007 e por último, mas precisamente em 2008 tivemos a inclusão da disciplina História e Cultura Afro-Brasileira e Africana nas escolas de ensino fundamental do município de Horizonte/CE.

RESULTADOS:
O ensino da referida disciplina tem buscado desconstruir as concepções etnocêntricas e/ou eurocêntricas, as quais atribuíam à população negra uma visão inferiorizada, sedimentada na seletividade, na discriminação racial e no preconceito. Percebe-se que geralmente os estudantes afrodescendentes não gostam de falar sobre o escravismo criminoso na sala de aula. Ficam envergonhados e acanhados, trata-se de um assunto indigesto. As razões desta aversão são muito simples, o assunto é sempre tratado de forma inadequada e preenchida de preconceitos e racismo que inferiorizam a população negra. As aulas de história têm um discurso que penaliza a população negra pelo escravismo sofrido, a vitima vira culpado. A história enaltece o bandido que foi o escravizador, e este continua sendo tratado de senhor dos escravos. Nesse contexto, os contínuos diálogos, debates e reflexão desencadeados na sala de aula tem possibilitado aos alunos repensar as mentalidades discriminatórias e preconceituosas que regem a organização social em que vivemos construindo assim uma educação multicultural.

CONCLUSÕES:
As discussões e as descobertas acerca da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, demonstrando as contribuições dos africanos na arte, na medicina e na arquitetura são maneiras de trazer à tona informações que deveriam ter chegado à sala de aula e não chegaram, pois a imagem da população negra e o tema do escravismo é sempre tratado de forma sentimental e distante da realidade histórica. Na atualidade a aula conversa com as imagens vindas das novelas da televisão, e nela o escravo sempre fala errado e o senhor correto. A própria forma de falar produz uma sensação de hierarquia cultural e social entre os atores. Um sabe tudo, é firme e resoluto nas suas ações, o outro está sempre assustado e não sabe nada. Ademais, os eventos realizados têm constituindo-se enquanto oportunidades de vivência de valores da cosmovisão africana, com a circularidade, a oralidade e a cooperatividade, as quais possibilitam inaugurar e fortalecer práticas de convivência solidária, de parceria, de acolhimento e de respeito às identidades culturais. Portanto, acredita-se que o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana constitui-se enquanto instrumento de promoção da igualdade étnico racial fundamental para a construção de uma sociedade multicultural, pluriétnica e democrática.

Instituição de fomento: Prefeitura Municipal de Horizonte (PMH).

Trabalho de Professor do Ensino Básico ou Técnico

Palavras-chave:  História e Cultura Afro-Brasileira, Identidade Cultural, Educação

E-mail para contato: francineilap@yahoo.com.br