60ª Reunião Anual da SBPC




F. Ciências Sociais Aplicadas - 10. Comunicação - 67. Jornalismo e Editoração

MULHER NEGRA NAS REVISTAS FEMININAS: ESTUDO SOBRE A QUESTÃO RACIAL E AS RELAÇÕES DE GÊNERO NAS REVISTAS CLÁUDIA E MARIE CLAIRE

Erly Guedes Barbosa1
Amarilis Cardoso Santos1
Rosimeire Silva Santos1

1. Universidade Federal do Maranhão


INTRODUÇÃO:
Os meios de comunicação de massa influenciam na organização social e na construção da realidade na contemporaneidade. A mídia apresenta-se como elemento da comunicação de massa que influencia as representações sociais construídas. Os discursos são compreendidos como forma de difusão de significados que exercem papel não somente para reprodução, mas também para a produção do preconceito. Dessa forma, os meios de comunicação atingem contextos sociais diversos, são pensados e produzidos a partir de jogos de poder de uma determinada parcela da sociedade interessada em manter hegemonia econômica, política e simbólica, afirmando ideologias e mitos arraigados no bojo das relações cotidianas. Compreender como a mulher negra é representada no plano simbólico por meio da mídia impressa e como isto pode manter determinados discursos hegemônicos é essencial para entender a estrutura social vigente. Afinal, o exercício do poder simbólico pode ser responsável por afirmar estereótipos, hierarquizar grupos sociais de acordo com sua classe social, raça/etnia, cultura ou sexo. Neste âmbito, esta pesquisa visa a analisar as representações de mulheres negras publicadas em duas revistas femininas de larga divulgação nacional “Cláudia” e “Marie Claire”, no período de novembro de 2007 a abril de 2008.

METODOLOGIA:
Esta pesquisa trata-se de uma análise de discurso, tendo como objeto de pesquisa as revistas “Cláudia” e “Marie Claire” entre os meses de novembro de 2007 a abril de 2008. Os itens escolhidos para examinar os periódicos são: os títulos, os subtítulos, as fotos e suas respectivas legendas e o corpo das matérias jornalísticas. Para a classificação inicial dos personagens é utilizada a categorização de cor-etnia do IBGE, categorias: preto, pardo, branco, amarelo e indígena. Os resultados relativos às categorias pretos e pardos são agrupados na categoria negros e são comparados às personagens categorizadas como brancos, enquanto as mulheres classificadas como amarelos e indígenas são eliminadas da análise.

RESULTADOS:
As revistas “Cláudia” e “Marie Claire” são mensais e publicadas pelas editoras Abril e Globo, respectivamente. Ambas têm a proposta de abordar temas como educação, beleza, negócios, moda, saúde, comportamento, sexo, entre outros. Nesses periódicos, os textos e fotografias remetem, em sua grande maioria, a mulheres de etnia branca. A mulher branca é apresentada como ideal não só de beleza, mas de perfeição, pois ela é sinônimo de eficiência, sucesso profissional e sexualmente desejável. Percebe-se, portanto, a adoção de um padrão branco de normalidade. A adoção da “branquitude” normativa por essas revistas é resultado da incorporação do mito da democracia racial brasileira e da “ideologia do branqueamento”. Em 97% das reportagens, a mulher branca é abordada de forma positiva, caracterizada como ser natural e normal da espécie humana. Além disso, a mulher negra está presente em uma quantidade ínfima de reportagens, sempre assumindo formas de estereótipos como a mulata sensual, a habitante de costumes exóticos ou a mulher criminosa. Os periódicos utilizam recursos de linguagem na formatação dos textos jornalísticos, de maneira que estes (re) produzam estereótipos e preconceitos de cunho racista e sexista.

CONCLUSÕES:
Diante da análise de matérias jornalísticas editadas nas revistas femininas de difusão nacional “Cláudia” e “Marie Claire”, constatou-se que a mulher negra é apresentada por esses periódicos de forma estereotipada e vazia. Ela é invisível nesses produtos midiáticos, pois não é foco das matérias jornalísticas e, quando ocupa lugar de destaque na reportagem, é representada sob a forma de estereótipos como a mulata sensual ou indivíduo exótico. Apesar de oficialmente não demonstrar as revistas analisadas adotam uma política de silêncio e discriminação em relação às mulheres negras, forjando um discurso fundado no mito da democracia racial brasileira e da ideologia do branqueamento. O resultado dessa construção é a negação da mulher negra em relação a sua etnia e cultura. A participação de mulheres negras no conteúdo de matérias jornalísticas, de forma não estereotipada, é uma maneira de reforçar a identificação positiva destas em relação à condição de gênero e delas.



Palavras-chave:  MULHER, DISCURSO, REVISTA

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