60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 4. Sociologia do Trabalho

CONCEPÇÃO DE LAZER DAS TRABALHADORAS DA FÁBRICA DE CHARUTOS E CIGARRILHAS CHABA: UM ESTUDO DE CASO

Nívea de Santana Cerqueira1, 2
Aurelice da Silva Marques1, 2
Ana Paula de Mendonça Nunes1, 2
Jeane dos Santos Medeiros1, 2
Luiz Carlos Rocha1, 3

1. Departamento de Educação/UNEB-Campus II, Alagoinhas
2. Discente do Curso de Licenciatura em Educação Física.
3. Professor Mestre/Coordenador do GEPEFEL -Orientador.


INTRODUÇÃO:
Ao longo da história, a mulher buscou conquistar espaços e garantir direitos sociais frente a uma sociedade machista. Esta junto a muitos movimentos, inclusive o feminista, garantiu vitórias, principalmente na sua inserção no mercado de trabalho. Mas até que ponto essas conquistas lhe beneficiaram? O que implicou à mulher esta busca de direitos iguais no mercado de trabalho? Que tempo livre sobrou para si mesma? Estas inquietações se intensificaram ao realizarmos uma pesquisa de campo para fins acadêmicos da disciplina Lazer e Meio Ambiente, e ao percebermos que os dados coletados com os questionários revelavam através das falas dos sujeitos como o lazer foi substituído pelo trabalho. Diante deste cenário, onde a mulher cada vez mais encontra-se inserida no mundo do trabalho é que procuramos investigar as concepções de lazer das operárias da Chaba – Charutos da Bahia Ltda. Para tanto nos valemos das proposições elencadas por Marcelino, Werneck dentre outros autores que abordam a questão do lazer e suas relações com o mundo do trabalho na sociedade contemporânea.

METODOLOGIA:
A presente pesquisa caracteriza-se como qualitativa do tipo estudo de caso e foi realizada na Chaba – Charutos da Bahia Ltda, uma empresa situada em Alagoinhas, região do recôncavo baiano. Esta foi fundada em 1998, a fabrica é considerada a segunda maior do Brasil, sobretudo, por ser este charuto o principal no mercado brasileiro. A Chaba tem toda a sua produção feita de maneira artesanal, onde a predominância da mão de obra é feminina, que é treinada na própria fabrica, daí o alto índice de mulheres no local. Dos 93 funcionários selecionados foram pesquisadas 30 mulheres através de um questionário semi-estruturado, além de analisarmos as concepções de lazer que permeiam a subjetividade dessas trabalhadoras. Para tanto, o questionário estruturado em duas partes as atividades de lazer realizadas em ambiente doméstico: caracterizadas pela TV, rádio, jornal, revistas, gosto musical, Internet e demais hobbies; e a outra o lazer externo: parques e áreas verdes, cinema, teatro, shows e espetáculos, museus, galerias, exposições de arte, participações em grupos, práticas corporais, atividades físico-esportivas, praia, shopping center, estádio de futebol. A coleta de dados se deu na própria empresa nos dias e horários combinados com as trabalhadoras.

RESULTADOS:
Nos dados apresentados observou-se que as participantes são mulheres com idades, nível de escolaridade e estado civil variados. Estes revelam a prevalência do uso dos meios de comunicação TV e rádio como os mais acessados, porém, concomitantemente a trabalhos domésticos. A mídia impressa foi citada como fonte de informação, disponibilizada pela própria empresa, onde se tem acesso durante o horário de almoço. Os estilos musicais citados foram variados, e todas admitiram ouvir música quando estão em casa. Dentre os hobbies: descansar e reunir-se com a família foram os que mais representaram para essas trabalhadoras o momento de lazer; além de ler, assistir Tv, beber, jardinagem, malhar, cozinhar e ouvir música, dentre os mais lembrados. No lazer em ambiente externo obtiveram maior destaque a praia, restrito ao período de férias, shows de artistas consagrados, idas ao parque localizado no centro da cidade, as práticas corporais/atividades físico-esportivas, predominantemente a caminhada (incluindo o deslocamento para o trabalho). A síntese dos dados apresentados mostra o quanto tem sido precária a utilização do tempo do lazer dessas trabalhadoras e, ainda, a ausência de uma visão mais crítica sobre o lazer e seu papel na formação das pessoas.

CONCLUSÕES:
O lazer tão complexo na sua definição vive um impasse muito maior quando trata do momento livre e prazeroso do gênero feminino e quanto menor o nível sócio-econômico, mais remota esta possibilidade. Conforme foi informado pelas participantes, a perspectiva de se ter um momento de ludicidade é muito pequena, a princípio porque, segundo elas, o tempo de trabalho supera os tempos livres, sendo este utilizado muitas vezes para realização de trabalho extra (casa, filhos, marido) que, apoiadas no desgaste físico gerado pela duplicidade dessa jornada, justificam o desinteresse por atividades relacionadas ao lazer. Ficou claro que atingir um lazer que equilibre a relação com o trabalho é difícil, pois, na fábrica ainda permanece a discussão do tempo de trabalho e tempo livre deparando-se com um conceito abrangente de lazer difícil de ser alcançado nesta sociedade, uma vez que, para as trabalhadoras o lazer está intrinsecamente ligado ao dinheiro, sendo este a única forma de viabilizá-lo. O que não a impedem de buscar alternativas que lhes satisfaçam, mesmo que em parte, desta forma o lar entra como um espaço elementar da realização do conjunto prazeroso, pois neste interior encontra-se o lazer comum às classes populares: a TV, o aparelho de som e o convívio familiar.



Palavras-chave:  Lazer, Mundo do Trabalho, Modo de Produção

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