60ª Reunião Anual da SBPC




H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 4. Sociolingüística

ALTEAMENTO [O]>[U] NA ÁREA RURAL DE BREVES-PA: UMA ANÁLISE VARIACIONISTA INCIDENTE NA SÍLABA TÔNICA.

Simone Carvalho Silva1
Orlando Cassique Sobrinho Alves2

1. Universidade Federal do Pará (UFPA)
2. Prof.Msc.(UFPA)


INTRODUÇÃO:
O presente trabalho aborda o fenômeno lingüístico denominado alteamento, que se constitui como a passagem da vogal [o] para [u] em contexto tônico, na área rural do município de Breves-Pa, a partir de uma abordagem de cunho variacionista. Cassique (2003), referindo-se à área de Breves, considera essa uma variação favorecida pela monotongação e, de modo mais abrangente, pelas relações que se estabelecem no interior da estrutura silábica. Este trabalho indaga-se sobre a realização variável desse fenômeno na área rural. O processo de investigação aqui empregado se respalda em uma análise sociolingüística laboviana, onde se analisa aspectos lingüísticos e sociais, sendo relevantes para o resultado da pesquisa e para o conhecimento lingüístico local. No trabalho de pesquisa buscou-se observar que a cidade de Breves é uma das áreas em que se usa, dentro do dialeto amazônico do Português do Brasil, o falar característico do interior do Pará. O projeto de que aqui se presta contas considera esse linguajar uma componente essencial da identidade paraense.

METODOLOGIA:
Foi realizada uma pesquisa de campo e dados foram coletados. Nessa pesquisa foram extraídos relatos de experiência pessoal, embasado na obra de TARALLO (1985). O procedimento teve de ser o de conversar com as pessoas e o de permitir o diálogo sem peias, para colher delas pequenas narrativas, relatos de experiência pessoal. Em sociolingüística quantitativa o método implica matematizações. Estas são importantes para estabelecer a relevância dos fatos para o falar de determinado agrupamento humano. Não se pode afirmar no vazio um estigma ou uma preferência em relação a este ou àquele uso. Afirmar a existência de causas sociais a fatos da linguagem verbal é uma tarefa que impõe busca de comprovações rigorosas, sistematicamente demonstráveis: A amostra foi feita com 36 informantes que tivessem nascido e não tivessem saído do município por mais de dois anos. As entrevistas foram realizadas e gravadas em fitas cassete sob a coordenação de CASSIQUE (2005), que contou com o auxilio de estudantes do curso de Letras do município. Os 36 informantes foram estratificados segundo o sexo, masculino ou feminino, faixa etária (15 a 25 anos, 26 a 45 anos e 46 anos em diante), e escolaridade em Analfabetos, ensino Fundamental (antigo 1° grau) e ensino Médio (antigo 2° grau).

RESULTADOS:
A variável dependente tratada foi a presença e a ausência de alteamento na vogal [o] < [u] na sílaba tônica, que resulta em exemplos como [‘tuku] em vez de [‘toku] ;[‘buka] em vez de [‘boka] , [‘nuitši] ou [‘nutši] em vez de [ noitši] e assim por diante. Desse modo, a partir da análise quantitativa, obtivemos como resultado o predomínio da ausência do alteamento com 80% e presença do alteamento com 20%. A análise lingüística aqui empregada buscou explicar a presença de alteamento, pelos fatores lingüísticos e extra-linguísticos que podem elucidar a variável dependente. Entre os grupos de fatores utilizados para o esclarecimento do fenômeno, os mais significativos foram a faixa etária e a escolaridade. O primeiro fator se mostrou muito importante pelo fato de contribuir para a compreensão da rejeição pela grande maioria dos falantes e resistência do dialeto por uma minoria. Já o segundo fator ratificou a relevância da escolaridade como agente modificante na vida dos falantes.

CONCLUSÕES:
Ao estudar a língua dos falantes deste município paraense, nos defrontamos com a realidade inegável da variação, onde o alteamento da vogal média alta [o] para [u] se constitui praticamente um fenômeno em extinção, e isso devido a um preconceito arraigado na sociedade. Assim, o modo de comunicação de muitas pessoas deste local acaba sendo estigmatizado, ou seja, os usuários desta forma sem prestígio terminam sendo “rotulados” de ignorantes e descuidados da forma “bela e padrão” de uso da língua. E um dos principais fatores para tal comportamento social advém da escolarização, haja vista que a mesma age como preservadora das formas de prestígio. O entendimento é o de que sem essa nossa marca lingüística maior estamos, os amazônidas paraenses, cada vez mais afastados de nossa caracterização distintiva face ao mundo. Tanto quanto a motivação para a descoberta científica, esse compromisso com a cultura estimula a pesquisa positivamente.

Instituição de fomento: Universidade Federal do Pará



Palavras-chave:  alteamento, variação, dialeto

E-mail para contato: simonebecape@yahoo.com.br