60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 5. História - 4. História e Filosofia da Ciência

INSTITUIÇÕES CIENTÍFICAS VIRTUALIZADAS: O CONHECIMENTO CIENTÍFICO EM QUESTÃO

VIVIANE GONZALEZ DIAS2

2. Programa de Pós graduação em História das Ciências e das Técnicas - UFRJ


INTRODUÇÃO:
O objetivo deste trabalho é refletir sobre a criação de institutos virtuais e as conseqüências da virtualização da ciência na produção do conhecimento científico. Os institutos virtuais, tais como foram propostos num projeto da Faperj (Fundação de Amparo à pesquisa no Estado do Rio de Janeiro), são parte de uma política pública. Esta teve por objetivo promover o desenvolvimento de setores estratégicos no Estado do Rio de Janeiro, incluindo projetos científicos e tecnológicos. Por intermédio do programa orientado, buscaram reunir instituições renomadas em determinadas áreas de conhecimento estratégico visando potencializa-las. Dentre as pesquisas científicas priorizadas, destacaram – se os estudos sobre mudanças climáticas globais e nanotecnologia. Em contrapartida, outras áreas de pesquisas, tais como a protêomica, também se esforçaram para constituírem institutos virtuais. As instituições integrantes de cada instituto virtual, embora estivessem geograficamente distantes, unificaram-se no espaço virtual. A atividade científica, projetada para além dos limites da sua localização física em laboratórios de instituições tradicionais, que particularidades pode conter? De que maneira a virtualização altera o modo como o conhecimento é concebido e produzido?

METODOLOGIA:
A consecução deste trabalho contém tanto dados de investigação qualitativos quanto uma reflexão filosófica acerca do tema. As informações a respeito dos institutos virtuais foram obtidas em entrevistas dado o caráter recente dos mesmos. Dentre os entrevistados estão integrantes de institutos virtuais e o responsável pela política de incentivo aos institutos virtuais na agência de fomento. Dados disponíveis nos sítios dos institutos virtuais e na Faperj, atualizados até janeiro de 2008 também fizeram parte da análise. Entretanto, o cerne da questão é filosófico. À proporção que o objetivo do trabalho se voltou para a elaboração do conhecimento científico, as possíveis interferências tecnológicas e da organização social na constituição da racionalidade científica das pesquisas em institutos virtuais tornaram – se a questão central do trabalho. Dentre os pressupostos filosóficos utilizados, destacam – se autores correspondentes às escolas de sociologia do conhecimento científico, do socioconstrutivismo e as reflexões filosóficas sobre a ciência de Alberto Oliva.

RESULTADOS:
A definição de virtualização é tomada de empréstimo do filósofo Pierre Lévy, “virtualizar uma entidade qualquer consiste em descobrir uma questão geral à qual ela se relaciona, em fazer mutar a entidade em direção a essa interrogação e em redefinir a atualidade de partida como resposta a uma questão particular” (p18). As instituições científicas ao deixaram de ser partes integrantes somente do espaço geográfico, virtualizaram-se. Consequentemente, os cientistas membros de uma comunidade científica passam a empregar técnicas que englobam o espaço virtual. Nesta produção virtual estaria a racionalidade científica comprometida? Haveria interferência da tecnologia ou da organização social e política no conteúdo da ciência produzida num espaço virtual? Estaremos diante de uma nova ciência ou apenas de uma outra configuração social da atividade científica anterior?

CONCLUSÕES:
Os institutos virtuais correspondem a um modelo organizacional de produção do conhecimento científico que permite a realização de ciência à distância, dados os recursos tecnológicos da era informacional. Como a implementação destas ferramentas ainda se encontra em curso, parte das reflexões sobre o real impacto que tais tecnologias exercem sobre conteúdo da ciência podem se revelar especulativas. No entanto, algumas mudanças metodológicas e organizacionais já são notadas mesmo em países como o Brasil. No primeiro caso, verifica – se a utilização géis de proteínas em bancos de dados virtuais, por exemplo. No segundo, percebe - se o quanto a organização social da comunidade científica virtualizada encontra a possibilidade de ampliar sua atuação. O desenvolvimento tecnológico permitiu o avanço da ciência à distância potencializando as trocas de informação entre os cientistas e integrando comunidades científicas dispersas no espaço. Finalmente, as conseqüências de tais mudanças acendem o debate acerca da racionalidade em contraposição às explicações sociais da ciência. Tendo em vista a ontologização das instituições científicas no ciberespaço, questiona-se a interferência de fatores externos e das novas tecnologias na dinâmica interna das comunidades científicas.



Palavras-chave:  virtualização, produção do conhecimento

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