60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação

O ESPAÇO EM SANTO FORTE DE EDUARDO COUTINHO

GIOVANA SCARELI1

1. Faculdade de Educação/UNICAMP


INTRODUÇÃO:
A maior parte das entrevistas do filme Santo Forte (1999) do diretor Eduardo Coutinho foi feita no interior ou no quintal das casas dos personagens, sendo que, apenas uma das entrevistas é realizada num bosque. Poucas vezes aparecem cenas de ruas e da casa de show onde uma das personagens trabalha. Esta escolha parece privilegiar o espaço privado em detrimento do espaço público e nos levam a questionar as relações deste grupo de pessoas com a cidade onde habitam. Este trabalho faz parte de uma tese de doutorado que está em desenvolvimento na Faculdade de Educação da Unicamp e busca refletir sobre os espaços que são apresentados no filme, pois consideramos importante pensar sobre essas escolhas, que podem nos dar pistas sobre o modo do diretor olhar para esses espaços e também porque podem provocar nosso olhar sobre as relações entre periferia-centro e as formas de ocupação do espaço público.

METODOLOGIA:
Este trabalho foi realizado a partir da decupagem do filme Santo Forte e da captura de diversos fotogramas. Posteriormente foram assistidos outros filmes que tem a favela como cenário ou temática e capturada diversas imagens. Com os fotogramas selecionados, demos início às descrições, comparações e interpretações. Algumas leituras foram necessárias e auxiliaram nas diversas reflexões e inferências a respeito do espaço apresentado pelos filmes e das formas de participação de seus personagens no espaço público.

RESULTADOS:
Através da descrição e da comparação entre as imagens do filme Santo Forte e de outros filmes, foi possível perceber que há uma repetição de algumas tomadas durante as filmagens. Os diretores parecem privilegiar as tomadas feitas do alto ou frontais da favela, de forma que vejamos um aglomerado de casas. Todos os filmes selecionados foram realizados em favelas cariocas e pudemos observar a freqüência com que os personagens são posicionados em determinados locais, tais como: praias, Corcovado, Pão de Açúcar. Assim, o “pano de fundo” são alguns dos pontos turísticos da cidade. Também é recorrente a presença de imagens do tipo “cartão postal”, utilizadas para abrir, encerrar, ou marcar algo dentro dos filmes.

CONCLUSÕES:
Refletir sobre as diferenças e as semelhanças de compor um filme que aborda as favelas do Rio de Janeiro, seja através da sua temática ou através do cenário, nos auxilia a pensar sobre esta cidade que está no filme, sobre a cidade que estamos inseridos e sobre as formas de participação no espaço público. A cidade filmada pelo cineasta é outra, diferente da cidade onde vivemos. É uma cidade que simula aquela que foi capturada por um equipamento cheio de regras e limitações, a começar pelo olho único, pelo enquadramento e pela bidimensionalidade. A cidade não é nem aquela que o diretor quer capturar, nem aquela que o espectador vê, mas ambas guardam semelhanças da cidade “real”, que também não conseguimos ver na sua totalidade. A “cidade” que estes moradores ocupam (personagens de Santo Forte e dos outros filmes utilizados na comparação) é a periferia, o morro, porém, o “direito à cidade” é um direito exercido por aqueles que se deslocam de suas casas para o lugar onde trabalham ou estudam. Porém, nesta rotina, as possibilidades de viver a cidade estão pré-fixadas pelo tempo, pelos horários do transporte, o que faz com que seus usuários queiram chegar ao trabalho e depois queiram voltar para a casa, pelo caminho mais curto e mais rápido.

Instituição de fomento: CAPES



Palavras-chave:  cinema, cidade, educação

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