60ª Reunião Anual da SBPC




C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 2. Ecologia Aquática

BIOACUMULAÇÃO E BIOMAGNIFICAÇÃO DE MERCÚRIO EM PEIXES RESIDENTES DE ÁREAS INUNDADAS DOS RIOS SOLIMÔES E NEGRO

Sandra Beltrán-Pedreros3
Rosseval Galdino Leite1
José Reinaldo Pacheco Peleja2
Alessandra Barros Mendonça4

1. Laboratório de Ecologia de Peixes II. INPA-CPBA. Dr.
2. Laboratório de Ciências Ambientais. UFPA-Santarém. Dr.
3. Projeto PIATAM. INPA/CPBA-UFAM. MSc
4. Laboratório de Ecologia de Peixes II. INPA-CPBA


INTRODUÇÃO:
O aumento do teor de mercúrio no ambiente aquático tem efeito direto sobre os organismos vivos através da bioacumulação e da biomagnificação na cadeia trófica. Na Amazônia a contaminação por Hg esta relacionada aos garimpos e zonas de inundação onde a química da água parece ser o principal fator controlador, já que a metilação e bioacumulação de Hg pelas bactérias aquáticas é mais eficiente com baixos teores de pH e altos níveis de COD. De aí, que as várzeas sejam apontadas como potenciais áreas de metilação. A transferência de Hg para as cadeias alimentares aquáticas pode ser acelerada através da reprodução periódica do fitoplâncton e do zooplâncton, já que estes microorganismos absorvem o Hg dissolvido na água e servem como alimento para os componentes dos níveis tróficos superiores; por outro lado os bancos de macrófitas, também colaboram no transporte do Hg e em estas se produze mais metilHg que na coluna de água e sedimentos. Pesquisam demonstram que o plâncton da Amazônia apresenta uma significativa concentração de Hg total. Neste contexto, as larvas de peixes são, potencialmente, as primeiras a absorverem este mercúrio, visto que a sua alimentação principal é baseada no zooplâncton. O conhecimento da concentração, transporte e dinâmica do mercúrio e metilHg no ambiente é necessário para predizer o impacto potencial sobre os seres humanos, bem como avaliar a qualidade do ambiente. Pouco, ainda, é conhecido sobre a biogeoquímica do Hg e do metilHg em florestas alagáveis como as várzeas e o igapó e em especial sobre seus efeitos sobre a biota aquática como os peixes que são a base da alimentação das populações e base da economia da região.

METODOLOGIA:
Para avaliar os níveis de mercúrio total em peixes residentes nas áreas inundáveis do meio rio Solimões e baixo rio Negro foram incluídas exclusivamente espécies que não fazem migração. As coletas foram feitas em vários momentos ao longo de um ano, usando uma bateria de malhadeiras, rede de ictioplancton, redinha e rede de pesca bentônica, para obter a maior quantidade de espécies de peixes residentes nos lagos, dos mais diversos biotopos e fases de desenvolvimento. Os exemplares foram identificados, medidos e pesados; tiveram verificada sua dieta para determinação do nível trófico nos diferentes comprimentos e retirado ±2 cm3 de músculo e, no caso de larvas e juvenis, foram agrupados vários indivíduos até atingir o peso mínimo da amostra. As amostras de músculo foram congeladas para transporte. Para as análises de mercúrio total foram usadas sub-amostras de 200 a 300 mg, levadas a digestão a uma temperatura de 121ºC durante 6 horas, sob ventilação. As amostras foram diluídas e alíquotas de 0,1 ml foram injetadas em espectrômetro de fluorescência atômica a vapor frio para a leitura analítica. As diferenças entre as concentrações médias de mercúrio total entre as espécies de peixes e entre as fases do desenvolvimento foram avaliadas usando uma análise de variância (ANOVA). O fator de bioconcentração (Bf) foi calculado como: Bf = log(Cb/Cw), onde, Cb são as concentrações de Hg nas amostras de peixe e Cw as concentrações na água. Os fatores de biomagnificação (Mf) como: Mf = log(Cn/Cn-1), onde, Cn são as concentrações de Hg no nível trófico superior e Cn-1 são as concentrações no primeiro nível trófico inferior.

RESULTADOS:
Foi coletado um total de 580 peixes de sete (7) famílias e 36 espécies, classificados em oito (8) hábitos alimentares: Carnívoros (n=141), Detritívoros (n=53), Insetívoros (n=3), Invertívoros (n=125), Onívoros (n=135), Piscívoros (n=37), Planctófagos (n=12) e Zooplanctófagos (n=74). Algumas espécies apresentaram mudanças ontogenéticas na dieta. As médias de mercúrio total para todas as espécies foram maiores no Solimões, exceto para Hoplias malabaricus. Considerando as espécies comuns aos dois rios e avaliadas pelo teste t-student somente Acaronia nassa (p=0.030), Hoplias malabaricus (p=0.026) e Mesonauta festivus (p=0.000) apresentaram diferença significativa nas médias de mercúrio total. A concentração média de mercúrio total por hábito alimentar demonstrou a sua relação com o processo de biomagnificação na cadeia trófica e de bioacumulação nos indivíduos. O hábito alimentar pode ser valorado como um nível trófico, assim, os peixes insetívoros e planctófagos tiveram as menores concentrações de mercúrio (91,49µg/g e 92,87µg/g), seguidos pelos invertívoros, detritívoros, onívoros, zooplanctófagos, carnívoros e piscívoros. A ordem dos níveis tróficos apresenta diferenças entre os dois rios. Espécies com mudanças ontogênicas no hábito alimentar tenderam a apresentar maiores concentrações de mercúrio quando pertencentes ao nível trófico maior. Comparando as médias de mercúrio total de cada hábito alimentar para o total das espécies não foram encontradas diferencias significativas entre os lagos de cada rio. Os maiores fatores de bioconcentração foram detectados em Acanthicus hystrix no rio Solimões (Bf=1,72) e em Hoplias malabaricus no rio Negro (Bf=1,73). O peso se mostrou mais relacionado com os teores de mercúrio total nos peixes, mas só em quatro espécies esta relação foi significativa (Astronotus ocellatus, Cichla monoculus, Hoplias malabaricus e Satanoperca jurupari). O pH dos lagos não influenciou diretamente na concentração de mercúrio nos peixes. Alem do PH e da área do Lago, fatores como a condutividade, a temperatura e oxigênio dissolvido exercem influencia no teor de mercúrio entre os mesmos. A condutividade apresentou uma correlação multipla.

CONCLUSÕES:
Os peixes dos lagos do meio rio Solimões apresentaram teor de mercúrio superior aos peixes dos lagos do baixo rio Negro. Este fato é explicado porque o rio Negro não apresenta uma biomassa exuberante de macrófitas aquáticas ao contrário da bacia do rio Solimões. Como nas macrófitas aquáticas concentra-se uma rica fauna de invertebrados e estas mesmas macrófitas servem como abrigo e área de alimentação para peixes de pequeno porte e em fases iniciais de desenvolvimento, caso de peixes de grande porte, este biótopo é visitado por muitos predadores, os quais assimilam o mercúrio transportado por estes elos entre os produtores e os consumidores. O acúmulo do mercúrio é altamente dependente do habito alimentar das espécies e também do seu comportamento alimentar. Espécies que mantiveram dieta mais ou menos homogênea ao longo de seu desenvolvimento ontogenético tendem a apresentar diferenças na bioacumulação do mercúrio. O comportamento do mercúrio na biomassa dos peixes reflete as oscilações que ocorrem nos peixes em relação à sua dieta alimentar. Novamente fica evidenciado que o nível trófico ocupado pelas espécies influencia grandemente na concentração do mercúrio nos peixes.

Instituição de fomento: CNPq, PIATAM



Palavras-chave:  Bioacumulação de Hg em peixes, Biomagnificação de Hg Amazônia central, Hg em peixes de lagos

E-mail para contato: beltranpedreros@hotmail.com