60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 7. Educação - 4. Educação Básica

FRACASSO ESCOLAR: UMA ANÁLISE ETNOGRÁFICA DA TAREFA ESCOLAR COMO MEDIADORA DA INTERAÇÃO ENTRE PROFESSORA E ALUNOS – A MUDANÇA DE LUGAR

Tatiana Bezerra Fagundes2, 1
Carmen Lúcia Guimarães de Mattos2, 1
Paula Almeida de Castro2, 1

1. UERJ
2. Núcleo de Etnografia em Educação (NetEdu)


INTRODUÇÃO:
Neste pôster apresentaremos os resultados da pesquisa Imagens Etnográficas da "Inclusão Escolar: o fracasso escolar na perspectiva do aluno" (MATTOS, 2005) que se orienta pela abordagem etnográfica de pesquisa (MATTOS, 2002). Nesta pesquisa privilegia-se a perspectiva dos alunos na tentativa de compreender como eles entendem o processo que os levam ao fracasso escolar, mediante a interação que desenvolvem com a professora, com os outros estudantes, com as tarefas em sala de aula, com as diretoras, com os demais atores escolares e com a escola de um modo geral. Após três meses de observações, que ocorreram nos dois últimos bimestres de 2006 em duas salas de aula do primeiro segmento do ensino fundamental, evidenciou-se que a tarefa escolar é uma categoria central para se compreender o fracasso escolar. A partir dela definia-se a relação entre professora e alunos e alunos e alunos revelando o estilo de aula de cada professora para que a tarefa fosse cumprida e trouxe consigo outras categorias que também nos auxiliaram no entendimento do fracasso escolar iminente aos alunos das turmas estudadas. Elegemos a categoria “mudança de lugar”, manifesta em uma das turmas, para apresentar neste trabalho.

METODOLOGIA:
A abordagem etnográfica subsidiou a coleta e análise dos dados desta pesquisa. A partir da descrição densa (GEERTZ, 1989) possibilitada pela observação participante, da microetnografia de sala de aula (ERICKSON, 1971), do senso questionador do etnógrafo – princípio básico da etnografia – (MATTOS, 2002) e das hipóteses progressivas (HAMMERSLEY; ATKINSON, 1983) procedemos, concomitante e dialeticamente, ao levantamento e análise indutiva dos dados (MATTOS, 2002). Durante os dois últimos bimestres de 2006 acompanhamos duas classes de progressão de um Centro Integrado de Ensino Público (CIEP) no Rio de Janeiro. Após três meses de observação em sala de aula, assistimos as gravações das turmas que, aliadas as anotações de campo e as entrevistas feitas com alunos de uma das turmas, revelaram a tarefa escolar como principal categoria para se compreender o fracasso escolar naquelas turmas e trouxe a tona à mudança de lugar da professora como prática de sala de aula para dar conta da feitura da tarefa pelos alunos.

RESULTADOS:
A partir das observações e processo de análise desta pesquisa foi possível perceber que a mudança de lugar da professora era uma forma eleita por ela para desenvolver a aula e verificar a tarefa dos alunos. Em um dia de aula, por exemplo, na parte da tarde, a professora mudou de lugar onze vezes. Com esta mudança percebeu-se que um tempo expressivo da aula era ocupado, pois entre um(a) aluno(a) e outro(a) existia um percurso, mais ou menos definido que demandava um certo tempo. Percebeu-se ainda que a professora gastava mais tempo em todo processo que envolvia a mudança de lugar do que assistindo o aluno e, enquanto ela o fazia os demais alunos movimentavam-se pela sala, conversavam com os colegas, faziam outro tipo de atividade que não a realização de sua tarefa. A assistência da professora se restringia à verificação do caderno. Se a tarefa verificada estava sendo feita, ela corrigia e pedia para o aluno terminá-la, se por outro lado, a tarefa não estava sendo realizada, a professora chamava à atenção o aluno, ordenava que ele a fizesse e mudava de lugar. Essa mudança, contudo, era feita sem que a professora procurasse saber os motivos pelos quais os alunos não realizavam as suas tarefas.

CONCLUSÕES:
A mudança de lugar da professora fazia parte da rotina pedagógica da turma estudada. Esta mudança foi a maneira escolhida por ela para dar aula ao mesmo tempo em que assistia os seus alunos. A dinâmica que envolvia a mudança de lugar criava um ambiente onde os alunos passavam mais tempo envoltos em outros afazeres que não com o cumprimento do seu dever e, fazia com que a professora, por não se conformar com tal situação, utilizasse uma parte significativa do tempo individual com o aluno chamando à atenção os demais à necessidade de realizar a tarefa. Essa circunstância demanda mudanças radicais na dinâmica de realização da tarefa e no estilo de aula da professora primando pelo aprendizado efetivo dos alunos que pode estar sendo prejudicado nesse contexto. Tal fato pode ter como conseqüência o fracasso do aluno na escola culminando na sua saída precoce do sistema de educação formal ou, permitindo a sua presença sem que nada seja aprendido. O conteúdo escolar que o aluno deve alcançar nesse grau do ensino será cobrado, se não de imediato, em algum outro momento do próprio regime escolar.

Instituição de fomento: PIBIC / CNPq - Sub-Reitoria de Pós Graduação e Pesquisa UERJ



Palavras-chave:  Fracasso Escolar, Tarefa Escolar, Mudança de Lugar

E-mail para contato: tatianabfagundes@hotmail.com