60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 7. Educação - 5. Educação de Adultos

ESCOLA, SABERES E COTIDIANO DA EJA: TENSÃO ENTRE O PROCESSO DE REGULAÇÃO E EMANCIPAÇÃO

Sônia Maria Alves de Oliveira Reis1, 2, 3
Carmem Lúcia Eiterer4, 5

1. Professora da Universidade do Estado da Bahia – UNEB.
2. Mestranda -FAE/UFMG
3. Bolsista da FAPESB
4. Mestre e Doutora em Educação pela USP.
5. Professora Orientadora do Curso de Pós-Graduação em Educação -FAE/UFMG.


INTRODUÇÃO:
A Educação Popular sempre esteve preocupada em fazer uma crítica à Educação vigente buscando estabelecer outros processos para que os “sujeitos das classes populares não fossem compreendidos como beneficiários tardios de um serviço, mas como protagonistas emergentes de um processo”, Brandão (2002, p.142). É justo reconhecermos que existe entre nós toda uma trajetória de idéias, de ideários e de projetos a respeito da Educação Popular e da EJA. Nesse sentido, questionamos: Que faces da Educação Popular estão presentes na experiência, nas práticas educativas e no cotidiano da EJA? Quais são os teóricos que estão repensando a Educação Popular na América Latina e no Brasil? Quais são os elementos da Educação Popular que estão sendo ressignificados na experiência de EJA no município de Guanambi, interior do Estado da Bahia? Como se configura/constitui a tensão entre as energias emancipatórias e regulatórias ao se “converter” a EJA (educação popular) em educação escolarizada? Estas são algumas das preocupações que perpassam a reflexão desta pesquisa que objetiva conhecer os significados e os sentidos atribuídos aos conhecimentos escolares, pelos educandos jovens e adultos, em continuidade ou rupturas de estudos no ensino regular noturno, a fim de analisar se há ou não tensão entre os processos de regulação ou de emancipação nas práticas pedagógicas na Educação de Jovens e Adultos.

METODOLOGIA:
Esta investigação é de cunho qualitativo, devido às características das questões e objetivos que norteiam o processo de investigação. Do ponto de vista técnico-metodológico, estamos utilizando diário de campo constituído a partir da observação nos espaços educativos e entrevistas semi-estruturadas como instrumento de coleta de dados; descrição do cotidiano, das práticas, sujeitos e experiências de educação de pessoas jovens e adultas do Movimento de Educação de Base de Iniciativa Católica - MEBIC e de uma escola da rede pública que desenvolva uma ação pedagógica mais efetivamente caracterizada com EJA, a fim de analisar os sentidos e os significados atribuídos pelos jovens e adultos egressos do MEBIC à escola e ao saber que nela é mediado.

RESULTADOS:
Os resultados das leituras de textos, artigos e publicações mais recentes na área da EJA que nos auxiliam teoricamente nas discussões desse estudo, indicam que o paradigma político-pedagógico que orienta a EJA – tem seu nascedouro em propostas oriundas dos movimentos populares, propostas essas que não se pautaram pela escolarização. Assim, creio que é possível ver, na EJA, uma tensão latente. A matriz orientadora traz consigo elementos “libertários” e pouco expostos a normatizações e regulamentações, enquanto a proposição de escolarização vai ser necessariamente reguladora. Identificamos então que “[...] quando se focalizam os processos de escolarização de jovens e adultos, o cânone da escola regular, com seus tempos e espaços rigidamente delimitados, imediatamente se apresenta como problemático” (DI PIERRO; JÓIA; RIBEIRO 2001, p.58). Nesse sentido, a perspectiva orientadora da EJA implementada pela escola regular veio da educação não formal ligada aos movimentos populares. Portanto, em princípio, mais ligada a tendências “emancipatórias” tanto no ideário quanto na estruturação. Entretanto, ao se transformar em uma política pública que tem em seu cerne um processo de escolarização, a EJA passa, necessariamente, a ser regrada e normatizada.

CONCLUSÕES:
Na medida em que a Educação de Jovens e Adultos passa a ser oferecida em Escolas, toda a carga regulatória da escola passa a fazer parte da EJA. Nesse contexto, emerge uma indagação “queremos uma EJA emancipatória, dos jovens e adultos populares trabalhadores ou será a melhor alternativa enquadrá-la num sistema educacional que tende a ser regulador”? É preciso que estejamos atentos ao risco de que o desenvolvimento dos processos educativos no âmbito do sistema escolar tenda mais à regulação que à emancipação. A EJA deve valer-se de sua história de construção na fronteira entre os movimentos e as organizações sociais, de um lado, e os sistemas educativos, de outro, inspirando-se nas experiências emancipatórias, de modo a revitalizar as estruturas e a dinâmica do espaço escolar. Esse caráter emancipador esteve presente na formação dos educadores engajados nos movimentos de educação popular desde os anos 1960, e deve ser tomado como referência, ainda que se considere que, no momento atual, nem todos os sujeitos que buscam a EJA tenham as mesmas motivações ou estejam engajados em projetos coletivos.

Instituição de fomento: FAPESB



Palavras-chave:  educação de jovens e adultos, regulação, emancipação

E-mail para contato: smaoliveira@uneb.br