60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 6. Sociologia Urbana

MEMÓRIAS DO SUBTERRÂNEO: MUITAS MEMÓRIAS, OUTRAS HISTÓRIAS LUDOVICENSES

Conceição de Maria Silva Câmara1
Cidinalva Silva Câmara2
Wheriston Silva Neris2

1. Universidede Federal do Maranhão- Departamento de Serviço Social
2. Universidede Federal do Maranhão-Programa de Pós-Graduação em Ciencias Sociais


INTRODUÇÃO:
Pensar a cidade de São Luis/MA sob a ótica da memória, sob o prisma da multiplicidade dos significados atribuídos à sua própria história, supõe compreender a lógica das prioridades sobre o reconhecimento, uso e valorização das memórias sociais de diferentes grupos ao longo do tempo. A valorização de outras histórias, das muitas memórias de uma cidade plural, corresponde à tentativa de estabelecer diálogos entre representações mais valorizadas no teatro das memórias sociais e outras, vilipendiadas, esquecidas, reprimidas. O projeto de resgate destas memórias, também parciais, significa a valorização de outras perspectivas sobre o imaginário urbano, permitindo novas maneiras de contar, distintas formas de dizer e, quem sabe, fazer. Assim são também as memórias do ex-internos do Asilo Colônias do Bom fim – antigo leprosário da cidade de São Luis criado em 1937. Mas, qual o significado dessas memórias no panteão de uma cidade patrimônio cultural da humanidade? O objetivo desta pesquisa consiste exatamente em refletir sobre essas memórias e suas significações para a história da capital maranhense.

METODOLOGIA:
Este trabalho foi construído através do recurso aos instrumentos metodológicos fornecidos pela História Oral (MARIETA MORAES) e Memória de Velhos (ECLEA BOSI) e memórias sociais (POLLAK, CORREA). Recompondo as trajetórias individuais (BOURDIEU) de indivíduos segregados do espaço urbano, que foram excluídos para a “segurança da cidade”, e ainda hoje estigmatizados pela sua condição de (ex)leprosos (a terminologia hoje é hansenianos) construímos novas formas de contar as peripécias civilizacionais da cidade de São Luis. Para tanto, procuramos relacionar o farto acervo de informações resultantes das entrevistas, a análises sócio-históricas realizadas sobre a história da cidade no século XX

RESULTADOS:
Nos dias atuais, em que pese a existência de vários organismos estatais e privados empenhados na “promoção” e “revitalização“ dos acontecimentos passados dos quais a Ilha e seu povo se orgulhem, eventos que falem de sua capacidade de conviver com as diferenças e componentes da recentemente decantada “maranhensidade”, não se encontram indicação de que seja pretendido rememorar episódios que possam evidenciar suas atitudes de intolerância e exclusão dos “diferentes”. Afinal, lembrar da expulsão dos leprosos do perímetro urbano de São Luís e seu isolamento na Ponta do Bonfim é lembrar que esses fatos também fazem parte da história da cidade, fazem parte da memória do povo ludovicense. Destarte, dois são os resultados humanísticos dessa pesquisa. O primeiro deles é que memória sempre é construção e, com isso, que a história da cidade é uma entre tantas outras possíveis. A segunda, é que os egressos do Bonfim, como agentes sociais, que fizeram e ainda fazem parte da história desta cidade, têm o direito a vivenciar sua condição de cidadãos produtores de suas próprias histórias. Ademais com a sua história eles nos lembrarão que a vida sempre persiste, a isso chamamos de vitalismo.

CONCLUSÕES:
Levando em conta que a memória não é única, que ela entra em “disputas” e que o silenciamento do passado não resulta, necessariamente, em esquecimento, faz-se necessário incentivar a valorização de memórias e representações de indivíduos humilhados no teatro social ludovicense e permitir que outras memórias venham compor a tessitura da história de nossa cidade.



Palavras-chave:  Memória, História, Esquecimento

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