60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação

O GRUPO ESCOLAR DR. CARDOSO DE ALMEIDA E O PROJETO REPUBLICANO DE EXPANSÃO DO ENSINO (1896-1920)

Lidiany Cristina de Oliveira Godoi1
José Luís Sanfelice1, 2

1. Faculdade de Educação - UNICAMP
2. Prof. Dr. / Orientador


INTRODUÇÃO:
A criação dos grupos escolares, através da Primeira Reforma da Instrução Pública (1892-1896) levou o Estado de São Paulo a assumir a liderança no campo educacional, tornando-se modelo para os demais estados da federação. Estas instituições tornaram-se importantes centros de difusão de cultura (SOUZA, 1998 b). Pela primeira vez a escola primária se torna uma instituição específica, com edifício próprio construído especialmente para ela, considerando-se que, no período que compreende o Império, as aulas funcionavam geralmente em paróquias, em cômodos alugados ou na casa dos mestres-escola (Souza, 1998). Os primeiros edifícios projetados para os grupos escolares apresentaram uma arquitetura suntuosa, para propagar e divulgar as ações dos governos estaduais. Na cidade de Botucatu, interior de São Paulo, O Grupo Escolar Dr. Cardoso de Almeida, projetado em 1896 pelo arquiteto Victor Dubrugas, representou para o município e região um verdadeiro marco institucional e arquitetônico, sendo tombado como patrimônio histórico e cultural em 2001, pelo CONDEPHAAT. Desse modo, a relevância deste trabalho consiste em compreender as mudanças que se processaram na arquitetura original do edifício que abrigou o Grupo Escolar, uma vez que não existem estudos sistematizados sobre esta temática.

METODOLOGIA:
A pesquisa foi realizada através de entrevistas com professores e historiadores da cidade, análise de fotografias, análise da planta original do Grupo Escolar e análise de notas nos jornais “O Botucatuense” e o “Correio de Botucatu”, estes últimos no período que compreende o processo de construção do edifício (1896) até as duas primeiras décadas do século XX. As entrevistas possibilitaram compreender a dimensão simbólica do edifício para a cidade e possibilitou o acesso a fotografias inéditas do mesmo. Foram comparadas as notas nos jornais que retratavam os espaços internos e a parte externa do edifício à planta do projeto original, com o objetivo de verificar alterações ou não durante o processo de construção. Com a análise de fotografias pôde-se verificar as mudanças ocorridas no decorrer dos anos: reformas, restaurações, ampliação ou diminuição do espaço e mudanças na fachada do edifício

RESULTADOS:
O arquiteto Victor Dubrugas seguiu as diretrizes da Primeira Reforma da Instrução Pública Paulista (1892-1896) adotando um projeto-tipo (edifícios-padrão) para o Grupo Escolar de Botucatu: disposição simétrica, oito salas de aula, galpão para o recreio, salas de administração, biblioteca e sanitários isolados. A singularidade arquitetônica se expressa através de sua fachada, elaborada em estilo neo-gótico e neo-românico, com mansardas no telhado e o desenho de uma flor-de-liz na entrada. No início do século XX, mudanças internas foram realizadas para adaptar o edifício às novas necessidades: a biblioteca cedeu lugar a mais uma sala de aula e foram instalados corrimões nas escadas. Em 1918, um espaço destinado à administração foi adaptado para receber um gabinete médico-dentário, de acordo com as concepções higienistas da época. Na parte externa foi erguida uma grade de ferro. Nos inúmeros reparos, muito da arquitetura original foi modificada, como as telhas francesas, as mansardas e os corredores de vidro, estes últimos, encobertos por tijolos. Nos anos noventa do século XX, o prédio foi restaurado, sendo-lhe restituída a cor externa original e os corredores de vidro. Para a ampliação de salas de aula foi construído um edifício nos fundos do terreno, onde havia o antigo galpão.

CONCLUSÕES:
Embora a arquitetura se constituísse como um elemento importante no contexto do projeto republicano de expansão do ensino, expresso pela Primeira Reforma da Instrução Pública Paulista (1892-1896), a necessidade de adaptações pontuais levaram as constantes mudanças na arquitetura do Grupo Escolar Dr. Cardoso de Almeida, em sua maioria, sem planejamento. A restauração ocorrida nos anos noventa do século XX modificou em parte este aspecto, restituindo alguns elementos de sua arquitetura original. O processo de tombamento, iniciado em 2001, constitui-se como um fator extremamente importante para a preservação do edifício enquanto patrimônio histórico e cultural da cidade de Botucatu

Instituição de fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP.



Palavras-chave:  Arquitetura Escolar, Grupos Escolares, Botucatu

E-mail para contato: Lidiany.godoi@gmail.com