60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 7. Educação - 3. Educação Ambiental

DAS REPRESENTAÇÕES ÀS PRÁTICAS SOCIAIS: A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA COMUNIDADE DO ENTORNO DA MATA SANTA GENEBRA (CAMPINAS-SP)

Sheila Daniela Medeiros dos Santos1
Sidnei José dos Santos1

1. Universidade São Marcos - UNIMARCO


INTRODUÇÃO:
Atualmente, a educação ambiental no Brasil vem construindo sua história nos debates políticos, científicos e epistemológicos de modo mais intenso, apresentando perspectivas significativas no que diz respeito à sua prática e produção teórica. Esse movimento de conquista de legitimidade tem impulsionado a realização de ações de conscientização não apenas em escolas e universidades, mas também em espaços de educação não-formal, tais como: ONG’s, sindicatos, reservas florestais, igrejas, associações de moradores de bairro... Nesse contexto, como as pessoas constroem no imaginário individual e coletivo representações sociais em relação ao conceito de meio ambiente, ao impacto das transformações provocadas pelo homem e à construção de percursos possíveis na busca de sua preservação, o presente trabalho procurou analisar as representações e as práticas sociais de uma comunidade adjacente a uma reserva urbana, no que diz respeito às questões ambientais. Ao trazer à tona este aspecto, o trabalho permite desmascarar os objetivos de natureza ideológica, próprios de uma sociedade capitalista, que impedem o entendimento da educação ambiental como instrumento de reivindicação de direitos sociais e que reafirmam as profundas dicotomias herdadas do antropocentrismo e do etnocentrismo.

METODOLOGIA:
Para efetivar esse estudo, foram realizadas visitas semanais, durante um ano, na segunda maior floresta urbana do Brasil, a Mata Santa Genebra, localizada no Distrito de Barão Geraldo, ao norte do município de Campinas. Essa reserva é administrada pela Fundação José Pedro de Oliveira, que também é o órgão responsável em fazer a interlocução com a comunidade, incluindo a científica, possibilitando a realização de atividades de pesquisa, educação e conservação ambiental. As observações das situações recorrentes e/ou peculiares, tais como: o projeto “Ecoférias”, o projeto “Crianças do Entorno”, as visitas monitoradas abertas à comunidade, as reuniões dos moradores do bairro, entre outras, foram registradas em diários de campo. Além disso, também fizeram parte do material empírico: fotos, reportagens de jornais locais que noticiavam acontecimentos que envolviam a Mata; entrevistas com roteiro semi-estruturado; e conversas informais com os moradores do bairro, com os estudantes e com os funcionários da fundação (biólogos, pesquisadores e estágiários-monitores). Nesse momento, os pressupostos teórico-metodológicos de Castoriadis e Reigota, permitiram que os dados coletados para essa pesquisa, do tipo qualitativa, fossem devidamente organizados e se tornassem objeto de análise.

RESULTADOS:
Após promover o confronto entre o material empírico e o referencial teórico, foi possível notar fundamentalmente dois aspectos. O primeiro refere-se ao fato da comunidade do entorno da Mata Santa Genebra estar ciente da pertinência da educação ambiental e do papel/lugar da responsabilidade crítica de cada um, enquanto ser humano, para enfrentar as condições adversas que atualmente fazem parte da cotidianidade da reserva: os riscos de incêndio, as invasões, a especulação imobiliária, a deposição de entulho, a erosão do solo, o assoreamento dos brejos, os efeitos de borda, a contaminação da água por esgoto doméstico, o uso de agrotóxicos, a caça e a presença de animais domésticos e de criminosos. E o outro aspecto refere-se ao fato de que existe uma dissociação entre as representações sociais dessa comunidade e a prática efetiva de ações que contribuam para o processo de recuperação, manejo e conservação da reserva. Isso ocorre, não porque a educação ambiental deixa de oferecer sólidos elementos para o diálogo que se instaura entre as discussões teóricas e éticas e os conhecimentos populares, mas sim devido às intervenções políticas que visam os interesses de uma classe social privilegiada economicamente e que afirmam-se sob a hegemonia das concepções neoliberais.

CONCLUSÕES:
Nos últimos séculos, vivenciamos profundas transformações nas condições de existência, nas relações sociais, econômicas, políticas e culturais. Em particular presenciamos a industrialização, a automação, a robótica, a informatização, a globalização, a biotecnologia, a nanotecnologia. Nesse cenário, os pilares vigentes constitutivos do modo de produção capitalista se impõem como valor maior, transformando a autonomia do homem em tirania das possibilidades e promovendo a opressão sob o disfarce da emancipação. Como os avanços científicos e tecnológicos, os interesses econômicos e as opções políticas de uma camada privilegiada da população estão intimamente relacionados com a problemática ambiental, faz-se necessário compreender a concepção de meio ambiente e de educação ambiental que sustentam as práticas sociais. Desse modo, ao problematizar os embates que se instauram, a partir de uma proposta com consistência teórica e metodológica com vistas a uma ação transformadora, será possível ao ser humano perceber que somente uma participação efetiva, dialógica, comprometida política e epistemologicamente com a educação ambiental, poderá instrumentalizá-lo para exigir do Estado/da sociedade o reconhecimento devido de seus direitos fundamentais à concretização da cidadania.



Palavras-chave:  educação ambiental, representações sociais, comunidade

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